Além de problemas em prédios residenciais e comerciais, o M.Grupo vem sendo destituído de shoppings de mais quatro cidades do Estado, além de Gravataí, alienados como garantias de financiamentos. A Ápice Securitizadora, administradora de fundos de pensão em São Paulo, emprestou, entre 2013 e 2014, R$ 198 milhões ao M.Grupo para investir em seis empreendimentos – shoppings em Gravataí, Santa Cruz e Xangri-Lá, parte dos shoppings de Bento Gonçalves (40%) e Lajeado (30%) e um hotel em Bagé.
A dívida seria quitada com o aluguel de salas nos shoppings e de quartos no hotel. Mas o M.Grupo não cumpriu – a dívida é de R$ 231 milhões –, e a incorporadora perdeu a propriedade dos empreendimentos. A Ápice assumiu e, na quinta-feira, realizou leilão do shopping de Gravataí e dos 30% do shopping de Lajeado. Não apareceram interessados. A Ápice seguirá no controle. Em Gravataí, a ideia é organizar uma nova gestão:
– O M.Grupo apresentou argumento pífio de crise econômica, reduzindo os pagamentos em 80% de um mês para o outro. Bastou visitar o shopping de Gravataí para perceber que 80% dos lojistas não haviam saído e algo estava errado. O que o M.Grupo pagou não cobriu sequer a manutenção das dívidas – afirma o advogado da Ápice, Ricardo Jobim.
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Em Xangri-Lá, dois negócios interrompidos
A expansão dos negócios do M.Grupo para o Litoral Norte naufragou em dívidas com o dono de 15 terrenos em Xangri-Lá, com compradores de unidades de um hotel do tipo flat que a empresa iria erguer e com proprietários de um shopping.
Os terrenos já foram vendidos pelo M.Grupo para terceiros, o hotel ficou só no papel e a empresa perdeu o shopping na Justiça por causa de débitos com uma financeira.
O M.Grupo já tinha loteado terras em um condomínio de Capão da Canoa e avançou para Xangri-Lá com propostas mais ousadas. Em setembro de 2012, comprou o Aldeia Praia Shopping, inaugurado em 1996 na Avenida Paraguassu com 44 lojas. Os proprietários ficaram felizes quando Lorival Rodrigues apresentou a proposta.
– Pensamos que estávamos com sorte – lembra um dos antigos donos.
O M.Grupo pagou parte em dinheiro, e o saldo seria quitado com a entrega de 10 salas comercias do Unique Center, em Gravataí. Mas não entregou as salas e deixou de pagar o saldo.
Os antigos proprietários do Aldeia Praia Shopping ingressaram na Justiça cobrando R$ 1,5 milhão do M.Grupo, mas a ação foi suspensa até que o Tribunal de Justiça do Estado dê seu parecer sobre a falência da incorporadora.
Em dezembro, por determinação da Justiça, o controle do shopping foi repassado para a Ápice – a quem o M.Grupo não pagou o financiamento da compra. Hoje, o imóvel está fechado para reformas.
Paralelamente, o M.Grupo locou espaços ao lado do shopping e os sublocou para comerciantes, ampliando as opções de alimentação. Mas o dono da área também cobra aluguéis atrasados na Justiça. O valor chegaria a R$ 300 mil.
Já o Hotel Flat Atlântida, que entraria em operação em 2014, teria 14 pavimentos e 70 apartamentos na Avenida Central. Teve seus quartos vendidos em forma de cotas: os compradores tinham a expectativa de lucrar com futuras locações, e, além disso, eram atraídos com a promessa de que o M.Grupo recompraria as unidades caso desejassem desfazer o negócio. Como a obra não andava, alguns clientes optaram pela revenda. Hoje, reclamam que o M.Grupo pagou apenas a metade do valor combinado.
– Pararam de pagar, não atendiam telefone – lamenta uma médica que comprou um dos quartos por R$ 120 mil.
Um empresário de Porto Alegre adquiriu três apartamentos, desembolsando, à vista, R$ 360 mil. Ele lembra que pretendia deixar o investimento como herança para os filhos.
– É frustrante. Perdi muitas noites de sono nos últimos dois anos – desabafa.
Já o empresário Flávio Cassacia, que era dono dos terrenos onde seria o hotel, reclama do M.Grupo uma pendência de R$ 400 mil que deveria ter sido quitada em junho de 2014. Trata-se da última parcela da venda da área, que havia sido fechada em março de 2013.
Vaquinha para pagar a luz no Shopping de Lajeado
O M.Grupo chegou ao Vale do Taquari querendo impressionar lojistas com promessas de revitalização do shopping de Lajeado e clientes em dobro circulando pelos corredores.
Inaugurado em 1994, o então UnicShopping, localizado às margens da BR-386, pertencia à empresa Transporte Conexão Sul e foi vendido ao M.Grupo em novembro de 2012, quando passou a ser chamado de Shopping Lajeado.
Quatro anos depois, problemas estruturais e falta de manutenção de elevadores e escadas rolantes viraram rotina. Com sucessivos cortes de energia elétrica por falta de pagamento, o shopping recorre à vaquinha feita pelos lojistas para pagar o óleo diesel do gerador de energia.
– Da última vez que houve corte de energia (em março passado), o gerador pifou e acabou a luz – lembra o proprietário de um restaurante, que prefere não se identificar.
