Devastada pela passagem do furacão Maria, na quarta-feira (20), a ilha de Porto Rico se prepara para inundações potencialmente "catastróficas" com chuvas torrenciais nos próximos dois dias. O fenômeno meteorológico deixou para trás telhados arrancados, imóveis destruídos e vilarejos submersos, obrigando dezenas de milhares de pessoas a procurar abrigo.
O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês) anunciou que a ilha deve esperar entre 500 e 750 milímetros de chuva até sábado, chegando a 900 milímetros em alguns locais.
"Se puderem, vão para locais altos AGORA", alertou, nesta quinta-feira (21), o serviço meteorológico nacional, falando de inundações "catastróficas" e de risco de deslizamentos.
Oscilando entre as categorias 4 e 5 (a mais alta) quando atingiu Porto Rico, o furacão provocou "a tempestade mais devastadora em um século" na ilha, declarou o governador de Porto Rico, Ricardo Rossello.
O furacão mais catastrófico a atingir a ilha foi o Okeechobee, conhecido como San Felipe Segundo, em 1928, que matou 300 pessoas.
— Houve muitas inundações, muitas infraestruturas danificadas, o sistema de telecomunicações foi parcialmente destruído, e a infraestrutura elétrica não está funcionando — disse o governador à CNN.
A estrutura elétrica já havia sido danificada pelo furacão Irma, e a ilha permanece sem eletricidade.
— Receio que os danos sejam muito severos — acrescentou Rossello, avaliando que "se for esse o caso, pode ser uma história de meses, não dias, para colocar tudo em ordem novamente".
Devastação "praticamente absoluta", diz prefeita
A devastação foi "praticamente absoluta", afirmou, aos prantos, a prefeita da capital, Carmen Lulin Cruz. Ela afirmou que "muitas partes de San Juan estão completamente inundadas".
— Nossa vida como a conhecemos mudou — disse.
Um homem morreu em Bayamon, no nordeste da ilha, atingido por uma tábua que ele havia utilizado para bloquear uma janela e que o vento arrancou, relatou o governo. Nos abrigos, os desabrigados pelo fenômeno testemunham a violência do furacão Maria.
— Quando os ventos começaram a soprar, tivemos que subir para o segundo e o terceiro andares com todas as nossas coisas e os cachorros — conta Suzette Vega, 49 anos, por telefone.
Suzette encontrou refúgio com outras 1,2 mil pessoas em uma casa de shows em San Juan.
— Quando olhei para cima, vi o telhado tremer como uma folha. Perguntei se era feito de papelão. Disseram que não, que era de cimento — completou.
No centro da capital, Imy Rigau, 53 anos, viu seu apartamento ser invadido pela água depois que o teto voou.
— A água descia pelas escadas como uma cachoeira — relata Imy, muito abalada. — Estamos presos no corredor — lamenta, em conversa por telefone com a AFP.
As autoridades decretaram toque de recolher, de 18h até 6h, por segurança e para evitar saques nas casas dos habitantes que precisaram procurar abrigo.
Danos em outras ilhas
Como Porto Rico, várias ilhas do Caribe, já devastadas por Irma na semana passada, voltaram a enfrentar enchentes, telhados e árvores arrancadas. Em Guadalupe, pelo menos duas pessoas morreram, e outras duas estão desaparecidas no mar desde a passagem do furacão Maria, na terça-feira (19).
Mais ao sul, na ilha de Dominica, que também foi devastada pelo furacão Maria na terça, sete pessoas morreram. As autoridades alertaram que o balanço ainda pode aumentar, enquanto os ventos violentos dificultam as operações de socorro.
Imagens aéreas da AFP mostravam parte de Dominica repleta de detritos, principalmente de telhados. Um voo de reconhecimento permitiu ao Centro de Emergências do Caribe (CDEMA) estimar danos a "70%-80% dos prédios", de acordo com seu diretor, Ronald Jackson.
"O país está completamente atordoado", declarou um conselheiro do primeiro-ministro da Dominica. "Não há mais eletricidade, nem água corrente, nem telefones, fixos ou celulares, e isso provavelmente vai durar muito tempo", reconheceu ele, em um comunicado.
As Ilhas Virgens americanas também sofreram com o furacão, mas nenhuma vítima foi relatada até o momento. Já o furacão Irma deixou nove mortos.
Maria também parece ter poupado a ilha franco-holandesa de Saint Martin, onde Irma matou 15 pessoas.
Depois de ter recuado para a categoria dois, o furacão acaba de retornar à categoria três. Deve passar cem quilômetros ao norte da República Dominicana nesta quinta-feira, seguindo sua rota para as ilhas britânicas de Turks e Caicos.
Na terça, o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que esses furacões são "uma consequência direta do aquecimento global", em uma crítica à decisão americana de abandonar o Acordo de Paris sobre o clima.