O município de São José do Norte, no sul do Estado, registrou fila de quase cinco quilômetros de caminhões na BR-101 no decorrer desta terça-feira (7). A prefeitura interceptou os veículos de carga ainda na rodovia para evitar cenário de caos no interior do município de 25,4 mil habitantes.
Aos poucos, debaixo de períodos de intensa chuva, as carretas, muitas delas de grande porte e carregadas, eram liberadas a ingressar na zona urbana e se dirigir ao serviço de balsa, onde é feita a travessia da Lagoa dos Patos para Rio Grande.
O intenso movimento não é comum em São José do Norte e é uma consequência da crise climática que castiga o Rio Grande do Sul.
Depois que estradas como a BR-290 sofreram bloqueios e danos estruturais, São José do Norte restou como ligação entre a região metropolitana de Porto Alegre e a zona sul do Estado.
Isso força caminhões e veículos de cidades como Rio Grande, Pelotas, Camaquã e Piratini a buscarem a balsa e adentrarem São José do Norte para seguir viagem para o entorno de Porto Alegre, via BR-101 e RS-040.
O mesmo vale para quem sai da Capital rumo a Rio Grande ou Pelotas: o caminho possível é por São José do Norte. Isso produziu uma movimentação intensa e fora dos padrões desde o último sábado (4).
Alex Sandro de Souza, secretário municipal de Turismo, Esporte e Lazer, estima que o fluxo de veículos pesados e leves foi quadruplicado. Passou de três horas o tempo de espera para fazer a travessia nesta terça-feira.
O nível da Lagoa dos Patos apresentava elevação e avançava sobre parte do centro de São José do Norte. Isso acabou alagando o atracadouro tradicional da balsa, forçando seu deslocamento para um lugar mais alto, de forma improvisada, com uso de montes de saibro para dar mais estabilidade à rampa de embarque e desembarque.
Debaixo de intensa chuva acompanhada de vento, funcionários da prefeitura usavam pás para modelar o saibro. Eles gritavam e corriam apressadamente para orientar o trânsito e o acesso à balsa.
Situação na Zona Sul
São José do Norte registrava, na manhã desta terça-feira, quatro pessoas abrigadas no Ginásio Municipal de Esportes Mario Malta. Embora ainda comedido, o número de desabrigados deve subir, avalia Fernando Machado, chefe de gabinete da prefeitura.
Existe o prognóstico de que a zona sul do Estado deverá ser a próxima região gaúcha a sofrer alagamentos severos. As águas do Guaíba e de outros rios que inundaram Porto Alegre descem para a Lagoa dos Patos, antes do escoamento para o Oceano Atlântico.
O cenário eleva o risco de alagamentos em cidades importantes e populosas da Zona Sul. Em Rio Grande, o boletim do município publicado às 10h20min desta terça-feira indicava 229 pessoas desabrigadas, das quais 193 foram para residências de amigos e familiares e 36 recorreram a abrigos.
Rio Grande já sofre alagamentos em trechos de 21 ruas pelo avanço da Lagoa dos Patos, que estava 54 centímetros acima do nível normal.
Em Pelotas, a prefeitura divulgou, no início da tarde, um alerta de "risco imediato" de inundação para que moradores deixem suas casas. O aviso foi direcionado a habitantes de regiões como Z3, Pontal da Barra, Marina Ilha Verde, Parque Una, Fátima, Navegantes, Quadrado e Doquinhas.
No Laranjal, devem sofrer cheia as regiões de Santo Antônio, Valverde e Pontal.