O presidente filipino, Rodrigo Duterte, disse neste domingo (12) estar convencido de que seu colega americano, Donald Trump, que chegou às Filipinas, evitará o tema dos direitos humanos e a bastante polêmica "guerra contra as drogas" lançada por Manila.
Trump hoje às Filipinas, procedente do Vietnã, para participar da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), última etapa de sua turnê de 12 dias pela Ásia.
Várias ONGs pediram a Trump que discuta com Duterte a sangrenta campanha contra as drogas promovida pelo presidente filipino, que deixou milhares de mortos.
Duterte está convencido, porém, de que isso não acontecerá e garante que Trump o elogiou durante um breve encontro esta semana, à margem da cúpula do fórum Ásia-Pacífico (Apec) em Danang, no Vietnã.
"Disse algo como: 'sabe, você está indo muito bem'", relatou Duterte em conversa com jornalistas hoje de manhã, quando voltou para Manila.
Segundo Duterte, Trump se referia à sua guerra contra as drogas e à sua campanha militar contra os extremistas ligados ao Estado Islâmico no sul do arquipélago.
- 'Silêncio tácito' -
Duterte, de 72 anos, foi eleito em 2016, prometendo erradicar o tráfico de drogas. Desde então, a Polícia anunciou ter matado 3.967 pessoas, enquanto milícias teriam executado outros 2.290 suspeitos em casos de drogas. Milhares de outras pessoas foram abatidas em circunstâncias não esclarecidas, ainda segundo números da Polícia.
O presidente continua tendo boa aprovação nas Filipinas, com a população avaliando que a segurança melhorou desde que ele chegou ao poder.
Já a oposição o acusa de organizar assassinatos extrajudiciais em massa, cometidos por policiais corruptos e por milicianos.
Questionado pela imprensa sobre a possibilidade de que Trump discuta o tema em seu encontro, Duterte disse ter "certeza de que não falará".
Os filipinos esperam a chegada dos líderes de 19 países para a cúpula, além de representantes das Nações Unidas e da União Europeia. A reunião começará no domingo com um jantar. Na segunda-feira, está previsto um encontro bilateral Duterte-Trump.
"Os Estados Unidos devem usar sua influência para pedir que Duterte preste contas em matéria de direitos humanos", declarou o diretor da Anistia Internacional para as Filipinas, Jose Noel Olano.
"Ele se reunirá com um homem, cuja política é responsável por milhares de assassinatos ilegais", apontou.
A diretora-adjunta para a Ásia da Human Rights Watch, Phelim Kine, lamentou, em declarações à AFP que Duterte "vá se beneficiar do silêncio tácito dos dirigentes do leste asiático nessa cúpula".
Duterte, que também é popular entre os filipinos por sua franqueza, protagonizou nova polêmica, na última quinta-feira, em Danang. Em uma reunião com a comunidade filipina, ele contou que, aos 16 anos, ele matou uma pessoa a facadas em uma "briga".
A equipe de Duterte pede à imprensa com frequência que não leve ao pé da letra o que o presidente diz, garantindo que ele gosta de fazer brincadeiras e é adepto da "hipérbole". Seu novo porta-voz, Harry Roque, disse que essas últimas declarações podem ter sido exageradas.
As relações entre Washington e Manila - dois aliados unidos por um acordo de defesa - degradaram-se de forma considerável desde que Duterte foi eleito em junho de 2016.
O então presidente dos Estados Unidos Barack Obama também reprovou seus métodos para lutar contra o tráfico de drogas, o que lhe valeu o tratamento de "filho da puta" por parte de Duterte.
Após a chegada de Trump ao poder, as relações se normalizaram.
* AFP