O governo venezuelano celebrou, neste domingo (24), como uma "vitória" o bloqueio da ajuda internacional no sábado, depois de graves distúrbios nas fronteiras com a Colômbia e o Brasil.
"Hoje consolidamos a vitória de ontem, amanhã consolidaremos ainda mais esta vitória (...) nenhum um único caminhão com ajuda humanitária passou", declarou o poderoso líder oficialista Diosdado Cabello, em um ato em San Antonio del Táchira (leste), na fronteira com a Colômbia.
Acompanhado por generais leais ao presidente Nicolás Maduro, Cabello, presidente da Assembleia Constituinte que governa o país com poder absoluto, assegurou que o governo está firme em sua posição. "Nós não nos rendemos, nem vamos nos render".
"Ontem nós mostramos a eles, não caímos no que queriam, não demos os mortos que eles queriam, agimos de forma muito inteligente até a vitória", disse.
San Antonio está ligada à cidade colombiana de Cúcuta - principal centro de armazenamento da ajuda enviada pelos Estados Unidos - pela ponte Simón Bolívar, cenário de distúrbios no sábado, onde dois caminhões com alimentos e medicamentos foram queimados.
Mais cedo, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, culpou a oposição liderada por Juan Guaidó pela violência. "Tudo aconteceu na Colômbia", disse ele, acusando "guarimberos (manifestantes da oposição) drogados" de incendiar os veículos.
As populações venezuelanas que fazem fronteira com a Colômbia e o Brasil estavam sob pressão neste domingo, com pequenos focos de confrontos entre manifestantes e forças de segurança em Ureña - também na fronteira com Cúcuta - e San Antonio.
Os militares bloquearam a ponte Simón Bolívar com um caminhão no domingo. Pequenos grupos de jovens encapuzados lançaram pedras contra policiais e militares, que deslocaram um tanque para o local, segundo uma equipe da AFP.
Em Ureña também houve confrontos. Um cordão de soldados bloqueava neste domingo a entrada de uma ponte fronteiriça entre Ureña e Cúcuta, constatou outra equipe da AFP.
Em Santa Elena de Uairén, na fronteira com o Brasil, também houve momentos de tensão. Cerca de vinte venezuelanos em território brasileiro enfrentaram os militares posicionados na fronteira, que responderam com gás lacrimogêneo.
Com os rostos cobertos, os jovens lançaram pedras e outros objetos durante meia hora contra os agentes da Guarda Nacional Bolivariana, que avançou mais do que o costume e se manteve alinhada a cinquenta metros da linha de demarcação fronteiriça.
Do lado brasileiro, na cidade de Pacaraima, os militares brasileiros retiraram os manifestantes e montaram um perímetro de segurança para evitar novos distúrbios.
Com um megafone, o coronel brasileiro Georges Feres Kanaan esclareceu aos presentes que a fronteira não foi fechada, mas que a zona foi desocupada para proteger a integridade das pessoas.
"Estamos observando para que ninguém se machuque, é um enfrentamento entre civis e militares venezuelanos", declarou à AFP o coronel Kanaan.
No sábado, duas pessoas foram mortas e cerca de trinta ficaram feridas em confrontos entre soldados e indígenas.
A ajuda humanitária foi solicitada por Guaidó, líder parlamentar reconhecido como presidente interino da Venezuela por cinquenta países, depois que a maioria legislativa declarou Maduro "usurpador", denunciando a sua reeleição como fraudulenta.
A Venezuela enfrenta a pior crise em sua história recente, com escassez de medicamentos e produtos básicos, e a inflação que obrigou a um êxodo de 2,7 milhões desde 2015, segundo a ONU.
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* AFP