Em um vídeo de 32 minutos divulgado na manha desta quinta-feira (29), Iván Márquez, antigo número dois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), anuncia que "se inicia uma nova etapa da luta armada".
— Anunciamos ao mundo que começou a segunda Marquetalia — diz Márquez no vídeo, em referencia ao local em que as Farc nasceram, em 1964.
Ele acrescenta que o grupo não foi vencido ideologicamente, "por isso a luta continua".
— A história registrará em suas páginas que fomos obrigados a retomar as armas.
O ex-líder da guerrilha disse que o desarmamento foi em vão, "em troca de nada", uma vez que o Estado não teria cumprido sua parte do acordo, que era a de proteger os ex-guerrilheiros — já são mais de 150 os assassinados por inimigos da guerrilha desde então.
Márquez ainda anunciou que estão sendo realizados contatos e conversas com o Exército de Libertação Nacional (ELN), que segue ativo e cometendo atentados, para que atuem juntos em algumas operações.
No vídeo, Márquez aparece ao lado de Jesús Santrich, outro ex-líder das Farc. Ambos tem várias coisas em comum: participaram da negociação de paz, em Cuba, passaram a integrar o Congresso colombiano por determinação do acordo de paz, estão foragidos e têm pedido de extradição por tráfico de drogas solicitado pelos Estados Unidos.
Autoridades colombianas localizaram o ponto onde o vídeo foi gravado: a área do Rio Inírida, na região amazônica da Colômbia, próximo às fronteiras com a Venezuela e com o Brasil.
O líder das Farc, hoje convertidas em partido político, Rodrigo "Timotchenko" Londono, disse que não está de acordo com a decisão tomada por esses dissidentes e que seguirá o compromisso de paz com o governo. Ele instou os dissidentes para que não usem o nome das Farc, "porque estas, agora, são forças de paz". Na última semana, Timotchenko esteve com o presidente Iván Duque.
A guerrilha, desmobilizada no fim de 2016 por meio de um acordo de paz aprovado pelo Estado e pelo grupo, tem tido cada vez mais dissidentes que estão se rearmando, alguns no próprio território colombiano, outros do outro lado da fronteira com a Venezuela. As estimativas oficiais são que já existem por volta de 2 mil dissidentes. Em 2016, foram registrados 7 mil integrantes desmobilizados.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tem acolhido estes combatentes, assim como os integrantes do ELN, com quem o atual presidente colombiano, Iván Duque, suspendeu as negociações de paz. Até o acordo de paz ser assinado, mais de 200 mil pessoas tinham sido mortas por conta de atos da guerrilha.