Por alguns instantes, o trânsito parou ontem pela manhã na Via Quirinale, no centro de Roma. Jornalistas de todas as partes do mundo se aglomeravam em frente à igreja de Sant'Andrea, tirando o sossego da pequena paróquia, construída em 1661 em estilo barroco.
Os domingos costumam ser de silêncio e tranquilidade nas redondezas. Mas a rotina foi quebrada pela passagem do papabile mais cotado entre os cinco cardeais brasileiros. Dom Odilo Scherer é titular de Sant'Andrea desde 2007 - a tradição do Vaticano prevê que cada cardeal seja titular de uma igreja em Roma. Em torno de 150 repórteres, cinegrafistas e fotógrafos ocuparam a igreja durante a missa que marcou o último compromisso público dos cardeais antes do conclave. Pela primeira vez em muito tempo, faltaram lugares para todos se sentarem em Sant'Andrea. Dom Odilo chegou numa caminhonete preta, com vidros escuros acompanhado de padres brasileiros e pelo menos dois seguranças.
- É bom ver que tem bastante gente hoje aqui - disse o cardeal, ao subir a escadaria da igreja, referindo-se ao batalhão de jornalistas que o cercou.
Os poucos metros entre a entrada e o altar foram vencidos com muita dificuldade. Um dos padres residentes teve de pedir calma e organizar a permanência de todos os cinegrafistas e fotógrafos na entrada da igreja.
Mas nem o tumulto nem o burburinho atrasaram a missa, iniciada por dom Odilo pontualmente às 10h30min (6h30min no horário de Brasília). Ele agradeceu a presença de todos também em português, mas durante a celebração falou italiano fluente. É um homem comedido nos gestos, mas excelente orador.
A proximidade do conclave e a discrição exigida nessas horas fizeram com que adotasse um tom cauteloso no sermão, parecendo medir e escolher as palavras. Mesmo assim, fez uma breve menção ao domingo em Roma.
- Todas as igrejas da cidade estão vibrantes hoje com os cardeais rezando pelo conclave.
O tema escolhido foi a parábola do filho pródigo, pontuada pelo perdão e pela reaproximação com Deus.
- Quero que todos orem para a Igreja fazer sua missão. É seguramente um tempo difícil, mas é também de alegria.
A cada movimento mais expansivo, os disparos de dezenas de máquinas fotográficas ecoavam. Os fiéis olhavam com desconfiança aquela inquietude atípica em Sant'Andrea. Muitos tiveram de ficar em pé por falta de assentos. Dom Odilo falou durante pouco mais de 20 minutos. Ao final, pediu que um casal de italianos que completara 70 anos de casado ficasse em frente ao altar.
- Que bonito isso. Hoje ainda é possível que as pessoas fiquem tanto tempo juntas. Devemos saudar o matrimônio e a família - encerrou.
Depois da missa, dom Odilo permaneceu por minutos na casa paroquial e conversou com auxiliares. Ofereceram-lhe café, ele agradeceu. Na saída, apenas sorriu e se despediu. Hoje, às 9h30min, os cardeais participam da última congregação antes de se recolher à Casa de Santa Marta, no Vaticano.