Donald Trump e Xi Jinping declararam neste sábado (1º) uma trégua em sua disputa comercial, que ameaça a economia global, ao final da cúpula do G20 em Buenos Aires.
Os dois presidentes "chegaram a um acordo para acabar com a implementação de novas tarifas", declarou o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, após um jantar de trabalho de duas horas dos líderes e seus assessores.
O vice-ministro do Comércio, Wang Shouwen, disse que Washington renunciava ao aumento tarifário de 10% a 25% sobre 200 bilhões de dólares em produtos importados da China - metade do total - a partir de 1º de janeiro.
Mas a Casa Branca ressaltou que esta decisão foi apenas suspensa e por um período de 90 dias.
Se, neste prazo, os dois países não chegarem a um acordo sobre "mudanças estruturais" em suas relações comerciais, especialmente no que diz respeito às transferências "forçadas" de tecnologia e propriedade intelectual, as "tarifas de 10% vão ser elevadas a 25%", alertou em comunicado a presidência americana.
Washington também indicou que Pequim está empenhado em comprar uma quantidade "ainda não definida, mas muito substancial", de produtos americanos, para reduzir o enorme desequilíbrio comercial entre os dois países.
"É um acordo extraordinário", declarou Trump a bordo do Air Force One. Terá "um impacto extremamente positivo" para os agricultores americanos, acrescentou.
Wang Yi falou, por sua vez, de um resultado em que "todos ganham" nesta reunião.
Com este acordo, Xi evita um aumento da pressão sobre a economia chinesa, que está desacelerando, enquanto Trump pode atenuar os problemas dos estados agrícolas que exportam para a China, particularmente a soja, aponta Hua Po, um consultor político de Pequim.
Mas para Brad Setser, ex-funcionário do Tesouro e atualmente membro do Council on Foreign Relations em Washington, declarou à Bloomberg que "o mais difícil será encontrar as bases para um acordo real que resolva as grandes questões em suspenso".
A escalada da crise entre a China e os Estados Unidos já tem afetado o crescimento global. O FMI estima que no curto prazo o PIB mundial poderá ser reduzido em 0,75% se as tensões comerciais continuarem a aumentar.
O encontro entre Donald Trump e Xi Jinping foi o culminar de uma cúpula do G20 em que as principais economias do mundo conseguiram salvar as aparências com uma declaração conjunta.
Mas a declaração praticamente não trouxe compromissos concretos em questões-chave, como comércio e clima, e, sob pressão dos Estados Unidos, evitou qualquer referência ao protecionismo e reconheceu o desacordo de Washington com o combate às mudanças climáticas.
"Este foi o comunicado final mais fraco já visto em um G20", disse Thomas Bernes, especialista do Centro de Inovação em Governança Internacional e ex-negociador canadense da cúpula. Longe do tom formal da declaração, durante as coletivas de imprensa finais, os líderes deixaram claro suas múltiplas divergências.
"A guerra vai continuar" no leste rebelde da Ucrânia, enquanto as atuais autoridades ucranianas "permanecerem no poder", afirmou assim o presidente russo Vladimir Putin. Já os europeus pediram-lhe para aliviar as tensões decorrentes da apreensão de navios ucranianos no domingo passado pela Marinha russa.
O presidente russo também anunciou que Rússia e Arábia Saudita decidiram prorrogar o corte de sua produção de petróleo, em um contexto de queda dos preços.
A decisão de renovar o acordo foi tomada após uma reunião entre Putin e o príncipe herdeiro saudita, Jamal bin Salman.
Em um tom diferente, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, referindo-se ao assassinato em Istambul do jornalista Jamal Khashoggi, disse que o príncipe herdeiro saudita forneceu ao G20 "uma explicação dificilmente credível" do papel de Riad no crime.
A cúpula também foi marcada por um encontro fracassado, o de Donald Trump e Vladimir Putin, cancelado pelo americano, que invocou a crise na Ucrânia.
* AFP