A Justiça espanhola convocou o comandante da polícia e dois líderes independentistas da Catalunha para prestar depoimento na sexta-feira (6) sobre uma manifestação que ocorreu em setembro, quando veículos da Guarda Civil do país foram danificados por manifestantes na região autônoma. A convocação ocorre após o plebiscito do último domingo e depois do discurso do rei Felipe VI, que acusou o governo regional de "deslealdade durante discurso, na terça-feira (3).
O comandante dos Mossos d'Esquadra, Josep Lluís Trapero, uma subalterna, a intendente Teresa Laplana, e os líderes independentistas Jordi Sánchez e Jordi Cuixart, dirigentes de duas associações independentistas — Assembleia Nacional Catalã e Omnium Cultural, respectivamente — devem prestar depoimento na Audiência Nacional, a principal instância penal do país.
A investigação é relacionada a manifestações realizadas em frente a um prédio do governo catalão em Barcelona, nos dias 20 e 21 de setembro, quando a Guarda Civil realizava uma operação no local. Os manifestantes danificaram veículos da Guarda Civil estacionados diante do edifício e impediram a saída dos agentes até a madrugada.
O convocados pela Justiça são suspeitos de sedição (revolta contra autoridade constituída) pode resultar em uma pena máxima de prisão de 10 anos para cidadãos comuns e 15 anos no caso de autoridades.
Em Barcelona, os independentistas catalãs, liderados pelo presidente do governo regional, Carles Puigdemont, definirão nesta quarta-feira (4) os próximos passos na disputa com o governo espanhol.
Em discurso, Puigdemont deverá revelar o que governo da Catalunha fará após o referendo de independência de domingo, considerado inconstitucional pela Justiça e reprimido com violência pela polícia espanhola.
Além disso, representantes dos partidos devem se reunir no Parlamento regional para decidir a data em que poderia ser declarada a independência, o que deve ocorrer após a apuração de todos os votos do plebiscito, do qual já foi anunciado que o "Sim" venceu com mais de 90% dos votos.
O Parlamento Europeu, em meio a pedidos de mediação internacional e defesa da Espanha como uma democracia estável, também debate nesta quarta-feira a situação na Catalunha.
Tudo ocorre apenas um dia depois do discurso do rei Felipe VI da Espanha, que pediu a defesa da "ordem constitucional da deslealdade" dos independentistas, em uma mensagem sem concessões. O porta-voz do governo catalão, Jordi Turull, afirmou na televisão pública regional TV3 que o monarca "jogou gasolina na fogueira".
— Foi espantoso e um erro de todos os pontos de vista — disse o porta-voz, que acusou o monarca de esquecer dos catalães.
No primeiro discurso institucional de seu reinado, Felipe VI recordou que "é responsabilidade dos legítimos poderes do Estado assegurar a ordem constitucional e o normal funcionamento das instituições".
— Determinadas autoridades da Catalunha, de maneira reiterada, consciente e deliberada, vieram descumprindo a Constituição e seu Estatuto de Autonomia — disse. — Com suas decisões, vulnerabilizaram de maneira sistemática as normas aprovadas legal e legitimamente, demonstrando uma deslealdade inadmissível — completou o rei, sem mencionar em nenhum momento a violência registrada durante o domingo.
Independência em poucos dias
O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, disse à rede britânica BBC que o governo regional deve declarar a independência da Espanha "em questão de dias", após a apuração total dos votos do referendo proibido realizado no domingo.
— Vamos declarar a independência 48 horas após a apuração oficial de toda a votação. Provavelmente isto vai acabar quando tivermos os votos do Exterior. Nos movemos entre o final de semana e o início da semana que vem — disse Puigdemont.
O governo de Puigdemont já havia informado que a independência seria declarada 48 horas após a divulgação dos resultados.