Enquanto o presidente Barack Obama se contorce em uma disputa com a oposição republicana para fazer seu governo andar em meio à paralisação dos serviços federais, um relatório do comitê sobre a liberdade de imprensa nos Estados Unidos reacendeu o que tem se tornado uma das marcas do governo americano: a guerra contra o vazamento de informações e escândalos de espionagem.
No primeiro relatório sobre a liberdade de imprensa nos Estados Unidos durante a presidência de Obama, o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) afirma que sob a atual administração aumentaram as reservas dos funcionários públicos em falar com a imprensa. Conduzido por Leonard Downie Jr, ex-diretor executivo do "Washington Post", o relatório mostra um número sem precedentes de processos de fontes do governo e de apreensões de materiais jornalísticos.
- Os agressivos processos judiciais de informantes de material classificado (como secreto) e uma vigilância eletrônica generalizada estão dissuadindo as fontes governamentais de falar com os jornalistas - afirma o documento. A investigação de suspeitos informantes inclui testes de polígrafo (detector de mentiras) e quebra de sigilo de telefonemas e e-mails.
Seis funcionários do governo, além de dois prestadores de serviços incluindo o ex-analista de inteligência Edward Snowden, foram objeto de processos criminais desde 2009 sob a Lei de Espionagem de 1917, por vazar informações confidenciais para a imprensa - em comparação com três em todas as administrações anteriores nos Estados Unidos.
Registros de telefone e e-mail de repórteres foram secretamente confiscados e monitorados em duas das investigações. O relatório aponta que Obama prometeu um governo transparente e aberto, criticando os sigilos de George W. Bush, o que não foi feito. Para driblar os jornalistas, a Casa Branca desenvolveu uma rede própria de websites, mídia social e criou um noticiário on-line para distribuir informações favoráveis e imagens.
Casa Branca diz que críticas fazem parte de tensão natural
- Eu me preocupo agora em ligar para alguém, pois o contato pode ser encontrado através de uma verificação de registros de ligações telefônicas ou de e-mails - disse o jornalista R. Jeffrey Smith, do Centro para a Integridade Pública. Essa espionagem dificulta a proteção das fontes pelos jornalistas.
- Este é o governo mais fechado e maníaco por controle que já cobri - disse David Sanger, correspondente do "New York Times" em Washington.
Downie, autor do relatório, afirma: "a guerra do governo aos vazamentos e outros esforços para controlar as informações são os mais agressivos que eu vi desde a administração Richard Nixon, quando era um dos editores envolvidos na investigação do caso Watergate no Washington Post". O secretário da Imprensa, Jay Carney, disse que essas reclamações fazem parte da tensão natural entre a Casa Branca e a mídia. O relatório sugere ainda várias reformas, incluindo o fim de acusações de espionagem contra as pessoas que vazam informações a jornalistas e prevenção de intimações de material jornalístico.
Leia a íntegra do relatório, em português em http://goo.gl/A405m9.