Hong Kong - Jiang Kejun pode ser uma dos poucos moradores de Pequim que vê um raio de esperança na poluição que engole a cidade. Pesquisador em um instituto estatal de pesquisa de energia, ele é um franco defensor do corte imediato da produção dos gases do efeito estufa na China, e afirma que a fúria popular em relação ao ar nocivo tem abalado o governo, que há muito aceitou a poluição como o preço necessário para a prosperidade.
A névoa encardida que cobre Pequim e outras cidades chinesas vem dos veículos motorizados, fábricas, usinas e fornalhas que também emitem dióxido de carbono, o principal gás do aquecimento global antropomórfico. A ira generalizada sobre a poluição do ar forçou a nova liderança da China a votar medidas mais firmes e mais rápidas para o ar mais puro e que têm a probabilidade de reduzir a produção do dióxido de carbono, especialmente proveniente do carvão, disseram os especialistas.
- A preocupação pública com a poluição do ar ajudou a elevar a consciência sobre os problemas ambientais mais amplos. Isso será uma grande ajuda para pressionar a China - disse Jiang, pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas, que aconselha o governo chinês.
Jiang é uma fonte interna incomumente híbrida - em parte uma fonte interna das políticas, em parte aventureiro - em um debate crescente entre as autoridades chinesas, conselheiros de políticas e acadêmicos sobre o quão rápido e até onde limitar a poluição por gases do efeito estufa, que atualmente ultrapassa a poluição de qualquer outro país. O debate, cada vez mais vigoroso, porém à moda típica chinesa que se observa grandemente nos bastidores, coloca em competição as demandas da industrialização e do crescimento urbano contra as realidades do aquecimento global.
Desafiando a cautela de praxe dos conselheiros do governo, Jiang desenvolveu uma proposta para rapidamente limitar o volume crescente do dióxido de carbono que a China produz ao consumir combustíveis fósseis, o que constitui mais de 25% das emissões totais do mundo. Em seu modelo, as emissões da China atingiriam o ponto máximo por volta de 2025, antecipado em pelo menos cinco anos e em um nível muito mais abaixo do que muitos especialistas chineses disseram ser possível.
- Não estou dizendo que será fácil, mas é plausível. O tempo para ação eficaz é muito limitado - Jiang declarou.
O seu plano parece estar longe de receber a chancela do governo, porém é "um daqueles balões de teste que não estaria flutuando se não houvesse uma discussão séria sendo aberta sobre o que a China deve fazer", declarou Barbara Finamore, diretora do programa Conselho de Defesa dos Recursos Naturais da China, um grupo de apoio com sede em Nova Iorque.
Estudos patrocinados pelo governo demonstram que os conselheiros políticos chineses desenvolveram propostas para controlar os gases do efeito estufa em prazo mais curto. Elas incluem um imposto do carbono sobre combustíveis fósseis, e a partir de 2016, o estabelecimento de limites como guias anuais para a emissão de dióxido de carbono proveniente da utilização de energia. A China explorará os crescentes mercados de crédito de carbono locais em um plano nacional a partir de 2015, Xie Zhenhua, um funcionário que supervisiona as políticas de mudança de clima, declarou no final de julho.
Em parte, a China está reagindo à pressão internacional, enquanto os governos negociam um novo acordo mundial proposto sobre a mudança climática, programado para ser estabelecido em 2015 e entrar em vigor em 2020. Em junho, o Presidente Barack Obama e o Presidente Xi Jinping concordaram em discutir sobre como eliminar os hidrofluorocarbonetos, uma classe potente de gases manufaturados causadores do efeito estufa.
Contudo, preocupações internas econômicas, energéticas e ambientais também estão forçando os líderes chineses a considerar políticas que podem limitar os gases do efeito estufa, disseram os analistas. A nova liderança quer reforçar a economia reduzindo a dependência da indústria pesada que produz altas quantidades de poluição. Xi e o Primeiro Ministro Li Keqiang prometeram limpar o solo contaminado, o ar e a água, e alcançar essas metas também poderia acarretar reduções do carbono.
