Os cubanos elegem suas autoridades municipais neste domingo (26), sem candidatos da oposição, em eleições que conduzirão à eleição do substituto de Raúl Castro em 2018, marcando a primeira mudança geracional em quase seis décadas.
Mais de 8,4 milhões de eleitores com mais de 16 anos (de uma população de 11,2 milhões), foram convocados para eleger por voto direto e secreto 12.515 conselheiros entre os cerca de 30.000 candidatos escolhidos em assembleias de bairro, nenhum deles membro da oposição.
O presidente Raúl Castro, de 86 anos, votou em uma seção do oeste de Havana, onde conversou com estudantes que cuidavam as urnas e moradores do local, segundo imagens difundidas pela TV cubana.
- Por Fidel e contra Trump -
A votação acontece um dia após a discreta recordação do primeiro aniversário da morte de Fidel Castro, que implementou em 1976 o sistema político-eleitoral de Poder Popular, que Havana defende como "o mais democrático e transparente" e a oposição chama de "farsa".
A imprensa, sob controle do Estado, realizou uma intensa campanha convocando a votação, na qual usou-se a figura de Fidel.
"Estamos fazendo um voto pela revolução, pela pátria, pelo socialismo", e "a gente está votando por Fidel", disse a jornalistas o primeiro vice-presidente, Miguel Díaz-Canel, após votar em Havana.
"Estamos dando uma mensagem (...) aos que nos querem fazer mudar, aos que nos querem impor coisas", acrescentou, em alusão ao presidente americano, Donald Trump.
Cuba e Estados Unidos restabeleceram relações diplomáticas em 2015, após meio século de ruptura e de enfrentamento político, mas as relações voltaram a ficar tensas com a chegada de Trump à Casa Branca
Estas eleições são o primeiro passo do processo que deve terminar em fevereiro - data ainda por definir - com a eleição do substituto do presidente Raúl Castro, de 86 anos e reeleito em 2013 para seu último mandato de cinco anos, iniciando a primeira transição geracional em quase 60 anos de governo comunista.
Todos os prognósticos apontam a Díaz-Canel, um engenheiro de 57 anos que, pela mão de Raúl, foi galgando durante três décadas os degraus do poder.
Mas o vice-presidente declinou falar sobre o tema neste domingo: "hoje não é um dia para falar disso".
No entanto, nada indica que Raúl deixará a liderança do Partido Comunista (PCC), o principal cargo político do país, antes do próximo Congresso em 2021. Ele terá então 90 anos.
- Sem oposição -
O mecanismo eleitoral cubano, desenhado para perpetuar o sistema socialista estabelecido em 1959, estabelece eleições a cada dois anos e meio para delegados municipais (conselheiros), e a cada cinco para delegados provinciais (prefeitos) e deputados do Parlamento.
Os conselheiros eleitos formarão os governos municipais e proporão entre eles 50% dos candidatos para as assembleias provinciais e ao Parlamento, que elege o Conselho de Estado e seu presidente. Os outros 50% são propostos por seis organizações sociais próximas ao governo.
O Partido não postula, mas supervisiona o processo, sem dar trégua à dissidência.
O voto não é obrigatório, mas constitui um ato de "reafirmação revolucionária" e o abstencionismo é politicamente desaprovado.
Nas eleições municipais de 2015, a oposição conseguiu apresentar dois candidatos independentes, que foram derrotados. Desta vez, três organizações dissidentes - OTRO18, Candidatos por el Cambio e o Partido Autônomo Pinero - fracassaram em sua tentativa de apresentar 550.
Manuel Cuesta, porta-voz do OTRO18, explicou à AFP que o governo implementou "uma bateria de atos de violação em todos os casos da Lei Eleitoral e da Constituição", para evitar a nomeação de candidatos independentes, incluindo prisões temporárias e processos legais por diversos motivos.
Cuesta destacou que o OTRO18 convocou seus membros a "expressar sua preferência nas urnas", o que inclui, segundo ele, votar em branco ou escrever palavras de ordem antigovernamentais nas cédulas para que sejam anuladas.
Já o Candidatos por el Cambio (Candidatos pela Mudança em espanhol) sugeriu que seus membros votem nos "candidatos mais jovens", porque com "seu novo pensamento podem fazer a diferença que se necessita para modernizar o país", disse à AFP o encarregado, Julio Antonio Aleaga.
Outro setor da oposição, que Havana tacha de "mercenária", se nega a participar do processo eleitoral para não fazer o jogo do governo.
* AFP