Um grupo de militares do Exército anunciou nesta sexta-feira ter assumido o poder na Turquia, onde foi decretado o toque de recolher e a lei marcial, enquanto o presidente islâmico-conservador, Recep Tayyp Erdogan, conclamava a população a ocupar as ruas e resistir ao golpe.
Vários tanques do Exército cercaram o Parlamento em Ancara, onde a situação ainda é bastante confusa – relatou a agência de notícias Dogan. Blindados também ocuparam o lado de fora do aeroporto internacional Ataturk, em Istambul.
Violentas explosões foram ouvidas na capital, acompanhadas de troca de tiros no centro da cidade, enquanto aviões sobrevoavam a metrópole sem parar, a baixa altitude, segundo jornalistas da AFP no local. Informações dão conta de que há pelo menos 17 policiais mortos. Inclusive, um caça F-16 da Força Aérea Turca derrubou um helicóptero Sikorsky das forças do Exército que anunciaram a tomada do poder.
Militares golpistas abriram fogo contra uma multidão em Istambul durante um protesto contra a tentativa de golpe, ferindo vários civis. Disparos aconteceram em uma das pontes sobre o Bósforo, que une Europa à Ásia.
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Em declarações por telefone à rede CNN-Turk, Erdogan disse estar confiante em que "de modo algum os golpistas terão sucesso", e pediu à população que se "reúna nas praças públicas e nos aeroportos" para resistir a uma "tentativa de golpe de Estado" lançada por "uma minoria dentro do Exército".
– Não acredito absolutamente que estes golpistas vencerão – disse Erdogan, que prometeu "uma resposta muito forte" aos insurgentes.
Erdogan foi levado para um local "seguro", afirmou um funcionário ligado à presidência.
A agência pró-governamental Anatolia noticiou que o general Hulusi Akar, chefe do estado-maior do exército, é mantido refém pelos militares golpistas. Tanques estariam mobilizados ao redor do aeroporto Atatürk em Istambul.
Vídeo postado no Twitter oficial da agência curda Rudaw mostra jato sobrevoando Istambul:
Tomada de poder
Segundo um comunicado dos militares lido no canal de televisão NTV, "o poder no país foi tomado em sua integralidade". A mesma informação constava do site do Estado-Maior do Exército.
"Não permitiremos que a ordem pública seja alterada na Turquia (...). Foi imposto o toque de recolher até nova ordem", segundo um comunicado firmado pelo "Conselho da Paz no país".
As duas pontes sobre o estreito de Bósforo em Istambul foram fechadas parcialmente, e as forças de segurança controlavam as avenidas que levam à Praça Taksim, entre outros pontos, informou a imprensa local.
Segundo os militares, a tomada do poder tem por objetivo "garantir e restaurar a ordem constitucional, a democracia, os direitos humanos, as liberdades e a prevalência da lei suprema" em todo território turco.
"Todos os nossos acordos e compromissos internacionais seguem vigentes. Esperamos que continuem nossas boas relações com os demais países", assinala o comunicado militar.
De acordo com a agência oficial Anatolia, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, "general Hulusi Akar, é mantido como refém por um grupo de militares que tentam uma revolta".
O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, denunciou o que chamou de uma "tentativa ilegal" de ação por parte de elementos do Exército turco, depois da ocupação de pontos estratégicos em Istambul pelos militares.
– Estamos trabalhando com a possibilidade de uma tentativa (de ação ilegal). Nós não vamos permitir esta tentativa –, declarou Yildirim, por telefone, à emissora de televisão NTV. – Aqueles que participam deste ato ilegal vão pagar um preço alto – garantiu o premiê, minimizando o episódio, que, segundo ele, não seria correto descrever como um "golpe".
A imprensa turca assumiu abertamente a "tentativa de golpe de Estado" após a CNN-Türk reportar uma mobilização "extraordinária" em frente à sede do estado-maior do Exército.
Otan pede 'calma' e 'respeito total às instituições democráticas'
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, apelou à "calma" e pediu "respeito total às instituições democráticas na Turquia", um "aliado valioso" da aliança militar, onde uma tentativa de golpe de Estado está em curso.
"Eu apelo à calma e à moderação, e ao respeito total às instituições democráticas da Turquia e de sua Constituição", declarou Stoltenberg em um breve comunicado publicado na madrugada de sexta para sábado, enquanto um grupo de golpistas do Exército afirmou ter tomado o poder no país.
Movimento de oposição condena golpe militar
Um grupo afiliado ao clérigo turco radicado nos Estados Unidos Fethullah Gulen, que foi acusado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan de estar por trás da tentativa de golpe na Turquia, condenou o levante militar nesta sexta-feira.
"Por mais de 40 anos, os participantes do Fethullah Gulen e Hizmet têm defendido e manifestado seu compromisso com a paz e a democracia", informou a Aliança por Valores Compartilhados em um comunicado.
"Temos denunciado consistentemente intervenções militares na política doméstica. Estes são valores centrais dos participantes do Hizmet. Condenamos qualquer intervenção militar na política doméstica da Turquia", acrescentou.
Premier diz que golpe fracassou, e presidente retorna a Istambul
A tentativa "idiota" de golpe de Estado deflagrada na sexta-feira por militares na Turquia fracassou e a situação "está amplamente sob controle", afirmou na madrugada deste sábado (horário local) o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, em entrevista à TV.
Por volta das 3h da madrugada de sábado (horário local), o presidente turco Recep Tayyip Erdogan chegou a Istambul. A multidão agitava bandeiras turcas, segundo imagens transmitidas por televisão. Erdogan estava de férias com a família em uma cidade costeira do país. Ele informou que o hotel onde estava de férias em Marmaris, um balneário do sudoeste da Turquia, foi bombardeado após sua partida.
Militares invadem rede de TV
Durante uma transmissão ao vivo, o âncora do canal CNN-Türk foi retirado à força por militares da bancada do noticiário. O perfil oficial do canal no Facebook continuaram mostrando, através de uma transmissão ao vivo, o estúdio vazio. A programação voltou ao normal cerca de uma hora depois.