As 82 estudantes nigerianas de Chibok, libertadas no sábado após mais de três anos em cativeiro nas mãos do grupo extremista islâmico Boko Haram, são esperadas neste domingo em Abuja, capital da Nigéria, onde serão recebidas pelo presidente Muhammadu Buhari.
As adolescentes são parte do grupo de 276 estudantes sequestradas de seu colégio pelos extremistas em 2014. Divulgado pelos jornais do mundo inteiro, esse sequestro coletivo provocou uma onda de indignação, à qual muitas celebridades do mundo todo aderiram nas redes sociais com a hashtag #BringBackOurGirls (#TragadeVoltaNossasGarotas, em inglês). Na época, as meninas tinham entre 12 e 17 anos de idade.
A libertação das meninas foi anunciada no sábado pela presidência da Nigéria, e negociada com o Boko Haram em troca da soltura de prisioneiros do grupo.
– O presidente tem o prazer de anunciar que as negociações para a libertação de outras meninas de Chibok deram frutos, com a soltura de 82 delas – declarou Garba Shehu, porta-voz da presidência, em uma declaração neste domingo.
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– As meninas são esperadas em Abuja, e serão recebidas pelo presidente, que expressou sua profunda gratidão às agências de segurança, ao exército, ao governo da Federação Suíça, à Cruz Vermelha, bem como às ONGs locais e internacionais – acrescentou o comunicado.
Sobre o estado de saúde das garotas, um membro de uma milícia de autodefesa de Banki afirmou à AFP que "estão bem, mas muito magras", e acrescentou que uma delas estava acompanhada por uma criança com menos de dois anos.
Amputadas
Duas das meninas tiveram partes do corpo amputadas. Uma delas perdeu parte de uma das pernas após de um bombardeio do exército nigeriano contra postos do Boko Haram, e outra perdeu parte de uma das mãos por conta de um ferimento durante o cativeiro, explicou à AFP.
Em outubro de 2016, 21 jovens foram libertadas. Algumas delas estavam grávidas e deram à luz no cativeiro, após negociações entre Boko Haram e o governo, com a ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e da Suíça. Naquele momento, o porta-voz da presidência afirmou que a libertação de outras 83 jovens estava sendo negociada.
Novamente, o CICV forneceu importante apoio logístico para esta libertação, segundo testemunhos obtidos pela AFP.
Após esta libertação, restam ainda 113 estudantes nas mãos do Boko Haram. Cinquenta e sete jovens conseguiram escapar dos islamitas pouco depois do sequestro e três outras foram encontradas perto da floresta de Sambisa, reduto da facção do Boko Haram dirigida por Abubakar Shekau.
Na sexta, as embaixadas britânica e americana disseram ter recebido um informe, segundo o qual o Boko Haram planejava um sequestro de estrangeiros "ao longo do eixo Banki-Kumshe". Muito ativas na região dominada pelo grupo, que foi devastada ao longe de oito anos de conflitos, as ONGs tiveram de suspender suas atividades nessa área.
– O Boko Haram continua a sequestrar mulheres, meninas e meninos. Infelizmente, a maioria desses sequestros não são noticiados. Muitos parentes e famílias inteiras abandonaram a esperança de reencontrá-los – denunciou recentemente Makmid Kamara, representante da Anistia Internacional para a Nigéria.
O conflito, particularmente sangrento contra o grupo Boko Haram na zona do lago Chade, deixou mais de 20 mil mortos e 2,6 milhões de deslocados.