A camaradagem dos mares uniu as marinhas e forças aéreas de Brasil, Uruguai e Argentina na busca por sobreviventes daquele que pode ser o maior naufrágio ocorrido nas costas da América do Sul nas últimas décadas.
Os militares tentam localizar os tripulantes do navio sul-coreano Stellar Daisy, que desapareceu na última sexta-feira a mais de 3,7 mil quilômetros a leste de Montevidéu. Apenas dois dos 24 marinheiros que estavam a bordo foram localizados e resgatados, à deriva em um bote salva-vidas, no sábado. Outras duas balsas pertencentes à embarcação mercante foram encontradas, mas sem rastro de ocupantes.Pertencente a uma empresa sul-coreana, mas com bandeira das Ilhas Marshall, o Stellar Daisy é um gigante dos mares.
Tem 321 metros de comprimento – o equivalente a três quarteirões – por 58 de largura. Foi fabricado em 1993, não sendo velho para os padrões náuticos.
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Carregado com minério de ferro da companhia Vale, zarpou do porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, em 26 de março, com destino a Qingdao, na China. Por volta de 11h30min da última sexta-feira, um tripulante pediu socorro pelo rádio, informando que estava entrando muita água na embarcação.
Quatro navios mercantes sul-coreanos, que estavam próximos à área, se deslocaram para o local informado pelo tripulante que pediu socorro, mas o Stellar Daisy não foi avistado. Manchas de combustível indicam que pode ter naufragado. Os dois filipinos encontrados apenas relataram que grande quantidade de água do mar entrou no navio, o que despertou a suspeita de que o casco tenha se rompido. Dos 24 tripulantes, 16 são filipinos e oito, sul-coreanos.
Buscas mobilizam três países
Brasil, Uruguai e Argentina se uniram nas buscas. A Marinha brasileira enviou um de seus maiores barcos, a fragata Rademaker, que saiu do Rio de Janeiro e deve chegar somente amanhã ao local onde o Stellar Daisy sumiu. O navio brasileiro leva dois helicópteros a bordo. É a maior embarcação envolvida nas buscas, com 273 tripulantes.
A Armada Nacional do Uruguai coordena as operações a partir de Montevidéu, por meio do navio de transporte e apoio logístico General Artigas (116 tripulantes). Já a Armada Nacional da Argentina cedeu a corveta Guerrico (95 tripulantes).
O Brasil se transformou no motor das buscas pelo fato de ser o único a ceder aviões. Primeiro foi usado um Hércules KC130, do Primeiro Grupo de Transporte de Tropa da Força Aérea Brasileira (FAB), que saiu do Rio de Janeiro na noite de sábado. A bordo, partiram 40 militares, entre eles quatro especialistas em operações de busca e salvamento. A aeronave tem autonomia de voo de pelo menos 14 horas.
O segundo avião brasileiro usado nas buscas é um P-3 Orion, que saiu de Salvador e tem 12 horas de autonomia de voo. Eles reabastecem no Uruguai e voam para o mar. Essa aeronave localizou duas balsas salva-vidas do Stellar Daisy e informou a posição aos navios – os botes estavam vazios.
– Em nosso trabalho, buscamos abreviar o sofrimento de quem precisa ser resgatado. Por isso continuamos – ressaltou o tenente Josemar Antônio Sartori, coordenador do apoio das aeronaves da FAB.
A investigação do acidente é conduzida pela Organização Marítima Internacional e feita pelo país da bandeira e pela nação mais próxima, de forma colaborativa.
Os navios têm caixa preta, que registra todos os procedimentos mecânicos e eletrônicos de navegação. O problema é localizá-la: a profundidade do local do desaparecimento é superior a 4,5 quilômetros. A embarcação também dispõe de câmeras de circuito fechado de TV e é possível que imagens tenham sido transmitidas para a empresa proprietária. A carga não é considerada tóxica e deve ficar no fundo mar.