O barco humanitário "Lifeline", que aguarda com mais de 200 emigrantes a bordo há uma semana que um porto o acolha, poderá finalmente atracar em Malta, e seis países europeus, entre eles Itália e França, receberão seus ocupantes.
"Acabo de falar por telefone com (o primeiro-ministro maltês, Joseph) Muscat. O barco da ONG Lifeline atracará em Malta", anunciou nesta terça-feira (26) o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, explicando que a Itália acolherá "uma parte" dos emigrantes.
Conte não detalhou, entretanto, quando o navio poderá atracar nem quantos emigrantes seu país acolherá.
Os emigrantes estarão divididos por seis países, "várias dezenas de indivíduos por país" de acolhida, disse mais tarde o presidente francês, Emmanuel Macron, ao fim de sua visita ao Vaticano e seu encontro com o Papa Francisco.
Portugal também confirmou que está disposto a seguir a mesma iniciativa.
Contudo, Macron criticou a ONG alemã Lifeline, que fretou o barco homônimo, por violar "todas as leis" ao ir ao resgate dos emigrantes quando a Guarda Costeira líbia já estava intervindo.
"Não podemos aceitar por muito tempo essa situação", afirmou. "Ao fim, damos espaço aos traficantes de pessoas ao reduzir o custo dos riscos da passagem".
A ONG Lifeline assinalou em um tuíte que não podia confirmar as informações publicadas nos meios de comunicação porque receberam "uma mensagem de Malta às 6h00 PM (13h00 de Brasília) dizendo que não estávamos autorizados a entrar em águas territoriais".
Esses anúncios chegaram depois que Malta advertiu que "autorizará o desembarque somente depois que os Estados-membros (da UE) confirmarem que assumirão sua cota de imigrantes", segundo uma fonte próxima ao governo maltês consultada pela AFP.
- Respeito ao direito internacional -
O "Lifeline" estava proibido até agora de entrar nos portos malteses por ser responsabilidade das autoridades italianas ou líbias.
Seguindo a linha dura representada por seu ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da xenófoba Liga, Conte detalhou que o navio humanitário será "submetido a uma investigação para assegurar a sua nacionalidade e o respeito às regras do direito internacional por parte de sua tripulação".
"E já vão dois! Depois que o 'Aquarius' foi enviado à Espanha, agora a ONG Lifeline quer ir a Malta com este navio fora da lei que será sequestrado", tuitou Salvini.
"Para as mulheres e crianças que realmente fogem da guerra as portas estão abertas, para os demais, não!" - acrescentou.
A Itália parece manter a dura postura defendida desde a chegada ao poder, em 1º de junho, do governo formado pela Liga e pelo Movimento 5 Estrelas (antissistema). As ONGs, "consciente ou inconscientemente, cúmplices dos traficantes" de pessoas estão proibidas de entrar nos portos italianos, havia insistido Salvini na segunda-feira.
Durante uma viagem relâmpago a Trípoli, Salvini adiantou que a Itália irá propor na cúpula europeia de quinta e sexta-feira em Bruxelas a instalação de "centros para receber e identificar" migrantes ao sul da Líbia.
Para o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, que nesta terça-feira se encontrava em Berlim, "o importante é dar uma resposta comum a um desafio comum".
Seu ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, insistiu na ideia que a gestão da migração "é um problema da UE" e, portanto, "a solução vem da UE". As fronteiras do sul da Espanha "não são fronteiras espanholas, são fronteiras da União", disse em entrevista na emissora de televisão Telecino.
- Calor e falta de higiene -
Entretanto, as pessoas a bordo do "Lifeline" continuavam suportando nesta terça-feira o calor e as condições de higiene que não param de piorar há uma semana, quando foram resgatados por este navio que se encontra a 30 milhas náuticas da costa de Malta.
"A bordo não há um banheiro químico, somente três pequenos 'WC' em mau estado que todos utilizam. O comandante do navio abriu seus banheiros, mas somente para as 44 mulheres e as crianças", acrescenta o jornal.
Outros 108 emigrantes puderam, finalmente, pisar em terra firme na madrugada desta terça-feira em Pozzallo, na Sicília, após mais de três dias aguardando em um porta-contêineres dinamarquês, o "Alexander Maersk", que os resgatou na sexta-feira em frente à costa da Líbia.
* AFP