As ironias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ridicularizou a mulher responsável por acusar seu candidato à Suprema Corte, Brett Kavanaugh, de agressão sexual, atiçaram nesta quarta-feira (3) as tensões sobre o caso que deixa o país apreensivo.
Dois dos três senadores republicanos cujos votos são fundamentais para a aprovação de Kavanaugh no Senado expressaram o seu repúdio à ridicularização de Trump a Christine Blasey Ford durante um ato político no Mississippi.
— Não é momento nem lugar para comentários como esse. Discutir algo tão delicado em um comício não é correto. Desejaria que não tivesse feito isso. É bastante espantoso — declarou Jeff Flake à NBC
A senadora Susan Collins assinalou que as palavras de Trump "foram rasas e cheias de maldade".
O discurso de Trump gerou novas dúvidas sobre o destino de Kavanaugh, enquanto o FBI revisa as acusações de três mulheres que afirmam que o atual juiz de apelações bebia muito e abusou sexualmente de mulheres nos anos 1980.
O FBI tem até sexta-feira (5) para analisar as acusações, pressionado pelos republicanos do Senado e pela Casa Branca, que apontam Kavanaugh para inclinar para o lado conservador as decisões da Suprema Corte.
O líder da maioria republicana do Senado, Mitch McConnell, exigiu uma votação final da indicação "esta semana".
— É hora de deixar para trás este espetáculo vergonhoso — disse.
Na quinta-feira passada (27), Blasey Ford assinalou que Kavanaugh, bêbado, tentou estuprá-la em 1982 durante uma festa. Disse estar absolutamente certa de que ele era o agressor, mas não conseguia lembrar de certos detalhes.
E Trump fez piada disso na terça-feira.
— Tomei uma cerveja — disse Trump, assinalando algo que Blasey Ford se lembrou.
— Como chegou em casa? Não lembro! Como chegou lá? Não lembro! Onde era o local? Não lembro! Há quantos anos isto aconteceu? Não sei! Não sei, não sei e não sei! Mas tomei uma cerveja. Essa é a única coisa que eu lembro — acrescentou o presidente.
Michael Bromwich, advogado de Blasey Ford, denunciou no Twitter o ataque "vil e desalmado" contra sua cliente. Por reações assim "não é de se estranhar" que ela estivesse "aterrorizada" de se apresentar, e que outros sobreviventes de agressão sexual façam o mesmo, disse.
Para o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, as declarações de Trump são "repreensíveis". O presidente deve "uma desculpa imediata" a Blasey Ford, afirmou.
Mas Kellyanne Conway, assessora principal de Trump, defendeu os comentários do presidente e disse que ele se limitou a assinalar "inconsistências objetivas em sua história".
Trump simplesmente estava "declarando fatos", disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, em entrevista coletiva.
Ainda indecisos, Collins, Flake e outra senadora republicana, Lisa Murkowski, têm um forte peso em um Senado onde os republicanos contam com uma apertada maioria (51-49).