Foi diante de muita emoção e aplausos de familiares, amigos e funcionários, que o corpo de Ivo Tramontina, ex-presidente e um dos fundadores de uma das maiores fabricantes de panelas, talheres e utensílios para cozinha do mundo, foi sepultado na tarde deste domingo no Cemitério Municipal de Carlos Barbosa. Minutos antes, o salão paroquial do município, onde desde o começo da noite de sábado era realizado o velório, ficou tomado por milhares de pessoas. Num cenário repleto de coroas de flores e semblantes emocionados, Seu Ivo, como era chamado, recebeu homenagens calorosas: crianças do Instituto Cultural dos Meninos Cantores e Amigos de Carlos Barbosa, os Canarinhos, e o Coral Tramontina transformaram em música o sentimento de gratidão que pairava por todo o local.
Depois de uma missa realizada pelo bispo Dom Alessandro Ruffinoni, o cortejo do caixão foi acompanhado pelo som de um violino e coberto de pétalas de rosas. No cemitério, os filhos de Ivo receberam abraços de diversos admiradores de seu legado. Ao todo, cerca de cinco mil pessoas se deslocaram até o local do velório para dar adeus ao empreendedor de 92 anos, que atuava como diretor conselheiro da Tramontina S.A. Ele morreu na tarde de sábado após sofrer complicações pulmonares.
Entre aqueles que lotaram o salão estava a família Flach, que já teve, ao mesmo tempo, seis membros como funcionários da Tramontina.
— Neste momento eu só quero expor minha gratidão a este homem. Ele esteve sempre ao lado dos funcionários, nos ensinando, aconselhando. E hoje, só o que posso fazer é agradecer por ter tido essa oportunidade. Ele é o maior exemplo de dedicação. É meu espelho de caráter e humildade — emociona-se Marino Flach, 52 anos, que há 28 trabalha na empresa.
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— Seu Ivo foi um pai para mim. Quando vim do campo com meus irmãos, foi ele que nos acolheu, nos deu emprego e nos ajudou a construir tudo o que temos hoje. Eu trabalhava no turno da noite e ele fazia questão de me buscar no salão onde eu jogava futebol. Carlos Barbosa não seria o que é se não fosse por ele. E a minha família também não. É um dia triste, mas só tenho lembranças boas guardadas na memória — conta o ex-funcionário Otávio Flach, 59.
Também muito emocionada, Alice Boscaini, 46, ocupava um das cadeiras durante os últimos momentos da despedida. Ao lado do marido, ela recordava tudo que viveu durante os 25 anos em que conviveu com Seu Ivo.
— Lembro o quanto ele me ajudou. Como me recebia sempre com um sorriso no rosto, me tratava tão bem que eu me sinto da família. Aliás, ele fazia com que todos os funcionários se sentissem especiais. Fica um vazio enorme, mas sei que ele cumpriu a sua missão da melhor forma. Ele é sempre vai ser meu exemplo de persistência e amor — confia.
O carinho por Ivo Tramontina também foi exaltado pela Funerária Caravaggio, responsável pela organização do velório e sepultamento: funcionários colocaram junto ao corpo um canivete, fabricado pela Tramontina, como forma da valorização de todo o trabalho feito por ele durante os anos de vida.
Em um texto lido antes da missa pelo funcionário Enio Bonacina, a história de Ivo Tramontina foi relembrada. A trajetória começou quando ele era ainda muito jovem. Inicialmente ajudando a sua mãe Elisa, ele trabalhou em vários setores da empresa até chegar à presidência. Em 1949, a fábrica, com 16 empregados, passou a ser administrada por Ivo Tramontina e Ruy J. Scomazzon, que ingressaram na empresa, ambos, respectivamente, com 23 e 21 anos de idade. Foi desta época dedicação ao trabalho que Ivo garantiu a prosperidade da Tramontina em uma história de mais de 100 anos. A participação dele foi decisiva para alcançar o patamar de uma das maiores empresas de cutelaria do mundo. No final da leitura, o funcionário agradeceu em nome de todos os colegas o tempo em que puderam compartilhar momentos ao lado de Seu Ivo.
No próximo final de semana, duas celebrações marcam o sétimo dia de falecimento. No sábado, uma missa será realizada às 18h na Igreja Matriz. Já no domingo, a celebração ocorre às 9h, no mesmo local.