A defesa de Jeferson Rodrigo de Souza Bueno, acusado de atropelar três pessoas e matar uma delas na madrugada de 1º de janeiro deste ano nos Ingleses, em Florianópolis, vai mover uma ação indenizatória contra o Estado de Santa Catarina para "ressarcir" o motorista do Camaro denunciado à Justiça por homicídio doloso triplamente qualificado – com as agravantes de motivo fútil, perigo comum e meio que dificultou ou impossibilitou a defesa da vítima -, três tentativas de homicídio – com as mesmas três qualificadoras – e crime de omissão por fugir do local do crime sem prestar socorro às vítimas.
O advogado Ademir Costa Campana não revela o valor que será pedido no processo, mas adianta que supostos problemas de sinalização na rodovia SC-403, onde ocorreram os fatos, permitem a cobrança da indenização.
– Vou aditar uma ação de indenização contra o Estado de SC porque dois quilômetros antes do local onde ocorreu o acidente há uma placa de 80 km/h. O que isso presume: enquanto não houver outra placa, a velocidade indicada é 80. Mas sempre que há uma lombada, como no local, a lei determina a necessidade de haver placa indicativa de 30 km/h. E não tinha. Então vamos buscar reparos pelo que aconteceu. Assim como mostrar nossa homenagem às vítimas – afirma Campana, que não quis falar em valores da ação e se limitou a dizer que "a Justiça vai arbitrar" o valor da causa.
Mais de quatro meses depois de se envolver na morte de Cristiane Flores, 31 anos, e nos ferimentos graves de Nilandres Lodi, 36 anos, e Gean Matos, 22 anos, na última sexta-feira (20) Bueno enfim se apresentou à Justiça na Capital. Mas ele sabia que não ficaria preso, já que o pedido de prisão fora revogado em 26 de abril. Chegou ao Fórum de carro com um amigo vindo de Sapiranga, onde mora no Rio Grande do Sul. Entregou a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e ouviu do juiz Marcelo Volpato de Souza as restrições que terá de cumprir como medidas cautelares da suspensão do mandado de prisão que havia contra ele.
Em seguida, retornou para Sapiranga na carona. A fiança, estipulada inicialmente em R$ 140.550,00, o equivalente a 150 salários mínimos, foi diminuída pela metade e ficou em R$ 70.275,00 sob a alegação de que Bueno não teria pago o valor inicial por falta de condições. Campana diz que o valor foi pago, "com muita dificuldade", pela família do acusado, dona de uma empresa de produção de metais. Bueno, 29 anos, que é conhecido em Sapiranga como um dos donos da empresa deve voltar ao trabalho em poucos dias, explica o advogado. A reportagem tenta entrevistá-lo. O advogado, contudo, garante que ele "ainda está muito abalado com tudo que aconteceu".
– Na hora certa ele vai falar. Mas agora ele só quer retomar a vida. Vai voltar a trabalhar na empresa da família e provar que é inocente, e que o responsável pelo acidente foi o outro motorista.
Processos de indenização movidos por Campana e contra seu cliente
O pedido de indenização que Campana fará contra o Estado de SC não é o primeiro movido pelo advogado no caso Camaro. Em março, ele entrou com uma ação indenizatória contra Robson de Jesus Cordeiro, motorista de um Audi que também se envolveu no acidente ocorrido em Ingleses, norte da Ilha, nas primeiras horas de 2017.
No processo, Bueno pede indenização superior a R$ 200 mil a Cordeiro, que mora em Florianópolis e não foi indiciado pelo delegado Eduardo Matos, responsável pela investigação. Na ação também consta o nome de Valdir Luiz Vieira, cujo nome consta como proprietário do Audi no sistema do Detran.
O processo está em trâmite no Rio Grande do Sul. A ação proposta pelo advogado Ademir Costa Campana pleiteia o valor de R$ 206.492,00 para reparar seu cliente por supostos danos morais que teria sofrido devido à exposição na mídia e dentro da própria investigação, onde é apontado pela polícia e Ministério Público como responsável pelo acidente. O pleito indenizatório quer reaver também supostos prejuízos que o veículo do indiciado, o Camaro, teria sofrido após o acidente, já que o carro, além de bastante danificado, permanece retido em Santa Catarina.
Um dos sobreviventes do acidente, Gean Matos ingressou com uma ação contra o empresário de Sapiranga em que pede o pagamento de um salário mínimo – R$ 937 - por mês enquanto estiver impossibilitado de trabalhar. O pleito foi deferido em 1º grau e o pagamento deveria ter começado a ser feito em 10 de maio. Mas Campana afirma não ter conhecimento da decisão da Justiça e diz que vai analisar quando for notificado.
O acidente
Por volta de 3h do primeiro dia de 2017, Bueno atropelou Cristiane Flores, 31 anos, que morreu no local, o esposo dela, Nilandre Lodi, 36 anos, que teve as duas pernas amputadas, e Gean Mattos, 22 anos.
O motorista conduzia um Camaro com placas de Sapiranga, no Rio Grande do Sul (RS), onde mora e é sócio proprietário da JCR Metais, empresa especializada na produção de metais para segmentos como calçados e bolsas.
O carro invadiu a calçada em frente à loja RMS Auto Som, na rodovia Armando Cali Bulos. Nilandre era proprietário do estabelecimento e retornava com a esposa para a casa da família, que fica nos fundos do local. Lá, familiares e os filhos, uma menina de 13 anos e um menino de 5, os aguardavam.
Antes de atingir as três pessoas, o Camaro bateu em um Audi – que era conduzido por Robson de Jesus Cordeiro e está em nome de Valdir Luiz Vieira - e numa Hilux. Nilandre e Cristiane eram de Passo Fundo (RS) e estavam juntos há 8 anos, três deles morando em Florianópolis.