Diplomatas da Rússia e dos Estados Unidos fecharam suas malas neste sábado para voltarem aos seus países de origem, em meio a uma crise sem precedentes entre Moscou e o Ocidente pelo envenenamento de um ex-espião russo no Reino Unido.
Cerca de 50 homens, mulheres e crianças deixaram a embaixada pouco depois das 13h00 locais (14h00 no horário de Brasília) em um ônibus azul, provavelmente em direção ao Aeroporto Internacional de Dulles.
Durante a saída, havia música e uma multidão cumprimentou o grupo com um gesto de despedida.
Um segundo ônibus deve deixar a embaixada, que tem vista para a Casa Branca, o Pentágono e outros prédios do governo americano.
As famílias que partiram levavam muitas malas, algumas das quais foram carregadas no ônibus com a ajuda de uma pequena empilhadeira.
O embaixador da Rússia nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, disse a repórteres que "todos os diplomatas que foram declarados persona non grata voltarão para casa junto com suas famílias" neste sábado.
No total, 171 pessoas deixarão o país, informou a agência de notícias estatal TASS, citando Antonov.
Ao mesmo tempo, os caminhões de mudança não paravam de chegar na manhã deste sábado no consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo.
- Onda de expulsões -
Além dos Estados Unidos, mais de vinte países - incluindo membros da União Europeia e da Otan - anunciaram a expulsão de mais de 150 diplomatas russos em solidariedade com a Grã-Bretanha pelo envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha Yulia em 4 de março na Inglaterra.
O Reino Unido acusa a Rússia de ser responsável, enquanto Moscou nega estar envolvido no caso.
Em retaliação, Moscou tomou medidas idênticas contra cerca de 140 diplomatas.
O caso de envenenamento fez com que, no total, cerca de 300 diplomatas, de ambos os lados, fossem forçados a deixar os países onde estavam destinados.
A tensão aumentou neste sábado quando a Rússia anunciou que o Reino Unido deve reduzir o número de funcionários diplomáticos em mais de 50 pessoas.
A nova medida acontece depois que 23 diplomatas britânicos abandonaram Moscou. Em represália, o governo da Grã-Bretanha pediu a seus aliados que expulsassem diplomatas russos.
"A Rússia sugeriu paridade. A parte britânica tem 50 pessoas a mais", afirmou à AFP a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.
O embaixador britânico Laurie Bristow foi convocado na sexta-feira e Moscou deu prazo de um mês a Londres para a redução do número de diplomatas até igualar a quantidade que a Rússia tem no Reino Unido.
Em Londres, uma porta-voz do Foreign Office afirmou neste sábado que o governo "estuda as implicações" das medidas anunciadas por Moscou.
O ministério russo das Relações Exteriores entregou na sexta-feira ao embaixador britânico Laurie Bristow uma nota de protesto sobre as "ações provocadoras e infundadas da parte britânica, que instigou a injustificada expulsão de diplomatas russos por parte de vários Estados".
A tensão diplomática teve mais um episódio neste sábado com a revista policial de um avião da companhia aérea russa Aeroflot em um aeroporto londrino.
O avião foi inspecionado pela polícia de fronteiras e autorizado a prosseguir viagem. A embaixada russa considerou o incidente "uma nova e flagrante provocação".
- Acesso consular -
O Reino Unido estuda o pedido da Rússia para obter acesso consular a Yulia Skripal, envenenada com um agente neurotóxico ao lado de seu pai.
O hospital de Salisbury, sudoeste da Inglaterra, onde Yulia, 33 anos, está sendo tratada, informou na quinta-feira que seu estado de saúde melhorava "rapidamente". A BBC afirmou que ela está consciente e consegue falar.
Seu pai, Serguei Skripal, 66 anos, permanece em estado crítico, mas estável.
* AFP