O balanço das negociações que se encerram hoje em Cuba e que devem dar lugar a outra rodada em julho abre na Colômbia a expectativa do que já é considerado o principal fato histórico do país desde a independência (em julho de 1810): o ingresso da guerrilha na política institucional.
Na mesa de negociações, há 10 propostas feitas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que pavimentariam o caminho da institucionalização.
Destacam-se o adiamento das eleições presidenciais de 25 de maio de 2014, a abertura de uma assembleia nacional constituinte e a troca da Câmara de Deputados por uma "câmara territorial", na qual haverá três representantes de departamentos e de "comunidades camponesas, indígenas e de afrodescendentes".
São temas complexos, que o governo diz considerar inviáveis. A guerrilha os usa para conseguir o objetivo maior de limpar a própria ficha.
- As Farc, ao mesmo tempo em que investiam na guerrilha, agiam na vida partidária, por mais que os partidos hospedeiros às vezes aparentassem distância da parte militarizada. Os guerrilheiros de hoje, no momento em que houver a desmobilização, vão se abrigar em partidos existentes, e um deles é o Partido Comunista, sua origem. Mas acho também que muitos dos guerrilheiros vão simplesmente viver no campo - diz o analista colombiano Jaime Rosenthal.
Marcos Peckel, também analista colombiano, faz outras cogitações:
- Primeiro temos de saber que tipo de acordo haverá. Se vai prever as Farc como um novo partido político ou se os indivíduos serão liberados para entrar na vida política, sem uma sigla determinada. É possível que as Farc integrem partidos regionais. Mas o movimento Marcha Patriótica (de esquerda, integrado por políticos como a senadora Piedad Córdoba e o deputado Iván Cepeda) pode ser um destino.
Uma curiosidade é comentada nos bastidores colombianos. Nas próximas eleições, as Farc poderão apoiar, mesmo que discretamente, o presidente Juan Manuel Santos. Motivo: apesar de ter sido, como ministro da Defesa de Álvaro Uribe, quem fez o grupo cair de 20 mil integrantes para 8 mil, em claro desmantelamento, sua derrota seria a derrota das negociações. O outro candidato seria aliado do linha-dura Uribe, atual desafeto de Santos.