Botsuana vota nesta quarta-feira em eleições gerais muito disputadas, algo inédito na história deste país considerado uma das democracias mais estáveis do continente africano.
Contrariando os prognósticos, o ex-presidente Ian Khama sacudiu a vida política local, até agora tranquila, ao liderar uma revolta contra seu sucessor, Mokweetsi Masisi, a quem ele mesmo cedeu o cargo.
Um ano depois de ter lhe passado as rédeas do país, Khama abandonou em maio seu Partido Democrático de Botsuana (PDB), acusando Masisi de seguir um viés autoritário.
A disputa adquiriu tamanha proporção que debilitou a posição eleitoral do PDB, que governa desde a independência, em 1966, este país rico em diamantes e elefantes selvagens.
O partido no poder obteve o pior resultado de sua história nas eleições gerais de 2014, abaixo da marca simbólica de 50% dos votos. Sua principal adversária na oposição, a Coalizão pela Mudança Democrática (UDC), espera tirar vantagem na quarta-feira.
"São as eleições mais disputadas a que assistimos", resumiu o analista econômico Keith Jefferies.
"As eleições serão disputadas e a balança pode se inclinar tanto para um lado quanto para o outro", confirmou o analista Peter Fabricius, do Instituto Sul-africano de Estudos de Segurança (ISS).
Ian Khama não poupou esforços para prejudicar seu ex-partido, inclusive pedindo votos publicamente na UDC em várias regiões do país.
Filho do cofundador do PDB e primeiro presidente do país Sertse Khama, o ex-chefe de Estado manteve poderosos aliados e uma influência indiscutível no país.
As divergências entre Ian Khama e Mokgweetsi Masisi apareceram pouco após a transferência de poderes em abril de 2018.
- Maremoto eleitoral -
Khama demitiu-se na ocasião a favor de seu vice, em virtude da Constituição que limita o mandato de seus presidentes a um máximo de dez anos.
Rapidamente, Masisi se libertou da herança de seu antecessor, grande defensor do meio ambiente, especialmente suspendendo a restrição à caça de elefantes selvagens.
Em entrevista à AFP, o presidente em fim de mandato justificou seu distanciamento de Khama explicando que sua política havia prejudicado a imagem do partido.
"O PDB se sairá melhor" sem ele, acrescentou, antecipando "uma ampla vitória, um maremoto eleitoral".
Igualmente seguro de si, o líder da UDC, Duma Boko, antecipou seu êxito e uma alternância no comando do país.
Ao contrário do que se vê em outros países vizinhos, a importância dos desafios não deve ameaçar a estabilidade de Botsuana.
"Aconteça o que acontecer, vou aceitar os resultados", garantiu à AFP Mokgweetsi Masisi.
Mais de 900.000 eleitores estão habilitados a votar em Botsuana, que tem uma população de 2,2 milhões de habitantes. Além do PDB e da UDC, outros dois partidos apresentaram candidatos para os 57 assentos do Parlamento local.
O partido que obtiver o maior número de representantes vai escolher o chefe de Estado. Os resultados serão anunciados antes do próximo fim de semana.
* AFP