O terceiro filho do príncipe William e da duquesa Kate, nascido nesta segunda-feira (23), certamente receberá todas as regalias e privilégios típicos da monarquia britânica. Mas a criação dos pequenos George, Charlotte e do novo bebê carrega algumas diferenças significativas em relação a gerações anteriores da realeza.
À época do nascimento de George, em 2013, Kate e William anunciaram a contratação de um funcionário extra: uma governanta para funções relacionadas a cuidados com a casa, mas não uma babá adicional, o que foi interpretado pela imprensa como um sinal de que eles participariam mais da criação diária do menino do que pregava a tradição da família real.
A revista Vanity Fair, que traçou um perfil do casal real em 2016, afirmou que Kate e William, que à época moravam no interior da Inglaterra, contavam sim com empregados domésticos — incluindo uma faxineira, seguranças e uma babá, Maria Borrallo, que ensinou espanhol para George desde cedo —, mas não em tempo integral e em número bastante inferior às dezenas de funcionários que costumam, historicamente, cuidar da rotina palaciana e dos cuidados com bebês reais.
O papel mais presente de William na criação dos filhos chegou a gerar debate, uma vez que o príncipe fez aparições públicas e viagens oficiais em número muito inferior ao de seu avô, por exemplo. Na época, ele trabalhava em um cargo "civil", como piloto de ambulância aérea.
Em abril de 2016, William disse à BBC que levava "muito a sério as responsabilidades perante minha família".
— Quero educar meus filhos como pessoas boas, com noções da importância do serviço (ao público), mas, se eu não puder dedicar meu tempo a eles, ficarei preocupado com seu futuro — afirmou.
Quando o príncipe William e seu pai, Charles, eram crianças, por exemplo, havia uma numerosa — e rigorosa — equipe para quem cada detalhe da criação era delegado.
As exigências para o trabalho de babá real mudaram bastante ao longo dos séculos. O rei britânico Charles 1º (1625-1649), por exemplo, viu-se forçado a trocar a governanta de seu primeiro filho porque a empregada era católica — e o público viu com maus olhos que ela educasse um futuro rei protestante.
Na época do reinado da rainha Victoria (1837-1901), enfermeiras e governantas reais costumavam ter total autoridade sobre o berçário palaciano (o filme O Discurso do Rei mostra, por exemplo, como os futuros reis Edward 8º e George 6º recebiam duras broncas de suas babás) e dedicavam sua vida à criação dos bebês da realeza.
Isso já havia mudado quando nasceram os príncipes William e Harry, nos anos 1980, e quando Charles e Diana passaram a assumir boa parte das tarefas associadas ao cuidado diário com os meninos.
Tanto que o público se acostumou a ver Diana beijando e abraçando os filhos publicamente ou levando-os consigo em suas viagens — é algo que soa natural para a maioria das pessoas, mas que chegou a causar surpresa ante a formalidade da realeza britânica até a geração da rainha Elizabeth 2ª.
Após a separação de Charles e Diana, uma babá menos convencional — Tiggy Legge-Bourke — foi contratada para ajudar na criação de William e Harry, mas ela era tratada mais como uma irmã mais velha dos meninos do que como uma figura disciplinadora.
O próprio papel dos avós mudou: antes do século 20, quando monarcas britânicos geralmente realizavam casamentos políticos com membros de famílias reais estrangeiras, seus filhos recebiam pouca atenção dos avós.
Em 2013, em contraste, Kate passou as semanas após o nascimento de George com seus pais, Michael e Carole Middleton, o que foi visto como um indicativo de seu envolvimento na criação do neto.
A educação da realeza
George, 4 anos, e Charlotte, 2 anos, frequentam, respectivamente, uma escolinha e um berçário em Londres, algo que também foge à tradição da educação inicial da realeza.
Ficou famosa a cena de William levando George pela mão para seu primeiro dia na escola e carregando sua mochila, em setembro do ano passado. Ele tem 20 coleguinhas em sua sala, e outros 500 no restante da escola.
São instituições particulares e de preços inacessíveis para uma parcela da população — a de George custa o equivalente a R$ 7 mil por mês; a de Charlotte, cerca de R$ 4 mil —, mas seus antepassados sequer frequentavam a escola nessa idade.
Em geral, a nobreza britânica foi acostumada a ser educada dentro do lar. A própria rainha Elizabeth 2ª foi impedida de frequentar escolas internatos por medo da família real de que ela sofresse "más influências".
Seu filho Charles só passou a frequentar a escola aos 8 anos de idade, e mesmo isso representou um rompimento com a tradição. Até então, ele era ensinado por uma governanta, em uma sala equipada com lousa e carteira dentro do Palácio de Buckingham.
Já em seus anos escolares, seus amigos de classe foram autorizados a brincar na piscina do palácio, porque a realeza considerava impróprio que o herdeiro do trono frequentasse uma piscina de uso público.