As crianças são os adultos do futuro e, mesmo que demore um tempo para a formação de opinião crítica e posicionada, são elas que farão o Brasil daqui a algumas décadas. Em alusão ao bicentenário da Independência do Brasil, a reportagem do Diário Gaúcho conversou com alunos do 3° ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Giúdice, localizada no bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre, para saber o que elas imaginam e desejam para o futuro.
No papel, as ideias de quem só tem oito ou nove anos foram as mais diversas, desde um mundo onde as pessoas priorizem as brincadeiras que não envolvem a tecnologia até o fim de conflitos internacionais, como da Ucrânia e Rússia. A atividade foi orientada pelas professoras das turmas 33 e 34, Melissa Machado Terra e Rochele Silva Ribarczyki, respectivamente. Desejos simples transpareceram nos desenhos, como a ideia da Agatha Gabriely Martins Bueno, de oito anos:
— Desejei no mundo que no futuro não tenha mais joguinhos — disse com uma pausa para contextualizar a expressão. — Sem jogo de celular, porque quando eu quero brincar não tem ninguém. Sempre estão dentro do telefone quando quero só brincar.
Já Isabelle Carvalho de Lima, oito anos, desenhou em cenários diferentes, divididos na folha A4, problemas que existem no Brasil há bastante tempo:
— Desenhei um futuro sem racismo, sem roubos e sem colocar fogo na Amazônia.
Na turma 33, diversos temas veiculados atualmente na mídia foram repercutidos entre os pequenos, mas uma questão foi a mais citada pelos alunos. Alice Nonemacher Alves, de oito anos, representa o grupo com a mesma ideia:
— Eu queria que acabasse o preconceito entre as pessoas.
A professora Melissa explica que, além da história do Brasil, a atividade envolveu pensar nas diferenças entre o passado e o presente, sobre o que mudou e o que pode melhorar ainda.
Pensei que seria bom todo o mundo se unir para limpar a sujeira do país
SAMYRA SILVA BORGES
9 anos
— Trabalhamos um pouco da história, a partir do descobrimento até chegar a 1822, fazendo uma linha do tempo. E hoje (segunda-feira) estávamos pensando no futuro, o que eles querem para quando crescerem. A gente trabalhou as diferenças, de como era em 1822 para agora, aí veio muita coisa com os anos, como a tecnologia, o carro, a internet. Vieram também coisas ruins, e aí surgiram alguns assuntos que foram colocados nos desenhos _ relata a professora Melissa, remetendo a temas como guerra e racismo.
Desejos genuínos
Mais amor, amizade, respeito e igualdade são alguns dos desejos dos alunos da turma 34. Os desenhos foram pendurados lado a lado embaixo do quadro, onde cada um dos alunos mostrava qual era o seu. As ilustrações tinham cores, detalhes e um pouco de bagagem do que eles experimentam no mundo a partir de seus olhares, necessidades e interesses.
O aluno Nicolas Gabriel Gomes Selbach, nove anos, desenhou o Neymar como um símbolo do Brasil do futuro e mencionou a próxima Copa do Mundo, mas ao ser questionado sobre o que ele não gosta e não deseja para o futuro, ele foi direto:
— O racismo.
Já o Pyetro Cavalheiro Gianluppi, oito anos, demonstrou uma preocupação genuína com a natureza e os bichos:
— Que no futuro as pessoas sejam mais bondosas com os animais.
Para a turma, o momento de trabalhar a Independência do Brasil foi uma experiência nova, já que eles, agora no 3° ano, retornaram de um longo período longe da sala de aula, sem o momento cívico ou a discussão dos temas pertinentes. No desenvolvimento das atividades se mostraram participativos e criativos para recriar a história do Brasil que é deles.
— Além de falarmos da história da Independência do Brasil, eles produziram a bandeira, depois tivemos a produção sobre a pátria e o que ela representa. Eles desenharam as pessoas, os animais, a natureza, e construíram tipo uma história em quadrinhos. Finalizamos com a questão do que eles querem para o Brasil — explica a professora Rochele, que também trabalhou com o número 200, em cálculos.
Confira, abaixo, alguns dos desejos dos alunos:
"No futuro o mundo pode ser sem preconceito, todos sendo amigos"
Arthur de Lima Dornelles, 8 anos
"Quero que acabe as guerras e que não tenha a Terceira Guerra Mundial"
Gabriel de Boer, 9 anos
"Eu pensei em não ter mais roubo, porque se a gente tá numa rua perigosa com o telefone na mão as pessoas podem roubar"
Maria Eduarda Machado da Silva, 8 anos
"Pensei que seria bom todo o mundo se unir para limpar a sujeira do país"
Samyra Silva Borges, 9 anos
"Temos que cuidar da natureza. No inverno, não cuidamos das folhas das árvores e elas caem. Mas aí nascem outras"
Alice Fernandes Pavani, 9 anos