O papa Francisco volta, na segunda-feira (15), pela sexta vez, à América Latina. Ele visitará o Chile e Peru. Segundo especialistas em Vaticano, ele tem evitado seu país natal, a Argentina.
— Em todas as viagens, ele corre o risco de ser manipulado. Mas, na Argentina, o risco é mais elevado — explica o historiador italiano Gianni La Bella, da Comunidade de São Egídio, mais conhecida como braço diplomático do Vaticano em mais de 60 países.
O primeiro papa latino-americano da história, em quase cinco anos de pontificado, visitou boa parte dos países que cercam a Argentina, começando pelo Brasil, Paraguai, Bolívia, México e passando por Cuba, Equador e Colômbia.
Em todos, com exceção do Uruguai, que ainda não visitou, fez apelos à reconciliação, paz e diálogo, e propiciou acordos.
No entanto, muitos observadores, tanto no Vaticano como na Argentina, consideram que suas mensagens têm um peso distinto em seu país, onde são interpretadas como intervenções políticas e alfinetadas contra as medidas neoliberais do presidente Mauricio Macri, como a controvertida recente lei da Previdência.
— Acho que Francisco teme que a forte polarização que a Argentina vive possa impedí-lo de desenvolver sua função pastoral — afirma La Bella.
Gustavo Vera, um dos ativistas sociais mais ligados a Jorge Mario Bergoglio antes de ele ser eleito papa, defende que o pontífice "sempre foi um partidário da cultura do encontro, do diálogo, de buscar os pontos em comum para poder trabalhar em longo prazo em benefício da comunidade".
— Acho que a Argentina ainda não amadureceu para uma situação de consenso, de diálogo, de gerar políticas de Estado de verdade — acrescentou.
Unindo ou dividindo
A exclusão da Argentina em suas viagens parece ser uma decisão pessoal do papa.
— Trata-se de não ser um fator que gere divisão, oportunismo, sectarismo. Acho que ele está deixando para o final. Acho que Francisco vai vir a seu querido país, a sua querida pátria, quando sentir que é um fator que une, um fator que gera condições de diálogo, condições de consenso — assegura Gustavo Vera.
A vaticanista italiana Franca Giansoldati enumerou recentemente as várias possíveis razões pelas quais Francisco decide não visitar sua terra, onde provavelmente seria recebido por verdadeiras multidões.
— Para evitar o risco de ser usado pelo atual governo com o qual não compartilha sua política social, para evitar privilegiar sua pátria em relação a outras nações porque, como papa, quer assumir um papel universal, para evitar a nostalgia e o desejo de voltar aos lugares amados e queridos — resumiu.
Em pelo menos cinco ocasiões oficiais, os bispos argentinos convidaram Francisco a visitar a terra natal. Apesar disso, a Argentina, de novo, não foi incluída na agenda do papa para 2018, segundo antecipou o porta-voz do Vaticano.
— O mundo é maior que a Argentina e é preciso se dividir. Deixo nas mãos do Senhor que Ele me indique a data — explicou o papa no ano passado.