Um desfile e uma cerimônia no quartel onde jaz o cadáver de Hugo Chávez com a presença de quatro presidentes aliados marcam nesta quarta-feira as celebrações do aniversário da morte do líder em uma Venezuela abalada por um mês ininterrupto de violentos protestos.
- Os grupos violentos ameaçaram parar o país e o país está funcionando livremente e com tranquilidade - declarou ao abrir o desfile o presidente Nicolás Maduro, que chamou a contestação de uma tentativa "de golpe de Estado".
Em um inflamado discurso, Maduro convocou "as Unidades de Batalha Bolívar Chávez (milícias civis), os movimentos sociais (...) os trabalhadores e camponeses a fazer valer a ordem de nosso comandante Hugo Chávez".
Atrás de Maduro, o exército exibiu seu poderio com tanques, caças e artilharia.
O relato oficial do desfile cívico-militar reforçou o crescente culto, quase religioso, à personalidade de Chávez, onipresente nas ruas e edifícios de cada canto do país com as maiores reservas petrolíferas mundiais.
No desfile participaram "10.260 combatentes socialistas revolucionários antimperialistas e sobretudo profundamente chavistas, con 570 sistemas de armas e 35 aeronaves", declarou o general de brigada Jesús Suárez Chourio.
Mas a Venezuela dirigida pelo herdeiro de Chávez, o presidente Nicolás Maduro, está há semanas em alerta por uma onda de protestos que o governo classifica de golpe de Estado e que deixaram 18 mortos, 260 feridos e dezenas de denúncias de violações de direitos humanos.
O cubano Raúl Castro, o boliviano Evo Morales, o nicaraguense Daniel Ortega e o surinamês Desi Bouterse participaram do dia que teve como destaque a estreia mundial pela televisão, e em cadeia obrigatória, do documentário "Mi Amigo Hugo" (Meu Amigo Hugo), do cineasta Oliver Stone.
Paixões irreconciliáveis
No entanto, os protestos antigovernamentais não acabam na celebração da morte do homem que, em seus 14 anos como presidente, despertou paixões irreconciliáveis em um país hoje dividido ao meio.
- Estamos mais unidos do que nunca, lutando pela justiça, em batalha permanente e rumo à vitória popular - escreveu nesta quarta-feira o vice-presidente Jorge Arreza, genro de Chávez.
- O governo está estável, embora não tão forte como há um ano - explicou o analista e professor da Universidade Central Carlos Romero, acrescentando que, de qualquer forma, "não há um contrapoder com peso suficiente para transitar para outro regime".
Algumas ruas de Caracas e de outras cidades amanheceram nesta quarta-feira bloqueadas com barricadas e, no distrito opositor de Chacao (epicentro dos protestos na capital), os estudantes foram dispersados com gás lacrimogêneo por efetivos da Polícia Nacional.
A líder estudantil Gabriela Arellano convocou um protesto no setor Leste e Caracas, reduto do antichavismo. "Ninguém vai tirar a vontade de um povo das ruas!", escreveu Arellano no Twitter.
Já a deputada María Machado, uma das ideólogas de "A Saída", a tática de ocupar as ruas para forçar a renúncia do governo, anunciou que participará de um protesto em San Cristóbal, no estado de Táchira, oeste do país, onde a tensão é mais palpável.
As manifestações começaram há um mês quando os estudantes protestaram pela insegurança em San Cristóbal depois de uma tentativa de estupro em um campus, e os protestos se estenderam a todo o país, encorajados por altas taxas de homicídios, de inflação e pela escassez recorrente de bens básicos.