Por André Luís Woloszyn
Diplomado em Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra e ex-analista da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE)
A perspectiva de diminuição dos atentados terroristas, em especial os patrocinados pelo Estado Islâmico, é desanimadora. Embora o grupo tenha entrado em colapso como força militar, resultado da perda de regiões ocupadas na Síria ainda nos primeiros anos da guerra com significativo número de baixas, o simbolismo da luta contra o que seus integrantes consideram imperialismo ocidental permanece intacto.
Se, por um lado, a ideia do estabelecimento de um califado na Síria parece ter desmoronado, por outro, a ideologia extremista da jihad global permanece um ideal a ser perseguido por simpatizantes que acabam se transformando em terroristas autóctones. A consequência disso são os constantes ataques em grandes centros urbanos e turísticos europeus, como os atropelamentos coletivos e os assassinatos indiscriminados, somados às ações de francos atiradores nos EUA, realizadas entre os anos de 2016-2017.
Essa conjuntura leva a diferentes perspectivas para 2018. Há quem defenda a tese de que, pelo enfraquecimento visível no poder e na eficiência de suas ações na Síria, a dissolução ou fragmentação do grupo é tida como certa. Mas há os que acreditam que, sem recursos humanos e financeiros para resistir a esse prolongado conflito, mas necessitando desesperadamente manter-se em atividade, o Estado Islâmico tende a voltar-se contra cidades europeias investindo massivamente em ataques de pequena intensidade, aproveitando-se do fato de serem financeiramente viáveis e da impossibilidade de serem detectados pelas forças de segurança a tempo de permitir a adoção de medidas preventivas.
Neste sentido, e a contrário sensu, a estimativa pende para um aumento considerável nas ações terroristas contra as populações dos centros urbanos como propaganda midiática para novos recrutamentos e demonstração de poder. O problema recrudesce quando milhares de combatentes extremistas experientes em zonas de combate retornaram ou estão retornando a seus países de origem, notadamente europeus, e são potencialmente ativos para montar células destinadas a perpetuar atentados.
Outra real possibilidade de ataques recai sobre a Copa do Mundo da Rússia, como retaliação pelo apoio dado ao regime Sírio com assessoramento militar e pesados bombardeios aéreos e marítimos em posições ocupadas pelo grupo. Diferentemente das Olimpíadas no Brasil em 2016, existem motivos sólidos para essas ações.
Na verdade, a sistematicidade dos atentados mostra-se cíclica. De tempos em tempos, quando a força persuasória do grupo parece ter enfraquecido, como no caso das derrotas sofridas na Síria, algumas medidas adotadas na política internacional passam a ser exploradas pelos radicais como novo combustível para reacender a ideologia extremista, fomentar o ódio e recrutar significativa parcela de simpatizantes e descontentes com o tratamento dado a estes pelo Ocidente, especialmente nos campos de refugiados e imigrantes. A última dessas medidas, de grande impacto na comunidade muçulmana, foi o reconhecimento, por parte de Donald Trump, de Jerusalém como capital de Israel.
Por outro lado, o Conselho de Segurança da ONU – provavelmente ciente da hipótese de um novo cenário de conflitos – reconheceu, por meio da Resolução nº 2.178, de 24 de setembro de 2014, que o terrorismo internacional não pode ser vencido apenas com o emprego de forças bélicas, sugerindo a seus Estados-membros o fortalecimento das medidas de segurança interna.
Tais medidas foram responsáveis, em grande medida, para a derrocada do Estado Islâmico como a identificação e neutralização do fluxo de recursos financeiros à organização, a vigilância das agências de inteligência acerca dos movimentos de recrutamento em países ocidentais e a intensificação dos ataques da Rússia em apoio a Bashar Al-Assad. Contudo, em face de estratégica dinâmica do grupo, tais medidas não têm surtido grandes efeitos, e os numerosos atentados similares aos crimes tradicionais parecem reforçar essa hipótese.
É possível que, à medida que for enfraquecendo, a rede se frature em outro grupo ou em facções menores, fenômeno semelhante ao que ocorreu com a Al-Qaeda. Mas, no novo cenário, estaríamos partindo da estaca zero para um novo ciclo de atentados com maior grau de violência. Diante desse contexto, podemos esperar inúmeras e lamentáveis manchetes para 2018.
No Brasil, particularmente, as chances de um atentado terrorista praticado por grupos extremistas é remota. Voltados para os graves problemas internos, o país atualmente pouco ou nenhuma influência exerce no cenário da política internacional, não despertando assim qualquer interesse que possa justificar uma ação – ao menos por enquanto.