BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Depois de muitas semanas de suspense sobre quem ajudaria a decidir os rumos do país, o jovem economista Martín Guzmán, 37, foi confirmado pelo presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, para assumir a pasta mais importante de sua gestão, a da Economia.
Guzmán foi apresentado pelo presidente eleito junto ao resto do ministério no fim da tarde desta sexta-feira (6), em Buenos Aires. O novo governo, eleito em outubro, toma posse na terça-feira (10).
Apadrinhado por Matías Kulfas, que comandou a equipe econômica da chapa kirchnerista durante a campanha e assumirá o ministério de Desenvolvimento Produtivo, Guzmán estudou na Universidade de La Plata e fez doutorado em Brown, uma das universidades de elite americanas.
Ele vive atualmente em Nova York, onde construiu uma carreira depois de trabalhar, na Universidade Columbia, com o Nobel de Economia Joseph Stiglitz -considerado uma referência pela ex-presidente Cristina Kirchner, eleita vice de Fernández.
É especialista em macroeconomia e crise de dívida, o que virá bem a calhar, uma vez que deve caber a ele a negociação dos prazos da dívida da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"É alguém a quem consultei muito por conta da dívida", afirmou Fernández. "Vai voltar de Nova York a Buenos Aires para cuidar desse conflito da dívida, que vai nos ajudar a tirar o país da prostração em que está."
Numa rede social, o presidente Jair Bolsonaro reagiu ao anúncio, escrevendo que o novo ministro da economia "recomenda o livro da Laura Carvalho, economista do PSOL na última campanha".
O presidente eleito disse que não pretende congelar preços para lidar com a situação econômica do país. "Há outros meios de acabar com o sofrimento que é a inflação."
De acordo com Fernández, haverá anúncios de medidas econômicas de ajuda aos aposentados e aos mais pobres, "apesar da situação penosa em que estamos".
Além de Guzmán e Kulfas, o presidente eleito confirmou o nome de Santiago Cafiero, filho e neto de peronistas históricos, como chefe de gabinete.
A equipe será composta ainda por Miguel Ángel Pesce (Banco Central), Ginés González García (Saúde) e Agustín Rossi (Defesa).
Felipe Solá, que foi governador da província de Buenos Aires (2002-2007), comandará o Ministério de Relações Exteriores, como havia sido anunciado na quinta-feira.
O novo governo anunciou a criação de um ministério da Mulher, Gênero e Diversidade, que ficará a cargo de Elizabeth Gómez Alcorta, uma defensora dos direitos humanos.
Fernández anunciou sua ex-mulher, Vilma Ibarra, para ser secretária legal e técnica, um cargo próximo do gabinete. Advogada e procuradora, ela é irmã do ex-chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Aníbal Ibarra.
Mercedes Marcó del Pont, ex-diretora do Banco Central durante o governo de Cristina Kirchner, será responsável pela Afip (equivalente à Receita Federal na Argentina).
Sobre a Justiça, Fernández disse que "há uma crise imensa de credibilidade". Para isso, escolheu a advogada Marcela Losardo, que trabalha com o presidente eleito há mais de duas décadas.
O gabinete anunciado nesta sexta dobra de tamanho em relação ao enxugamento feito pelo atual presidente, Mauricio Macri. As pastas passam de 10 para 20, com a maioria dos titulares sendo ligada aos dois períodos do kirchnerismo, nas gestões de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015).
Há nove mulheres entre as escolhidas. No final da gestão Macri, só havia duas.
Alberto Fernández cometeu uma gafe ao começar a apresentação do gabinete. "Sei de sua qualidade moral e da hombridade [referindo-se ao gabinete], a qualidade técnica de cada um dos que me acompanham. A hombridade é só dos homens que me acompanham", disse ele.
Dois nomes do círculo mais próximo da vice-presidente eleita também foram confirmados: o advogado e ex-deputado Eduardo "Wado" de Pedro, como ministro do Interior, e o cineasta Tristán Bauer, que será o titular da pasta da cultura. "Para mim a cultura é muito importante, precisamos do alimento para o corpo e a cultura para alimentar o espírito", disse Fernández.
Durante as apresentações da equipe, o presidente eleito fez críticas ao governo de Mauricio Macri, dizendo que "queria ter herdado o país de que o presidente falou ontem em seu balanço".
"O que vou receber está com muitos problemas. É um país que inexplicavelmente começou a fazer dívidas, dívidas que não poderíamos pagar. Está claro que Macri e eu vivemos em países diferentes."