Inconformado com a demora no atendimento para a filha, um homem invadiu a sala de atendimento dos médicos do Postão 24 horas de Caxias do Sul na última sexta-feira, dia 5 de maio, para cobrar os profissionais. Lucas Batista, 28 anos, funcionário de uma empresa de fibra ótica, discutiu com dois pediatras e teve de ser retirado do local. Ele publicou um vídeo nas redes sociais em que mostra a cena.
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"Amigo, e aí? Minha filha (está) lá fora, com febre, e aí? Se dá uma convulsão, como vamos fazer? Doutores, eu sou um pai, a minha filha está lá fora com febre e vocês não podem atender? Que coisa boa, sentadinhos aí conversando", falou Batista ao ingressar na sala.
"Só um pouquinho, conversando sentadinho não", respondeu um dos pediatras.
"Não meu amigo, tem um monte de criança lá!", rebateu Lucas Batista.
"Só um pouquinho, chama a guarda. Estamos atendendo. Pode sair. Saia, por favor. Fica quieto. Cala a boca, respeito, respeito", reagiu o pediatra.
"Fica quieto o senhor! Cala a boca o senhor! Sem vergonha", prestou Batista antes de ser tirado do local.
A prefeitura conversou com os servidores, investigou o bate-boca e chegou à conclusão de que não se tratou de uma "operação tartaruga" – uma sindicância foi aberta na semana passada após denúncias de que alguns médicos estariam atendendo a um paciente a cada hora de trabalho.
Os profissionais envolvidos na discussão com Lucas Batista alegaram que estavam conversando sobre um caso complicado e que precisavam de um tempo para concluir o atendimento. Em entrevista nesta quarta-feira ao Pioneiro, Batista relatou que chegou às 16h no Postão e só conseguiu ir embora próximo à meia-noite. A garota foi chamada para a triagem às 20h30min e encaminhada para a consulta depois das 22h, segundo ele.
– Foi uma coisa chata, achei os caras sem compromisso. Eu pago meus impostos certinho para eles estarem lá descansando no serviço? O médico me mandou ficar quieto e eu só revidei. Que falta de respeito – afirmou.
De acordo com o procurador-geral do município, Leonardo da Rocha de Souza, a sindicância, composta por dois servidores da Corregedoria, foi instaurada para averiguar casos como o de Batista. As provas começam a ser coletadas nesta semana.
– Depois das provas, vamos ouvir as pessoas. Não há como prever datas porque não sabemos quantos podem estar envolvidos e a quantidade de denúncias comprovadas – salientou.
Quatro semanas de paralisação e brigas judiciais
A greve dos médicos do SUS em Caxias do Sul entrou na quarta semana e não tem prazo para terminar. A partir desta quinta-feira, a categoria garante que pelo menos 50% das equipes estarão atendendo nas unidades básicas de saúde (UBSs), no Centro Especializado de Saúde (CES) e no Cais Mental. São cerca de 170 profissionais. Os serviços de urgência e emergência são mantidos com equipes integrais. Pelo menos 12 mil pessoas foram afetadas com a paralisação até o momento.
– As escalas estão sendo fechadas. O padrão é: trabalha numa semana nas terças e quintas, e na outra nas segundas, quartas e sextas. Os grupos vão se alternar para garantir uma presença nas unidades de maneira adequada – explicou André Pormann, integrante da comissão de greve da categoria.
Os servidores devem entrar com ação judicial contra a prefeitura para exigir a devolução de cerca de R$ 400 mil descontados dos salários de quem aderiu à paralisação a partir de 17 de abril. Na última sexta-feira, a desembargadora Matilde Chabar Maia, da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça (TJ) do Estado, negou o pedido liminar do Executivo para que a greve fosse declarada ilegal e abusiva.
O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) havia definido, anteriormente, que a entidade legítima para representar os médicos na negociação sobre a paralisação é o Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv), e não o Sindicato dos Médicos ou a comissão formada por profissionais. Porém, a desembargadora teve outro entendimento. Se for confirmada pelo TJ a posição da juíza, a discussão deve parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ).