Os ucranianos votam, neste domingo (31), no primeiro turno de uma eleição presidencial imprevisível, com um ator sem experiência política como favorito de acordo com as pesquisas, e desafios consideráveis para este país às portas da União Europeia e devastado por um conflito armado.
O levante de Maidan seguido pela anexação da Crimeia pela Rússia e a eclosão de um conflito com os separatistas pró-russos provocaram há cinco anos uma escalada entre Moscou e os Ocidentais.
Eleito em meio a esta crise e valendo-se das aspirações pró-ocidentais dos ucranianos, o presidente Petro Poroshenko corre o risco de ser eliminado já neste primeiro turno. Ele é precedido nas pesquisas por Volodymyr Zelensky, de 41 anos, cuja única experiência de governança se resume à interpretação de um professor de história que de repente se torna presidente em uma série de televisão.
O ator aparece à frente de seus rivais com mais de 25% das intenções de voto, de acordo com as últimas pesquisas. Atrás, Petro Poroshenko aparece emparelhado a uma outra veterana da política ucraniana, a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko.
No total, 39 candidatos disputam a votação que se encerra às 17h00 GMT (14h00 de Brasília), um recorde em 28 anos de independência desta ex-república soviética.
"Eu votei em Zelensky, talvez ele tenha sucesso", disse à AFP Roman, de 52 anos, morador de Lviv, um reduto nacionalista do oeste. "Os outros tiveram sua chance, mas não fizeram nada".
- Voto pela paz -
Irina, uma funcionária de 48 anos, optou por Petro Poroshenko. "Eu conheço bem os seus defeitos, mas Tymoshenko e Zelensky me agradam ainda menos", disse ela. "Votei para que a guerra acabe, eu quero (...) tranquilidade para a Ucrânia".
Em Mariupol, um porto industrial localizado a cerca de 20 quilômetros da linha de frente, Sergei, de 22 anos, votou em uma grande tenda, na esperança de progresso em direção à paz.
"O país está cansado, as pessoas também", disse o soldado ucraniano à AFP, recusando-se a revelar o nome de seu candidato.
A ascensão meteórica de Zelensky foi favorecida pelo desencanto dos eleitores ucranianos com suas elites salpicadas por escândalos de corrupção.
Os críticos de Zelensky questionam sua capacidade de governar o país, apelidando-o de "Zero", enquanto seus defensores o vEem como um novo rosto.
Ele também é acusado por alguns de ser um fantoche do oligarca Igor Kolomoisky, um inimigo de Poroshenko, o que ele nega.
"Sim, eu não tenho experiência", mas "tenho força e energia suficientes", disse Zelensky no início de março, em entrevista à AFP.
Poroshenko, de 53 anos, que iniciou uma série de reformas fundamentais, particularmente no exército e setor de energia, bem como na saúde pública e educação, é, contudo, amplamente criticado por esforços insuficientes na luta contra a corrupção.
"Ainda é preciso um mandato presidencial para que as reformas se tornem irreversíveis", pediu no sábado.
A incansável Tymoshenko, de 58 anos, acusada de populismo, prometeu, por sua vez, reduzir pela metade os preços da gasolina para a população, sob o risco de irritar os credores da Ucrânia.
Os três favoritos são a favor de continuar a aproximação com o Ocidente.
- Sem voto na Rússia -
País de 45 milhões de pessoas às portas da União Europeia, a Ucrânia é hoje um dos Estados mais pobres da Europa.
Enquanto embarcou numa queda de braço com a Rússia e voltou sua atenção para o Ocidente, experimenta atualmente a pior crise desde a sua independência em 1991.
A chegada dos pró-ocidentais ao poder em 2014 foi seguida pela anexação da península da Crimeia pela Rússia e por um conflito com separatistas no leste, que deixou mais de 13.000 mortos.
No sábado, o Exército ucraniano informou a morte de um soldado nessas regiões, a décima sexta baixa desde o início do ano em confrontos vistos na Ucrânia como uma "guerra pela independência" contra os rebeldes pró-russos apoiados militarmente pela Rússia, de acordo com Kiev e os ocidentais.
Mais de 2.300 observadores internacionais devem monitorar o processo de votação.
Decisão inédita, Kiev proibiu a presença de observadores russos nesta eleição e fechou as suas assembleias de voto na Rússia. Pelo menos 2,5 milhões de ucranianos vivem na Rússia, mas poucos devem voltar para votar.
* AFP