- A poluição do ar foi o catalisador perfeito. A poluição do ar está claramente relacionada com a saúde, e o bom é que todos - ou seja, os funcionários do governo e igualmente os executivos de empresas - respiram o mesmo ar - afirmou Wai-Shin Chan, diretor da Estratégia de Mudança de Clima na Ásia para a Pesquisa Global do HSBC em Hong Kong.
No entanto, existem obstáculos enormes para os proponentes dos cortes imediatos das emissões chinesas. O crescimento econômico forte permanece imperativo para os líderes, que temem que desacelerar o crescimento e aumentar o desemprego colocariam em perigo o governo do Partido Comunista. A China continua dependente do carvão, a fonte de aproximadamente 70% da energia do país. E é mais provável que as autoridades e empresas chinesas resistam às medidas que eles temem poder prejudicar os investimentos industriais.
- Eles não ficarão felizes em ver que o investimento em nova capacitação que fizeram há alguns anos tem de ser eliminado. Tudo realmente só depende do quão rápido a China pode transformar a atual estrutura econômica - declarou Wang Tao, um perito em mudanças climáticas e assuntos de energia no Centro Carnegie-Tsinghua de Política Global em Pequim.
Em abril, Xie, a autoridade das mudanças climáticas, divulgou uma reavaliação de até onde a poluição por gases do efeito estufa poderia se elevar na China.
A China tem sido o maior emissor de dióxido de carbono do mundo proveniente da utilização de combustível desde mais ou menos 2006, quando ultrapassou os Estados Unidos. Em 2009, o governo chinês introduziu uma política para redução do dióxido de carbono emitido na produção de cada unidade de atividade econômica entre 40 a 45% em 2020, em comparação aos níveis de 2005. Isso significa que as emissões crescem em conjunto com a economia da China, porém em uma taxa menor do que se não houvesse melhorias.
Mesmo com tais esforços, o tamanho da China e o crescimento febril colocaram suas emissões bem acima das emissões dos Estados Unidos. Já em 2011, as emissões de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis na China eram responsáveis por 28% do total do planeta, e os Estados Unidos eram responsáveis por 16%, segundo o Projeto Global de Carbono, um consórcio de pesquisadores. A Agência Internacional de Energia estima que as emissões chinesas tenham crescido mais 3,8% em 2012.
- Não vejo nada surgindo da China que indique uma mudança significativa nas emissões em curto prazo. Seria necessário haver algumas políticas realmente radicais surgindo na China para uma grande mudança no percurso acontecer - declarou Glen Peters, pesquisador do Centro Internacional do Clima e de Pesquisa do Meio Ambiente em Oslo, Noruega.
Jiang, que estuda emissões de energia há duas décadas, tem em mente essa grande mudança. A China deve expandir a energia eólica e solar além das metas atuais, e restringir a indústria pesada, forçando as emissões de dióxido de carbono a atingirem o ponto máximo em doze anos, argumenta.
Se o esforço da China for acompanhado por grandes cortes nas emissões dos países ricos, ele afirma, então há uma grande chance de evitar aumentos na média da temperatura do planeta de além de 3,6 graus Fahrenheit acima da média pré-industrial, o qual a maioria dos governos concordou ser um limiar perigoso.
Porém outros especialistas do governo chinês declararam que o país não deve fazer tal mudança e pôr em risco a prosperidade.
Wang Zheng, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências, estimou que as emissões chinesas provavelmente atingiriam o ponto máximo por volta de 2030 em até quase um quinto mais alto do que Jiang quer.
- Se tivermos uma meta antes disso, isso pode significar a destruição do crescimento econômico estável e o desencadeamento de uma crise econômica - Wang declarou.
Jiang disse que continuaria tentando persuadir os cientistas e as autoridades a apoiarem a sua proposta. Há vários anos, alguns ridicularizaram sua ideia inicial menos ambiciosa de um ponto máximo nas emissões em 2030, que atualmente é amplamente aceito.
- Estou em constante comunicação com o governo. Eles estão ouvindo, e pelo menos ainda não disseram não - disse.