Acusado de pedofilia, o cardeal australiano George Pell negou as suspeitas contra ele, nesta quinta-feira (29), e anunciou que vai tirar uma licença para se defender na Justiça da Austrália. O religioso de 76 anos é tesoureiro do Vaticano.
"A ideia de abuso sexual é abominável para mim", afirmou em uma curta declaração lida para a imprensa, em que disse ser vítima de um "ataque incessante" contra a sua reputação. "Desejo ter finalmente a oportunidade de comparecer à Justiça", completou.
A polícia australiana interrogou Pell em outubro, em Roma, e anunciou a acusação nesta quinta-feira.
"A polícia (do Estado australiano) de Victoria acusou o cardeal George Pell de delitos de abuso sexual" cometidos no passado, declarou o comissário adjunto Shane Patton a jornalistas. "Há múltiplas denúncias relacionadas com estas acusações", acrescentou, sem revelar detalhes sobre os casos.
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O cardeal foi convocado para uma audiência na Corte de Magistratura de Melbourne, na Austrália, em 18 de julho.
Pell é considerado o número três na hierarquia da Igreja Católica e ocupa o cargo de prefeito da Secretaria de Assuntos Econômicos. O cardeal é o eclesiástico de maior escalão já acusado por abusos sexuais.
O religioso australiano explicou que entrou em contato com o papa Francisco nos últimos dias e o agradeceu ao Pontífice por ter recebido a licença solicitada.
Em um comunicado de apoio, o Vaticano explicou ainda que a equipe de Pell prosseguirá com o trabalho durante a ausência do religioso e destacou o respeito do papa Francisco por sua "honestidade" e "enérgica dedicação" às finanças do Vaticano.
"O Vaticano expressa seu respeito pelo sistema judiciário australiano que decidirá sobre as questões que se apresentam", afirma o texto. "Ao mesmo tempo é importante recordar que o cardeal Pell condenou pública e repetidamente como imorais e intoleráveis os atos de abusos contra menores", completa, ao destacar sua ação em várias instâncias vaticanas de proteção de menores.
Suspeita
A polícia australiana interrogou Pell em outubro, em Roma, e anunciou a acusação nesta quinta-feira.
"A polícia (do Estado australiano) de Victoria acusou o cardeal George Pell de delitos de abuso sexual" cometidos no passado, declarou o comissário adjunto Shane Patton a jornalistas. "Há múltiplas denúncias relacionadas com estas acusações", acrescentou, sem revelar detalhes sobre os casos.
A advogada de dois homens que acusam o cardeal de abusos afirmou que os clientes estavam satisfeitos com a acusação.
"Para eles têm sido muito difícil manter a cabeça fora da água", disse Ingrid Irwin ao jornal Herald Sun de Melbourne. "Atacar alguém que na mente de muitas pessoas está tão perto de Deus provocou muitos problemas para eles", completou.
– Trata-se da pessoa de maior nível na hierarquia da Igreja Católica acusada até agora e as implicações são importantes tanto para o futuro da Igreja Católica neste país como a nível internacional – disse Brian Coyne, analista australiano e editor do fórum Catholica.
As acusações contra Pell aparecem no estágio final de um longo inquérito nacional, determinado pelo governo em 2012, sobre as respostas institucionais do país às denúncias de abusos sexuais de menores.
A comissão ouviu milhares de sobreviventes e recebeu denúncias de abusos contra crianças que envolvem igrejas, orfanatos, clubes esportivos, grupos de jovens e escolas.
O cardeal Pell já havia sido convocado três vezes durante as investigações, uma vez pessoalmente e outras duas em vídeo, durante as quais ele admitiu ter falhado ao lidar com padres pedófilos no Estado de Victoria, nos anos 1970
O caso de Pell é resultado das investigações de uma unidade especial da polícia de Victoria a partir das informações da comissão e de um inquérito parlamentar. De acordo com os dados da investigação divulgados em fevereiro, 7% dos padres católicos teriam sido acusados de abusar de crianças na Austrália entre 1950 e 2010, mas as denúncias nunca foram investigadas.
Mais de 4,4 mil supostos incidentes foram denunciados às autoridades eclesiásticas e, em algumas dioceses, mais de 15% dos padres estariam envolvidos neles, segundo a investigação.
Pell foi ordenado padre em 1966 em Roma, antes de voltar para a Austrália em 1971, onde progrediu na hierarquia até se tornar a principal autoridade católica do país.
Em 2002, foi acusado de abusos sexuais quando era arcebispo de Sydney, mas foi absolvido. Em 2014, o papa Francisco o recebeu no Vaticano e poucos meses mais tarde o religioso declarou que neste casos "é necessário evitar os vereditos da imprensa, os vereditos baseados nos rumores".