Por trás de insuspeitas lancherias, o grupo liderado pelo traficante Juliano Biron da Silva movimentou dinheiro do tráfico de drogas. E mais: entre um estabelecimento e outro, integrantes da facção repassavam armas, drogas e até carros roubados.
Conforme investigações da Polícia Civil feitas em 2017, a rede Skillus Lanches serviu para lavar dinheiro do tráfico. Em 2016, o Denarc já desvendara que Biron era sócio da casa noturna Seraphine Resto Lounge, instalada dentro da Arena do Grêmio.
Preso em janeiro de 2016 pelo homicídio do fotógrafo José Gustavo Bertuol Gargioni, Biron se apresentou à polícia como empresário. Disse ter renda mensal entre R$ 10 mil e R$ 15 mil da venda autônoma de carros. Sobre a Seraphine, alegou ser apenas “promoter” da casa.
No mês seguinte, a polícia fez buscas no local e encontrou documentos de retirada de dinheiro em nome de Biron. Ainda no depoimento, o criminoso revelou ser sócio de empresa do ramo alimentício que prestava serviços ao governo concorrendo por meio de licitações.
O suposto sócio dele, o contador Neri Galvão de Mattos, negou a sociedade. Mattos é investigado com a facção por lavagem de dinheiro.
O trabalho de rastreamento em relação à Skillus começou depois da prisão de Biron. Quebra de sigilos apontou o uso de contas das lanchonetes para pagar despesas do traficante e repassar dinheiro a ele. Os criminosos também colocavam bens em nome dessas pessoas jurídicas.
Ao longo da apuração, o Denarc monitorou a movimentação nas Skillus, flagrando a presença de investigados por tráfico ligados a Biron, tido como um dos maiores distribuidores de drogas do Estado. Em um dos relatórios de serviço, policiais relatam entrega de dinheiro.
Flagraram um cunhado de Biron, gerente de uma das lancherias de Canoas, recebendo maços de dinheiro de um colombiano no local. O pagador chegou de motocicleta e entrou no carro do gerente, uma Captiva. Depois, um funcionário da lancheria foi até o carro e pegou maços de dinheiro. Tudo filmado pelo Denarc e constando em processo judicial.
Conforme denúncia do Ministério Público, esse gerente, Carlos Alberto Ferro de Guimarães, além de gerenciar uma das lanchonetes, lidava diretamente com tráfico de drogas, de armas, clonagem de veículos e fazendo e recebendo pagamentos pelos negócios escusos. Também em conversas gravadas com autorização judicial foram flagradas referências a encontros envolvendo algum estabelecimento da Skillus.
Em depoimentos, testemunhas detalharam a rotina dos negócios, sempre afirmando que Biron era o verdadeiro dono da rede, com lojas em Canoas, Gravataí, Cachoeirinha, Cidreira, Tramandaí, Palmares do Sul e Porto Alegre. As lanchonetes eram, à época da investigação, registradas em nome de José Derli Ferreira.
A apuração focou no período entre 2012 e 2016, quando o número de estabelecimentos aumentou e, segundo a investigação, Derli teve crescimento patrimonial incompatível com a renda. Em apenas um ano, teria comprado mais de uma dezena de bens, entre terrenos, apartamentos e casa.
Durante buscas no imóvel dele, a polícia encontrou R$ 187 mil em fundo falso. Outra testemunha contou que estacionamentos das Skillus eram usados para esconder carros roubados. Serviam para testar se daria algum problema com rastreador, por exemplo.
O repasse de armas também era comum, além do recolhimento de dinheiro para envio a Foz do Iguaçu, provavelmente, para pagamento de drogas que abasteceriam o bando. Os investigados por lavagem de dinheiro foram denunciados e respondem a processo.
À polícia, Derli negou ter negócios com Biron. Disse que o conhecia há 30 anos e que costumava emprestar carros para ele.
Contrapontos
O que diz Cesar Peres, advogado de José Derli Ferreira:
Meu cliente é o dono das lancherias, que seguem funcionando. Algumas mudaram de nome. A atividade é lícita, fato reconhecido pela própria magistrada do processo. Não se pode cogitar lavagem de dinheiro.
O que diz Adriano Marcos Santos Pereira, advogado de Juliano Biron da Silva:
Preferiu não se manifestar.