Os equatorianos decidem neste domingo o futuro político do ex-presidente Rafael Correa no referendo convocado por seu ex-aliado Lenín Moreno para afastá-lo do poder.
A inesperada disputa com o atual presidente tem diminuído a popularidade e a influência do ex-chefe de Estado socialista, que governou o país entre 2007 e 2017.
Mas esta nova briga eleitoral também coloca à prova a legitimidade de Moreno e a solidez de suas novas alianças na Assembleia Nacional após a fissura no governo.
E, em longo prazo, a governabilidade do país, advertem analistas.
Os 13 milhões de equatorianos chamados às urnas deverão responder a sete perguntas: cinco via referendo, que implicam mudanças na Constituição, e duas via consulta popular, para derrogar ou reformar leis menores.
As pesquisas mostram uma clara vitória do "sim", a favor de Moreno.
Três das perguntas formuladas por Moreno, vice-presidente de Correa entre 2007 e 2013, são um claro convite a entrar na era do pós-correísmo.
O questionamento que planeja suprimir a reeleição indefinida aprovada por Correa em 2015 impediria a eventual candidatura do ex-chefe de Estado às presidenciais de 2021.
Outro propõe reestruturar o órgão criado pelo ex-governante para nomear autoridades de controle, o que, na prática, suporia uma "descorreização" do Estado.
Mas os correístas advertem que uma vitória do "sim" nesta questão permitiria a Moreno se apropriar temporariamente de todos os poderes estatais, nomeando "a dedo" as novas autoridades, entre elas o procurador e o controlador, que exercerão sua função até as próximas eleições regionais, em 2019.
O ex-presidente, um economista de 54 anos que, graças ao auge petroleiro, modernizou o país com fama de ingovernável, sustenta que a pergunta que planeja inabilitar os políticos condenados por corrupção é também uma via - judicial - para impedir seu retorno.
"Inventarão um delito contra mim para me inabilitar. É a nova estratégia da direita para destruir os dirigentes progressistas, como fizeram com Dilma, Lula e Cristina (Kirchner, na Argentina)", disse Correa à AFP.
Moreno venceu as eleições de abril com uma estreita margem diante do banqueiro conservador Guillermo Lasso.
Desde então, com seu estilo conservador, ganhou popularidade, mas à medida que se aprofundou a brecha no governo entre "morenistas" e "correístas" perdeu a maioria na Assembleia Nacional e teve que buscar novos apoios entre a oposição tradicional.
De fato, a consulta popular tem o apoio do CREO, o partido de Lasso, e do Partido Social Cristão (PSC), importantes forças políticas adversárias do correísmo.
"A liderança de Moreno está sendo colocada à prova na consulta. A ideia é dar a ele o mandato que não obteve nas eleições anteriores, posto que ainda contava com o apoio de Correa", explica o cientista político Esteban Nichols.
Mas este analista da Universidade Andina Simón Bolívar adverte que todas as forças que o apoiam "vão tentar tirar um pedaço de uma eventual vitória do 'sim'", o que poderia dificultar a governabilidade e a estabilidade política no país.
Os economistas recordam que o modelo econômico de alto endividamento e elevado gasto público que caracterizaram os últimos anos de Correa deixaram um grande déficit fiscal.
Uma vitória do "sim" poderá dar ao presidente o capital político necessário para tomar certas medidas de ajuste, certamente pressionado pelas forças conservadoras que o apoiam.
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* AFP