O reitor Luiz Carlos Cancellier, dois empresários, um funcionário e nove professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foram presos ou conduzidos coercitivamente na manhã desta quinta-feira (14) de forma temporária durante a Operação Ouvidos Moucos. As informações foram repassadas em entrevista coletiva da Polícia Federal, em Florianópolis.
O foco da ação é o Programa Universidade Aberta (UAB), destinado a cursos de formação de professores a distância com o repasse de bolsas através da Capes. A proposta do projeto é que os formandos deem aula em cidades do interior do Estado. De 2006 até 2017, o governo federal destinou R$ 80 milhões para o programa. A investigação focou, no entanto, em
R$ 40 milhões, usados de 2010 até 2017.
Os investigadores da Controladoria-Geral da União (CGU) pegaram contratos por amostragem dentro desse valor e detectaram irregularidades. Por isso não é possível identificar quanto teria sido desviado.
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Entre 2010 e 2011, foram identificados problemas em 40 procedimentos de bolsas que totalizam R$ 350 mil. Também foram encontrados nomes de 100 parentes dos envolvidos no esquema como beneficiários. Nessa lista de familiares, o valor estimado em apuração é de
R$ 3 milhões.
Segundo a CGU, a investigação iniciou após vistorias rotineiras feitas na universidade. Como detectaram indícios de crime, os agentes da controladoria encaminharam os dados para a PF.
Desde que os problemas foram detectados, o órgão teria alertado a UFSC e pediu correções, mas elas não ocorreram, segundo o coordenador de operações da controladoria, Israel José de Reais Carvalho.
— A operação é uma fase da investigação para cessar a prática criminosa em andamento. As medidas visar atingir o grupo e tirar o acessos dos investigados — explicou a delegada responsável pela ação Érika Marena.
O reitor da UFSC chegou de Lisboa na quarta-feira (13) e foi detido temporariamente por cinco dias devido a indícios de obstrução à investigação da Corregedoria Geral da UFSC. Ele ficará afastado da função durante o andamento da apuração da Polícia Federal, segundo a delegada:
— Os indícios, os fatos que estão sendo investigados, apontam para que, houve algumas ações de dificultar a investigação que existia no âmbito geral da UFSC. Eu enfatizo que os envolvidos terão a oportunidade de esclarecer seus atos — afirmou a delegada.
Os nomes dos envolvidos não foram repassados durante a coletiva de imprensa. Mas Érika descreveu que os presos são pessoas que atuam junto à universidade, enquanto os conduzidos coercitivos não trabalham mais na instituição.
O caso, diz, ainda está sendo investigado e está em segredo de Justiça. O Diário Catarinense levantou que, além de interferir nas apurações internas das irregularidades, Cancellier teria recebido bolsas para atuar como tutor em alguns casos.
O reitor em exercício, Rogério Cid Bastos, reafirmou que a universidade está apoiando as investigações. Explicou que o programa de Educação a Distância (EaD) existe desde 2006 e que envolve a formação de administradores e professores na área de ciências, biologia e química.
Como o processo está em segredo de Justiça, a polícia pediu à 1ª Vara Federal que o sigilo seja retirado. Ainda não há decisão nesse sentido. Rogério Cid Bastos, pró-reitor de Extensão, ficará à frente da universidade até o retorno da vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann, que está em viagem ao México para participar de um congresso.
— A UFSC está trabalhando em parceria com a PF, o CGU e o TCU para esclarecer esses indícios e, caso sejam comprovados, possam ser corrigidos — disse o reitor interino.
As sete pessoas presas temporariamente estão na sede da Superintendência da PF, na Avenida-Beira-Mar Norte. Os delegados ainda não decidiram para onde eles serão levados pelos próximos cinco dias, tempo da prisão temporária. No prédio da polícia há duas celas com espaço para quatro pessoas cada com camas de concreto e colhões.
A UFSC emitiu uma nota oficial sobre o caso no final da manhã:
"A UFSC foi tomada por absoluta surpresa com a condução do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que no momento está acompanhado pelo Secretário de Aperfeiçoamento Institucional, Luiz Henrique Cademartori, na Superintendência da PF em Florianópolis;
A Vice-Reitora, Alacoque Lorenzini Erdmann, encontra-se em missão no exterior, razão pela qual o Pró-reitor de Extensão, Rogério Cid Bastos, assume interinamente a Reitoria;
A Administração Central tinha conhecimento dos procedimentos de apuração, conduzidos pela Corregedoria-Geral da UFSC sobre supostas irregularidades ocorridas em projetos executados desde 2006. Sempre mantivemos a postura de transparência e colaboração, no sentido de permitir a devida apuração de quaisquer fatos de modo a atender as melhores práticas de gestão.
Por fim, aguardamos mais informações sobre a operação da PF para apresentar à comunidade universitária e à sociedade os esclarecimentos devidos".