– A cada mês estamos correndo atrás de dinheiro para pagar energia elétrica – diz o advogado da associação dos lojistas, Cesar Walmor Bublitz.
O M.Grupo não honrou o pagamento dos financiadores da compra do empreendimento e pode perdê-lo na Justiça.
Ex-dono de shopping de Santa Cruz, cobra R$ 12 milhões do M.Grupo
Em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, o M.Grupo adquiriu do empresário Roque Dick o Max Shopping Center, em fevereiro de 2014, por R$ 8 milhões. Das cinco parcelas semestrais combinadas para o pagamento, apenas a primeira, de R$ 1 milhão, foi quitada. Dick pede na Justiça o pagamento de R$ 12 milhões. Também nesse caso o M.Grupo deve para a Ápice, seguradora à qual o imóvel está alienado e que já retomou a propriedade do imóvel por meio de uma decisão judicial. O empreendimento recebeu novo nome: Shopping Germânia.
Ao ficar sob a administração do M.Grupo, o Max Shopping – que fora inaugurado em novembro de 2009 – sofreu com reclamações tanto dos lojistas quanto dos clientes por falta de segurança, pouca iluminação e problemas de manutenção do prédio, incluindo vasos sanitários entupidos.
Em Bento Gonçalves, um negócio abandonado
O derradeiro negócio do M.Grupo envolvendo shoppings ocorreu na Serra. Em outubro de 2013, por meio da M.Blue Participações, adquiriu 29 das 71 lojas do Shopping Bento Gonçalves. Também nesse caso perdeu o controle dos estabelecimentos por causa de dívidas com o agente financeiro, além de ser alvo de cobrança pelo antigo dono das lojas – aqui, a dívida envolve a hipoteca de um sítio.
Seria o quinto investimento em shoppings, mas o M.Grupo demonstrou pouco entusiasmo com o negócio em Bento. Oito das 29 lojas nunca foram abertas. Durante os três anos em que a empresa foi dona dos estabelecimentos comerciais, a taxa de condomínio não foi paga, embora o M.Grupo recebesse os valores dos inquilinos das 21 lojas ocupadas.
Na compra das lojas, a empresa de Lorival Rodrigues prometeu pagar R$ 7,8 milhões, em parcelas, além de ceder, no negócio, 12 terrenos em Capão da Canoa, no Litoral Norte. Foram pagos apenas R$ 500 mil.
O processo de cobrança movido pela construtora que detinha a propriedade dos estabelecimentos se arrasta na Justiça. Em novembro de 2014, chegou a haver a homologação de um acordo, segundo o qual o M.Grupo se comprometia a pagar R$ 4,2 milhões, e, como garantia, hipotecou uma propriedade de 36,8 mil metros em Bom Princípio, no Vale do Caí. Mas o acordo não foi cumprido.
O imóvel de Bom Princípio fora recebido pelo M.Grupo em uma permuta com um empresário, que teria, em troca, 23 salas no Unique Business Center de Gravataí – de cuja posse a empresa foi destituída judicialmente.
Em dezembro, a 3ª Vara Cível de Bento Gonçalves transferiu a posse das 29 lojas do shopping para a Ápice Securitizadora, que quitou débitos de R$ 1,5 milhão com taxas de condomínio vencidas e, agora, busca locadores para as lojas desocupadas.
A palavra de Lorival Rodrigues, sócio do M.Grupo
Sobre dívidas com a compra do shopping de Xangri-Lá e de um terreno na mesma cidade, onde seria construído um hotel.
A Magazine Incorporações tem os pagamentos amarrados a condicionantes. Não podemos revelar essas condicionantes, pois há termo de confidencialidade entre as partes.
Sobre a venda de unidades de um hotel em Xangri-Lá que não foi construído (O GDI apurou que compradores receberam metade do valor e estão cobrando o restante na 5ª Vara Cível do Fórum Central da Capital).
Não procede tal informação. Existia interesse de se fazer um projeto, mas não houve viabilidade financeira, devido à crise.
Sobre a venda, para uma empreiteira, do terreno onde seria o hotel em Xangri-Lá, sobre a indisponibilidade, por ordem da Justiça, do escritório do M.Grupo na Capital, e da casa em Jurerê, e, ainda, sobre os leilões do escritório do M.Grupo, em São Paulo.
A Magazine Incorporações, como uma empresa privada e não de capital aberto, faz uso das estratégias necessárias para fazer frente a negociações entre partes, o que não é de interesse público e sim privado.
Sobre as dívidas do M.Grupo junto aos antigos proprietários dos shoppings de Bento Gonçalves e Santa Cruz do Sul.
Também se trata de contratos da Magazine Incorporações, que tem pagamentos amarrados a condicionantes, que não podem ser revelados.
Sobre o fato de a administração do shopping de Lajeado não pagar contas de luz.
A administração do shopping de Lajeado não é responsável pelo pagamento das contas de energia, visto que essa é uma atribuição do condomínio do shopping. Todas as contas do condomínio são pagas através dos valores recebidos dos lojistas destinados a esse título. Em momentos pontuais ocorreram atrasos nos pagamentos, sendo que todos se deram em razão da alta inadimplência dos lojistas naqueles momentos, chegando esta à cifra aproximada de R$ 1,5 milhão. Todavia, esses débitos foram negociados pelo condomínio com a empresa fornecedoras e estão sendo pagos. O shopping se encontra em pleno funcionamento, sem qualquer intercorrência.