BRASÍLIA, DF (UOL/FOLHAPRESS) - A implementação do 5G não deve ocorrer antes do fim de 2021, segundo estimativa do ministro Marcos Pontes, que comanda a pasta de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O 5G vai permitir conexão sem fio com velocidade dez vezes superior à do 4G.
Ao programa de entrevistas do jornal Folha de S.Paulo e do UOL, em estúdio compartilhado em Brasília, Pontes disse que o leilão para selecionar as empresas que vão atuar no 5G deve sair só no próximo ano. Segundo ele, há um entrave técnico, com a possibilidade de interferência com antenas parabólicas para televisão em uma das frequências a serem leiloadas.
"Tenho que ter pelo menos uma estratégia de mitigação. Imagino que no fim de 2021 e começo de 2022 comece a ter implementação de um piloto".
O ano de 2020 também será de aperto orçamentário para a ciência, segundo o ministro. Mas Pontes diz garantir a manutenção das 84 mil bolsas pagas pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Astronauta, ele ironizou terraplanistas ("não é plana, eu vi de fora") e minimizou questionamentos do governo sobre dados de desmatamento, embora tenha se colocado fora da discussão.
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Terra plana e fake news
"Não é plana, eu vi de fora. Essa é uma coisa antiga e nos incentiva dentro do ministério a melhorar a divulgação científica. Melhorar a formação dos jovens, dos professores. Falar em terraplanismo, embora seja engraçado, é inócuo. Mas quando se pensa em vacinas, fica complicado. Então isso tem que ser combatido."
Dados de desmatamento
"Sempre vai haver um certo questionamento em relação à ciência. Os planos em 2020 são de ampliar a atuação do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]. Daquele momento, lá no meio do ano, com a questão do [ex-presidente do Inpe Ricardo] Galvão, até aqui, você vê como mudou essa aproximação.
Trabalhamos com o número, com fatos, relatórios. O que aconteceu foi um problema de comunicação, basicamente. O Deter trabalha com alertas de desmatamento, não é desmatamento. O Prodes trabalha com o desmatamento. Então, aquilo no início partiu de dados do Deter. [Em novembro, dados anuais de destruição da Amazônia confirmaram o maior desmatamento da década]. Isso está no passado e o futuro é muito mais brilhante. O que nós temos que fazer é prover os dados e eles vão ser utilizados pelo Ministério do Meio Ambiente e assim por diante. Temos que fazer nossa função."
5G
"O projeto tem avançado, mas o ministério trabalha muito regrado. Agora vai sair um decreto que faz a regulamentação do que vai ser feito, quem vai fazer o que, quando, onde e de que forma.
É preciso ter uma infraestrutura preparada. Há a conversa com as prefeituras para instalação de antenas, porque o 5G exige uma quantidade grande, e a regulamentação é das prefeituras. Queríamos fazer o leilão em março, mas tivemos que segurar.
Existem quatro frequências básicas em torno das quais vai ser feito o leilão para as empresas poderem utilizar. A 3,5 GHz é a frequência básica de 5G em quase todo planeta, e aí a gente tem um probleminha. Existe a possibilidade de haver interferência com antenas parabólicas para televisão. Um estudo inicial não foi conclusivo, então pedi um novo. Tenho que ter pelo menos uma estratégia de mitigação caso ocorra interferência.
A ideia é que até o final deste ano a gente faça o leilão. Essa é a minha estimativa, mas talvez fique só para 2021. Então, imagino que no final de 2021 e começo de 2022 comece a ter implementação de algum piloto."
Orçamento para ciência
"Todos passamos um aperto em 2019, e 2020 não vai ser diferente. Eu tenho que cuidar para que os meus braços operacionais, nas unidades de pesquisa, continuem funcionando. No ano passado, as unidades de pesquisas não sofreram contingenciamento. Tiveram o orçamento do ano todo, que não é alto e precisa melhorar.
Este ano a gente tem um orçamento completo das bolsas. Por outro lado, o recurso de fomento está bem mais baixo. Então estou tentando achar maneiras de recompor."
Fusão CNPq e Capes
"O MEC veio com essa ideia, que, aliás, surge de tempos em tempos. Mas são órgãos diferentes, têm funções diferentes. A Capes [ligado ao MEC] trabalha com a formação de profissionais, na pós-graduação. E o CNPq, com pesquisas, financiamento, tem um sistema de acompanhamento que a Capes não tem. A junção não faz sentido.
Eu acho o assunto já ultrapassado, mas é igual fogueira, de vez em quando acende uma brasa. Conversei bastante com o pessoal da economia, e eles entenderam bem."
Base de Alcântara
"A primeira parte era a assinatura do acordo com os Estados Unidos e a aprovação no Congresso. A operação do centro de Alcântara [no Maranhão] é do Comando da Aeronáutica e a gente vai oferecer comercialmente serviços de lançamento.
E por que foi feito inicialmente com os Estados Unidos? Porque 80% dos satélites e foguetes no planeta têm peças americanas. A influência dos Estados Unidos na base é zero. Ali o gerenciamento é do Comando da Aeronáutica. Vindo essa empresa pública, a Alada [cuja criação está em discussão], ela vai gerenciar esse sistema.
Os Estados Unidos, Japão, outros países, são clientes comerciais. As áreas restritas são previstas em todos esses centros. Você não quer que a sua tecnologia seja roubada. Por isso há áreas restritas.
A próxima fase é parte de planos de negócios a ser feito ao longo de 2020. A ideia é conversar com o governo local, a prefeitura de Alcântara, o governo do estado, quilombolas, as pessoas da região e todas as comunidades. Um centro modifica muito a região e [vamos discutir] o que vai ter que fazer para operacionalizar lançamentos de foguetes comerciais de outros países e futuramente nossos foguetes e satélites.
No final do ano espero chegar a um consenso. Durante 2020 a gente vai aumentar o estado operacional das equipes, porque isso exige profissionais muito bem preparados. Em 2021 já se espera fazer alguns lançamentos de foguetes suborbitais, de sondagem, para testar. Espero que em 2022 já tenha lançamento de um foguete comercial."
MARCOS PONTES, 56
Nascido em Bauru (SP), é tenente-coronel-aviador, piloto da Força Aérea Brasileira e engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, com mestrado pela Naval Postgraduate School, nos EUA. Foi incorporado à classe de astronautas da Nasa em 1998 e, em 2006, viajou para a Estação Espacial Internacional.