O bloqueio diplomático e econômico ao Catar, imposto pela Arábia Saudita e seus aliados, terá um grande impacto no curto prazo nas importações de comida, mas isso não afetará as exportações de gás e petróleo, indicam os analistas.
A ruptura com o Catar corta o único acesso terrestre do país e ameaça suas importações de produtos frescos e matérias-primas, em um momento em que o pequeno país investe 200 bilhões de dólares em infraestruturas nas vésperas da Copa do Mundo de 2022.
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Já as exportações de gás natural liquefeito (GNL) e de petróleo, que correspondem a 90% das receitas do Catar, devem continuar praticamente intactas.
– Cerca de 40% do fornecimento de alimentos do Catar passa pela fronteira terrestre com a Arábia Saudita – , segundo os cálculos de Anthony Skinner, o diretor para o Oriente Médio da consultoria Verisk Maplecroft.
Agora as autoridades do Catar "dependerão cada vez mais do transporte marítimo e aéreo, o que aumentará os custos e a inflação", explica Skinner.
O impacto do bloqueio foi imediato e os habitantes de Doha têm enchido desde a segunda-feira os supermercados para comprar reservas de mantimentos, apesar de o governo garantir que não haverá escassez.
O Catar ainda pode importar mantimentos do Irã ou de Omã por via marítima ou de avião da Turquia, da Europa e do sudeste asiático.
Um funcionário do governo iraniano já disse que seu país está disposto a fornecer produtos ao Catar por barco, um trajeto de 12 horas por águas do Golfo.
A Arábia Saudita e seus aliados suspenderam as conexões aéreas com o Catar e fecharam os escritórios das companhias aéreas no país.
Segundo Anthony Skinner, essas medidas obrigariam Qatar Airways a mudar suas rotas, gerando custos adicionais.
Embora as trocas comerciais entre o Catar e seus vizinhos do Golfo sejam limitadas, suas exportações para a Arábia Saudita, avaliadas em 896 milhões de dólares pela ONU, serão reduzidas a zero com o bloqueio.
- Atrasos nas infraestruturas -
O Catar é um emirado de 2,4 milhões de habitantes, entre eles 1,8 milhão de asiáticos, em sua maioria da Índia, Nepal e Bangladesh.
O país tem uma renda per capita de 100.000 dólares, um das mais altas do mundo.
O fechamento da fronteira com a Arabia Saudita obrigará os construtores de infraestruturas a importar seus materiais por mar, aumentando os preços e atrasando seus projetos, segundo Skinner.
No entanto, o gás e o petróleo continuarão transitando pelo estreito de Ormuz em direção ao Japão e ao sudeste asiático.
O Catar é o maior exportador mundial de GNL, com 80 milhões de toneladas anuais, mas apenas 10% dessa produção tem como destino o Oriente Médio.
O Catar também produz cerca de 600.000 barris de petróleo por dia.
– Não vejo nenhuma ameaça para as linhas de exportação de energia do Catar, que continuará abastecendo seus principais clientes na Ásia – , explicou o especialista de Kuwait Kamel al Harami.
O país exporta por gasoduto 3,1 bilhões de pés cúbicos diários de GNL para os Emirados Árabes Unidos e Omã. No ano passado, 60% das importações egípcias de GNL vinham do Catar.
– Para os Emirados Árabes seria difícil suspender suas importações de gás do Catar, sobretudo durante os meses de verão. Eles precisam, não têm alternativa – , afirmou Harami.
O Catar, com cerca de 350 bilhões de dólares investidos no exterior, poderá ver seu setor bancário sofrer, alerta James Dorsey, da escola de estudos internacionais S.Rajaratnam de Cingapura.
– Os bancos do Catar, que já têm dificuldades com a queda das reservas e com taxas de juros cada vez mais elevadas, podem se ver muito afetados se a Arábia Saudita e os Emirados decidirem retirar seus depósitos – , lembrou Dorsey.
* AFP