Apenas a reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída pelo fogo há um ano, está estimada em R$ 100 milhões. A presidente Dilma Rousseff liberou R$ 40 milhões para remover os destroços e planejar a obra.
Manter estações e realizar pesquisa contínua em terras e águas austrais são exigências para garantir uma cadeira no grupo de 28 países com poder de voto no Tratado da Antártica. Entre suas normas, o acordo internacional embarga até 2048 a exploração econômica na região.
- Quando for decidida a exploração mineral na Antártica, o Brasil vai ter voz ativa, o que é importante no cenário internacional - ressalta o contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), responsável pelo Proantar.
Cientista sênior do programa e delegado brasileiro no comitê internacional de pesquisa na Antártica, o professor da UFRGS Jefferson Simões acredita que, sem Ferraz, o Brasil correria sério risco de perder direito de voto no tratado. Perderia prestígio político e científico. Por isso, a urgência e o cofre aberto para erguer uma nova e moderna estação.
O Proantar também passa por reformulação científica, mais um movimento para turbinar a relevância do país entre os membros do tratado. A guinada passará por ampliar a cooperação com centros de excelência internacional e por expandir as pesquisas para outras regiões da Antártica.
Comparado com outros países, o investimento brasileiro é tímido. Dono do programa mais ambicioso do planeta, os Estados Unidos aplicaram no ano passado
US$ 76 milhões (R$ 149 milhões) só em pesquisas na Antártica (sem contar a logística). No Brasil, o Ministério da Ciência e Tecnologia investiu R$ 144,8 milhões em 12 anos. Só em 2012, a Índia aplicou R$ 13,7 milhões, e a China, R$ 19,6 milhões.
- O que determina o status de um país é a qualidade e o impacto de sua ciência. Ter uma estação é condição mínima, é preciso ciência de envergadura - destaca Simões.
Ciência verde-amarela
Criado em 1982, o Programa Antártico Brasileiro atua em diferentes linhas de pesquisa, que envolvem o estudo do oceano, da fauna e flora, do clima e do gelo na região. O país usa dois navios, acampamentos, módulos avançados e a Estação Comandante Ferraz, em reconstrução, para executar as pesquisas. Confira alguns temas na pauta da ciência brasileira:
Aquecimento global
- Retração das geleiras e seu impacto no clima com pesquisas em postos avançados, como o módulo Criosfera 1, no interior do continente
- Diminuição do gelo marinho, o qual afeta a quantidade de krill, crustáceo que alimenta baleias-azuis e outras espécies
Meteorologia
- Previsões de frentes frias que se direcionam ao Brasil
- Movimentos das correntes marítimas
- Com uma área de 34 milhões de km2², incluindo continente e oceano, a Antártica exerce influência direta no clima e na biodiversidade do planeta
Radiação ultravioleta
- O Polo Sul, devido ao buraco na camada de ozônio, é vulnerável à radiação solar ultravioleta (UV)
- Alguns organismos são mais resistentes aos efeitos nocivos dos raios UV. Podem ser fonte para a elaboração de protetores solares mais eficientes para a pele humana
Por que é importante investir na Antártica?
Interesses políticos
- Um acordo internacional proíbe a exploração econômica da Antártica até 2048, quando a questão será revista pelos membros consultivos do Tratado Antártico. São 28 membros, um deles o Brasil
- Sem ciência contínua, o Brasil perderia o direito de opinar no futuro da Antártica
- A região concentra 70% da água potável do planeta, recurso que ficará cada vez mais valioso
- Tem reservas de gás natural, petróleo e níquel
Estações abertas o ano todo No continente gelado: 40
Exemplos:
- Brasil: uma permanente
- Índia: duas permanentes
- China: duas permanentes e uma de verão
- Rússia: quatro permanentes e cinco de verão
- África do Sul: uma permanente