A última tentativa da primeira-ministra britânica, Theresa May, de acabar com meses de bloqueio parlamentar sobre seu polêmico acordo do Brexit parece condenada ao fracasso, depois de decepcionar tanto pró-europeus quanto os chamados eurocéticos.
Fazendo concessões que rompem com alguns dos limites que ela mesmo havia estabelecido ao iniciar as negociações com Bruxelas há dois anos, May propôs na terça-feira (21) aos deputados uma quarta votação do acordo incluindo, entre outras questões, a possibilidade de decidir sobre a convocação de um segundo referendo.
Após o plebiscito de junho de 2016, no qual 52% dos britânicos votaram a favor do Brexit, o Reino Unido deveria ter abandonado a União Europeia (UE) em 29 de março. Mas o Parlamento rejeitou de modo veemente em três ocasiões o Tratado de Retirada que May assinou em novembro com Bruxelas, o que levou a primeira-ministra a aceitar um adiamento "flexível" do Brexit até 31 de outubro, mas o país pode sair antes se conseguir superar o bloqueio político.
A chefe de Governo, que chegou ao poder em 2016 com a missão de liderar a saída britânica da UE, está com os dias contados, no entanto. Descontentes com sua gestão, os deputados de seu próprio partido (Conservador) a obrigaram na semana passada a aceitar que anunciará uma data de renúncia após a quarta votação, independente do resultado.
Tudo isto contribui para um cenário de caos político, que provoca estragos nas empresas britânicas: nesta quarta-feira (22), as autoridades anunciaram a falência do grupo siderúrgico British Steel, que tem 4.500 funcionários e reconheceu passar por graves problemas de liquidez devido, em particular, ao impacto da incerteza do Brexit em sua atividade.
Um ritual doloroso
A "nova" proposta de May, que os críticos consideram "mais do mesmo" com alguns retoques, não convenceu os conservadores que desejam um Brexit "duro", muito menos os trabalhistas favoráveis à manutenção de laços estreitos com a UE.
Assim, na véspera das eleições europeias que o Reino Unido nem deveria participar, a primeira-ministra enfrentará os ataques dos deputados de todos os partidos, na habitual sessão semanal de perguntas na Câmara dos Comuns do Parlamento de Westminster.