O presidente americano, Donald Trump, ameaçou nesta quinta-feira (18) fechar a fronteira com o México para impedir a passagem de uma marcha de emigrantes hondurenhos que querem entrar nos Estados Unidos, relançando um de seus temas de campanha prediletos a três semanas das eleições legislativas.
"Devo, nos termos mais firmes, pedir ao México que detenha este avanço e se não conseguir fazê-lo, chamarei os militares e FECHAREI NOSSA FRONTEIRA SUL!" - tuitou o presidente.
A ameaça ocorre a menos de três semanas das eleições legislativas, nas quais os republicanos correm o risco de perder a maioria no Congresso.
A caravana, composta por milhares de pessoas, partiu no sábado de San Pedro Sula, no norte de Honduras.
"Vamos com a vontade de Deus e confiantes nele de que nos dará uma chance de entrar" nos Estados Unidos, disse à AFP José, um agricultor de 28 anos que emigrou porque os quatro dólares diários que ganhava não eram suficientes para sobreviver.
O presidente americano retomou, então, um de seus principais lemas nas eleições de 2016, que o levaram à Casa Branca.
Trump ameaçou enviar os militares para a fronteira com o México, mas não esclareceu como vai mobilizar tal contingente.
Em abril, o presidente anunciou planos para mandar milhares de homens da Guarda Nacional para a fronteira, mas esta medida é da competência dos governadores de cada estado e não do presidente.
"É uma declaração política. Para fechar a fronteira é preciso declarar um estado de emergência ou uma resolução do Congresso. Isto não é algo que se faça do dia para a noite", explicou à AFP Manuel Orozco, diretor do programa de Migração do 'think tank' The Dialogue em Washington.
Na terça-feira, Trump ameaçou pôr fim à ajuda que Washington dá a Honduras, Guatemala e El Salvador se a marcha não for contida.
A ajuda é fundamental para esses países e representa 17% do PIB para El Salvador, 11% no caso da Guatemala e 18% para Honduras.
- 'Vamos ver se o coração deles amolece' -
A caravana composta por cerca de 3.000 pessoas, segundo um abrigo que atende os emigrantes na Guatemla, se aproximava da fronteira com o México.
"A ideia agora é ver até onde podemos chegar hoje", disse José Medina, de 27 anos, apoiado em muletas, após machucar o pé ao pular de um ônibus antes de chegar à Cidade da Guatemala.
Medina era pedreiro na cidade de El Progreso e deixou esposa e três filhos em Honduras.
"Vamos fazer a tentativa, vamos ver se o coração deles amolece e nos deixam entrar", acrescentou.
O embaixador do México na Guatemala, Luis Manuel López Moreno, foi a Tecún Uman, localidade na fronteira com o estado mexicano de Chiapas, para tentar organizar uma travessia ordenada. No entanto, muitos emigrantes desconfiaram da oferta.
O rio Suchiate, que serve de linha divisória entre México e Guatemala, que é usado pelos centro-americanos para cruzar sem documentos, está com o nível mais alto por conta das chuvas, o que torna a travessia perigosa, sobretudo para quem viaja com crianças.
- Reforços na fronteira com o México -
Do outro lado da fronteira, foram mobilizados centenas de policiais com equipamentos antidistúrbios.
O chanceler mexicano, Luis Videgaray, se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e disse que recebeu seu apoio para que o Alto Comissariado das Nações para os Refugiados (ACNUR) ajude a processar os pedidos de refugio dos integrantes da caravana.
"Guterres expressou a plena vontade do sistema das Nações Unidas para colaborar com o México", destacou Videgaray após a reunião.
Segundo Videgaray, os emigrantes "estão literalmente arriscando suas vidas por um futuro melhor" e o México pretende lhes dar um "tratamento humanitário" mas "dentro da lei".
O chanceler do futuro governo do México, Marcelo Ebrard, disse à Rádio Centro que a posição de Trump não o surpreendia e que "era previsível", pois "o processo eleitoral está muito próximo, então ele faz um cálculo político".
Com uma taxa de homicídios de 43 a cada 100.000 habitantes, Honduras é considerado um dos países mais violentos do mundo, principalmente pela ação de gangues e do narcotráfico. Neste contexto, muitos emigrantes tentarão pedir refúgio.
"Cada caso é independente quando se trata de pedir asilo político, o que posso dizer é que há uma correlação muito estreita entre os pontos de emigração e as incidências da violência", explicou Orozco, diretor da The Dialogue em Washington.
* AFP