O homem que segue desaparecido nos escombros do prédio que desabou durante incêndio em São Paulo era conhecido por ser dócil e gentil. Trabalhador da Avenida 25 de Março, polo do comércio popular paulista, Ricardo, teria saído do edifício durante a ocorrência, mas supostamente retornou para ajudar na evacuação do local. Em razão das diversas tatuagens que carregava no corpo, ganhou o apelido carinhoso de Tatuagem dos moradores da ocupação, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
Ricardo, que aparenta ter cerca de 30 anos, atua como carregador de mercadorias para lojas. Enquanto o prédio era consumido pelas chamas, ele auxiliava seus companheiros de ocupação na tentativa de sair do local em meio ao calor do fogo e à fumaça que dominavam o imóvel.
Segundo relato de moradores, Ricardo orientou idosos na descida das escadas e subiu de andar em andar, batendo de porta em porta e gritando entre os corredores na tentativa de alertar os ocupantes sobre a tragédia que estava por vir.
A investida do carregador acabou no oitavo andar, onde se viu encurralado em meio às chamas e à fumaça que invadiam e consumiam a estrutura do edifício. Com a luz emitida pelo celular, conseguiu mostrar sua localização aos bombeiros que estavam no terraço de um prédio vizinho combatendo o incêndio.
Os profissionais jogaram uma corda na direção de Ricardo. O acessório de resgate é o mesmo utilizado em atividades de rapel. Segundo os Bombeiros, Ricardo deveria amarrá-la junto ao corpo e se jogar. No entanto, antes de tentar fazer isso, o rapaz foi engolido pela queda do prédio de 24 andares.
"Milagre"
O capitão do Corpo de Bombeiros Marcos Palumbo disse que "só um milagre" para que Ricardo esteja vivo após o incidente:
— Mantemos um fio de esperança, mas ele caiu do nono andar e todo o prédio desabou. Precisaria de um milagre. Mas trabalhamos incessantemente apesar disso. Nosso trabalho é garantir a segurança e continuar no objetivo de encontrá-lo.
Sobre as causas do incêndio e desabamento do prédio o capitão do Corpo de Bombeiros disse que ainda não há uma hipótese. Segundo ele, a polícia levantará as informações necessárias e a causa será apontada no inquérito.
O porta-voz da corporação reforçou o fato de que o prédio passou por vistoria e que o relatório foi encaminhado ao Ministério Público para que as ações fossem tomadas.
— Todos os órgãos não vão sozinhos resolver o problema. A gente espera que esses relatórios possam ser empregados para tirar as pessoas da situação de risco — disse.
O incidente
Um incêndio de grandes proporções atingiu dois prédios na madrugada desta terça-feira (1º) no Largo do Paissandu, no centro de São de Paulo. Um deles, um edifício com mais de 20 andares, que era uma antiga instalação da Polícia Federal e abrigava uma ocupação irregular, desabou. Pelo menos uma pessoa (Ricardo) segue desaparecida.
Por volta da 1h40min, o Corpo de Bombeiros começou a divulgar informações no Twitter sobre os primeiros esforços para combater o fogo. Viviam no prédio, em ocupação irregular, 92 famílias (248 pessoas, no total), segundo os bombeiros.
O Corpo de Bombeiros informou que os trabalhos no local do incêndio devem continuar durante a noite desta terça-feira e já foi providenciada iluminação artificial para a área. Sobre o prazo de 48 horas para uso de maquinário pesado o capitão Palumpo explicou que, nesse período, os bombeiros vão trabalhar para remover entulhos do entorno da área do desabamento.