Editor-chefe do The Straits Times, de Cingapura, Warren Fernandez, que também preside o Fórum Mundial de Editores, sublinha a importância de unir redações de diferentes países para marcar, no Dia Mundial de Notícias, uma imprensa forte, livre e profissional como sustentáculo da democracia. Para ele, os pilares do jornalismo são liberdade de imprensa, viabilidade do negócio e inovação.
Qual a importância do World News Day em um momento em que campanhas de fake news ganham corpo?
O mundo está mudando rapidamente e se tornando mais complexo. As pessoas precisam de ajuda para acompanhar e compreender essas mudanças. Há também mais notícias falsas. Portanto, o público precisa de ajuda para descobrir o que é real e o que é falso. É isso que os jornalistas de redações profissionais fazem: reportando, interpretando e verificando notícias. E é isso que queremos comemorar no Dia Mundial das Notícias.
O público precisa de ajuda para descobrir o que é real e o que é falso. É isso que os jornalistas das redações profissionais fazem de melhor
WARREN FERNANDEZ
Editor-chefe do The Straits Times
Vivemos uma era com muita informação, mas alguns locais não têm veículos com notícias regionais. Não é contraditório?
Sim, é irônico. O mundo está mais conectado, mas podemos não estar mais bem informados do que antes. O fluxo de informações não é uniforme, com alguns lugares mais bem servidos do que outros. Cobrir notícias também é caro, pois precisa de jornalistas qualificados. E, nos negócios locais, não há audiência suficiente para pagar por essa cobertura noticiosa. É um reflexo da mudança nos modelos de negócios que as redações enfrentam. Sem recursos, as redações não podem fazer o trabalho que precisam em prol do interesse de suas sociedades.
Qual o papel da imprensa quando governos autoritários sufocam o jornalismo?
A mídia é de vital importância. As pessoas precisam saber que podem confiar na mídia para fornecer informações confiáveis e uma variedade de pontos de vista. Essa é a base sobre a qual podem formar suas opiniões. Sem isso, corremos o risco de minar sua credibilidade e, com ela, a confiança nas instituições. Sem credibilidade e confiança, é difícil termos algum acordo sobre os fatos sobre os quais poderemos discutir questões importantes. Uma imprensa robusta é fundamental para o bom funcionamento da democracia.
Como surgiu a ideia do World News Day?
A ideia foi proposta quando realizamos o painel asiático do Fórum Mundial de Editores, em maio. Queríamos um projeto em que pudéssemos trabalhar juntos. Queríamos fazer algo que reunisse e comemorasse o trabalho das redações profissionais. Em junho, fui eleito presidente do órgão e compartilhei a ideia com o Conselho do fórum. O cronograma foi apertado, mas conseguimos reunir mais de 35 redações. Vamos melhorar para o próximo ano. Soubemos que colegas no Canadá começaram isso alguns anos atrás. O projeto deste ano é um passo em frente, com mais de 35 redações de todo o mundo participando. Esperamos juntar mais redações no próximo ano.
De que forma gigantes como Google e Facebook contribuem para o deserto de notícias?
As plataformas tecnológicas absorvem a maior parte da publicidade online, de modo que as redações ficam sem receitas e recursos. Isso dificulta a capacidade de fazer o trabalho jornalístico corretamente. Ultimamente, há algum reconhecimento por parte dessas gigantes da tecnologia de que não é do interesse delas que as redações sejam sufocadas e que não possam funcionar, ou mesmo sobreviver. Então, elas estão vindo oferecer ajuda às redações. Este World News Day é apoiado pela Google News Initiative. Esperamos receber mais ajuda deles e de outras pessoas para garantir o futuro da mídia e das redações.
Quais são os desafios do jornalismo em Cingapura?
Nossos desafios são semelhantes aos de grupos de mídia em outros lugares – ou seja, como garantir os recursos que nos permitam continuar fazendo um bom jornalismo que atenda às necessidades de nosso público. Temos nos movido rapidamente para transformar nossa redação em uma operação multimídia, para atender às necessidades de mudança do público, que consome cada vez mais conteúdo em movimento, em seus celulares. Para isso, precisamos de jornalistas talentosos que possam produzir conteúdo interessante e perspicaz. Esse é um negócio caro, se quisermos servir bem ao nosso público e à sociedade. A mídia enfrenta um triplo desafio – temos de salvaguardar a liberdade da imprensa, mas isso exige que a mídia seja viável financeiramente; precisamos inovar; e abraçar a mudança tecnológica. Todos os três desafios – liberdade de imprensa, viabilidade e inovação – são como três lados de um triângulo equilátero. Você tem de resolvê-los juntos. Esse é o nosso desafio. E o mesmo vale para muitos grupos de mídia em outros lugares