Antonio Rivas assumiu nesta quarta-feira (31) o Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, substituindo Alberto Castiglioni, que pediu demissão da pasta em meio a um escândalo por um suposto acordo secreto com o Brasil sobre a distribuição de energia da hidrelétrica binacional de Itaipu.
Rivas, diplomata com 30 anos de carreira que ocupava o cargo de vice-chanceler, anunciou que irá na sexta-feira a Brasília para uma reunião com representantes do governo de Jair Bolsonaro para cancelar o polêmico acordo energético, que a oposição paraguaia considera desfavorável para os paraguaios.
O novo chanceler disse que o Paraguai solicitou a reunião com as autoridades brasileiras para resolver o impasse e disse que encontrou "uma visão positiva" nos representantes do Itamarati.
O objetivo é invalidar as atas do acordo - que alguns especialistas estimam que vão gerar mais de 200 milhões de dólares em prejuízos para o país vizinho- e instruir os técnicos da distribuidora de energia paraguaia Ande e da Eletrobras para um novo contrato, explicou.
"Queremos corrigir a situação com o Brasil", disse o diplomata.
Bolsonaro se declarou disposto a discutir estas "pequenas" alterações no acordo.
"Nosso relacionamento com o Paraguai é excepcional, excelente. Estamos dispostos a fazer justiça nessa questão de Itaipu Binacional, que lá é importantíssimo no Paraguai e importante para nós. Não é questão de ceder ao Paraguai", avaliou o presidente.
- Ameaça de julgamento político -
Diante da ameaça da abertura de um processo de impeachment do presidente Mario Abdo, a oposição, maioria no Congresso, pediu a saída de Castiglioni, do embaixador paraguaio no Brasil, Hugo Saguier Caballero, do presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande), Alcides Jiménez, e do diretor paraguaio de Itaipu, Alberto Alderete.
Os parlamentares formaram uma comissão bicameral de inquérito para determinar as responsabilidades individuais dos funcionários que participaram das negociações com as autoridades brasileiras.
A crise se deu após a renúncia do ex-presidente da Ande, Pedro Ferreira, que discordou dos termos da ata, datada de maio, mas publicada neste fim de semana.
Novas reportagens publicadas nesta quarta-feira apontam o possível envolvimento do vice-presidente, Hugo Velázquez, nas negociações que teriam prejudicado o Paraguai, alimentaram o debate e as ameaças de julgamento político.
À imprensa, Velázquez negou ter pressionado os negociadores para apagar a cláusula no contrato com a Eletrobras, que permite à Ande negociar a venda de energia paraguaia para o setor privado brasileiro.
Sob o título: "O vice agiu a favor de supostos negócios de Bolsonaro", o jornal Abc publicou nesta quarta-feira que um assessor jurídico de Velázquez realizou um trabalho de intermediação em favor de uma empresa supostamente ligada ao presidente Jair Bolsonaro.
- Tratado desfavorável -
A hidroelétrica Itaipu, construída sobre rio Paraná, que separa o Brasil e o paraguai, produz 14 mil megawatts e é a segunda maior do mundo, atrás da chinesa Três Gargantas.
O Brasil consume 93% da energia de Itaipu e compra o excedente do Paraguai.
A oposição paraguaia questiona a venda dessa energia "a um preço ridículo", disse o parlamentar Ricardo Canese, quer pertence ao partido Frente Guasú (Frente Grande).
Depois de 50 anos, em 2023 os dois países devem rever o tratado de Itaipu, assinado em 1973 pelos ditadores Alfredo Stroessner e Ernesto Geisel.
Um novo tratado envolve a revisão do preço da energia, que sempre foi percebida no Paraguai como desfavorável aos seus interesses.
"O Paraguai deixou de receber 75 bilhões de dólares por não vender a preço de mercado, desde que a usina começou a operar em 1984", garantiu à AFP o cinetista político Miguel Carter, segundo cálculo feito a parti de dados oficiais.
* AFP