O ex-presidente do Equador Rafael Correa se desfiliou nesta terça-feira do Aliança País (AP), o partido que fundou e com o qual governou durante uma década (2007-2017), consolidando assim a fratura do oficialismo no país.
Seu aguardado desligamento marca um ponto sem retorno na luta de poder que o ex-líder mantém com o presidente e ex-aliado Lenín Moreno.
"Poderão ficar com o nome, com as sedes, com o cacifo do AP, mas as convicções, o povo, a Revolução e o futuro estão conosco", escreveu Correa em sua conta de Twitter.
A deputada Gabriela Rivadeneira, aliada de Correa e que também se desfiliou, acrescentou que o ex-presidente liderará uma nova formação.
"Já tinha sido planejado que se o governo conseguisse se apoderar do Aliança País nós continuaríamos através da organização de um novo partido", declarou à AFP.
Sem o vínculo partidário, Correa provavelmente fomentará a campanha contra um referendo promovido por Moreno, que busca suprimir a reeleição indefinida.
Se ganhar o "sim" na consulta de 4 de fevereiro, em teoria Correa ficaria sem possibilidades de recuperar o poder.
Correa e seus partidários já tinham perdido o controle do AP nas mãos de Moreno, mas na segunda-feira o máximo Tribunal Contencioso Eleitoral (TCE) reconheceu a nova direção.
Vários ex-funcionários públicos e deputados também se desfiliaram após uma coletiva de imprensa improvisada nos arredores da sede do partido no norte de Quito, que estava sob controle dos correístas e na terça-feira apareceu fechada.
Após a divisão, a fração correísta passou a se chamar movimento Revolução Cidadã, o mesmo nome com que Correa batizou seu projeto nacionalista de esquerda.
Rivadeneira apontou que "o projeto (de Correa) tem que continuar" e que as desfiliações "continuarão durante as próximas semanas por todo o país".
"Agora nossa prioridade é ganhar as eleições em 4 de fevereiro", indicou.
Correa e Moreno foram aliados até o último mês de maio, quando o novo governo tomou posse e o atual presidente começou a se distanciar de seu agora ex-companheiro de partido.
Nas eleições de 2017, o AP ganhou 74 dos 137 assentos da Assembleia Nacional, mas com a fratura do oficialismo a maioria do bloco passou a respaldar Moreno.
Em outubro, dirigentes do AP ligados a Correia destituíram Moreno da presidência do partido, mas o Conselho Eleitoral não reconheceu a decisão, alegando que esta não foi tomada em uma convenção nacional do movimento.
O TCE legitimou a diretiva de Moreno no AP ao rejeitar uma apelação de Rivadeneira, que foi removida da Secretaria do partido em novembro passado.
Correa voltou há uma semana da Bélgica, onde reside após deixar a presidência, para impulsar o "Não" no referendo, do qual seu futuro político dependerá em boa parte.
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* AFP