O presidente eleito da Argentina, o peronista Alberto Fernández, será o anfitrião do segundo encontro do Grupo de Puebla, uma reunião de líderes e representantes de agrupações e partidos de esquerda, nos próximos dias 8, 9 e 10 de novembro, em Buenos Aires. Estão na lista de convidados os ex-mandatários, Dilma Rousseff, José "Pepe" Mujica (Uruguai), José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Ernesto Samper (Colômbia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai).
Entre as outras lideranças, estão Cuauhtemóc Cárdenas, fundador do mais tradicional partido de esquerda do México (o PRD) e filho do célebre Lázaro Cárdenas (1895-1970), Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, e o chileno Marco Enríquez-Ominami, ex-candidato a presidente e um dos fundadores do Grupo de Puebla.
O encontro não contará com representantes de Cuba e da Venezuela, justamente porque o Grupo de Puebla deseja posicionar-se como alternativa ao Foro de São Paulo — com representantes de uma esquerda mais moderada. O primeiro encontro dessa nova aliança foi realizado em julho, na cidade de Puebla, no México, com a intenção de "abrir um espaço de reflexão e de intercâmbio político na América Latina", segundo seu documento de fundação, que ainda fala em formular uma proposta progressista para "conter o avanço da direita conservadora".
A equipe de transição argentina confirma que o país deve tomar uma atitude diferente em relação à Venezuela após a posse de Fernández, em 10 de dezembro. Será mais pró-diálogo e anti-sanções e não reconhecerá o líder opositor, Juan Guaidó, como presidente interino do país.
Enríquez-Ominami diz que o grupo tem a intenção de "fazer com que se respeitem a soberania popular e a autodeterminação dos povos". Nesse sentido, o chileno afirma que o encontro em Buenos Aires ocorre num bom momento porque poderá discutir os distúrbios e as eleições recentes na América Latina.
Sobre a Bolívia, por exemplo, o chileno defende que se reconheça que Evo Morales foi eleito legalmente para um novo mandato, apesar do resultado rejeitado pela oposição. Sobre o Equador, segundo ele, "é necessário que se respeite o Estado de Direito", em relação ao diálogo com os indígenas que se rebelaram contra políticas de ajuste do governo de Lenín Moreno.
Enríquez-Ominami acredita ainda que, em meio aos protestos populares no Chile, é preciso pedir ao presidente de centro-direita, Sebastián Piñera, que convoque uma nova Assembleia Constituinte para substituir a Carta em vigor, que é da época da ditadura militar (1973-1990).
— A promessa dos projetos neoliberais que chegaram ao poder na região nos últimos tempos era apenas a de chegar mais rápido aos lugares. Nós dizemos que queremos chegar mais longe — afirmou.
Nesta segunda-feira (4), Alberto Fernández se encontra com o mandatário mexicano, Andrés Manuel López Obrador, com quem já se reuniu durante a campanha eleitoral. Ambos dizem ter coincidências com relação ao modo como pensam sobre a Venezuela — uma posição contrária à do Grupo de Lima e mais próxima à do Grupo de Contato europeu, ou seja, mais pró-diálogo e não intervencionista.
Na agenda do encontro, além do comércio bilateral, os dois falarão sobre a aliança do Grupo de Puebla. O presidente mexicano não deve comparecer à reunião, mas haverá representantes de seu partido, o Morena.
México e Argentina já mostraram a intenção de formar um novo alinhamento de países de esquerda moderada, que não entraria em colisão com os EUA (com quem os dois líderes mantêm diálogo).