Além do caso de um jovem de 14 anos de Farroupilha que entrou no jogo Baleia Azul, relatado em reportagem do Pioneiro na última terça-feira, pelo menos outros dois foram confirmados e serão tratados na cidade da Serra. A coordenadora da Saúde Mental do município, Karen Letti, recebeu as informações do Conselho Tutelar e dará o encaminhamento médico nesta semana. Um dos adolescentes teria se mutilado.
Não há detalhes do estado de saúde deles e do nível de envolvimento no Baleia Azul. De acordo com o coordenador do Centro de Promoção à vida e Prevenção ao Suicídio do Hospital Mãe de Deus, Ricardo Nogueira, é fundamental que os pais olhem para os corpos dos filhos, inclusive as partes íntimas, pois a automutilação é um dos sintomas mais graves que antecedem um possível suicídio:
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– É preciso ver o corpo, olhar nos olhos, conversar, saber se está emagrecendo ou engordando, por que dorme tanto. Os pais, de forma geral, não cuidam mais dos filhos direito, não sabem o que eles fazem, não sabem o que eles compartilham na internet, não conhecem os seus corpos.
No dia 25 de maio, ele estará presente em uma palestra na Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Caxias do Sul para orientações sobre a prevenção do suicídio. Nogueira informa que na primeira semana de veiculação do seriado do Netflix 13 Reasons Why, cresceu em 110% o atendimento no centro que ele coordena no Mãe de Deus; na segunda semana, em 440%.
– Ficar falando do jogo é dar corda a uma coisa homicida, estimular é roleta russa. Os pais também estão cometendo outro crime, que se chama negligência – alerta Ricardo Nogueira.
No próximo sábado, das 9h às 12h, um evento gratuito abordará o tema na Associação Médica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. O seriado do Netflix e o jogo serão debatidos junto a esclarecimentos sobre como identificar comportamentos de risco. Uma das palestrantes, a psiquiatra Berenice Rheinheimer, que integra o Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, explica que a Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que a comunicação sobre o tema faz toda a diferença para evitar tragédias familiares:
– Há todo um trabalho da OMS para entrar no assunto de uma forma que não seja nociva. Quanto mais objetivo, melhor. Sem sensacionalismo, sem fotos, sem descrever métodos e sem detalhar casos.
Quem quiser participar da atividade na Capital pode entrar em contato pelo e-mailaprs@aprs.org.br, ou pelo telefone (51) 3024.4846.
Duas crianças e um adolescente tiraram a vida em Caxias
Pelo menos cinco adolescentes tentaram suicídio neste ano em Caxias do Sul, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, e um outro tirou a vida. Além deles, duas crianças cometeram suicídio em 2017. As estatísticas não cresceram em função do jogo e do seriado da Netflix, garante a diretora técnica da Saúde Mental, Vanice Fontanella, mas há uma preocupação grande em como abordar o assunto da forma correta entre o público jovem:
– Não há nenhum caso relacionado ao Baleia Azul em Caxias, mas há registro de adolescentes que já tentaram suicídio em outros momentos e hoje são atendidos na rede, que oferta atendimento psiquiátrico ou psicológico.
As estratégias que podem ser implantadas na rede pública caxiense sobre o tema estão em fase de discussão. Na próxima semana, por exemplo, secretarias municipais e coordenadorias estaduais de saúde e educação, além de profissionais da atenção básica e saúde mental, vão se reunir para elaborar ações em escolas e unidades de saúde que atinjam o público final.
CVV atende ao dobro de ligações neste mês
Importante aliado na prevenção ao suicídio, o Centro de Valorização da Vida (CVV) de Caxias do Sul recebeu o dobro de ligações desde o último mês. Chega a 250 o número de pessoas que procuram o serviço diariamente só em Caxias, segundo uma das coordenadoras do CVV, Andressa de Lima.
Algumas ligações configuram trote e dificultam o trabalho dos 40 voluntários que atuam hoje no centro. São atendidas ligações durante 24 horas, com sigilo completo.
– Não são adolescentes vítimas do jogo, mas pessoas que acabaram lendo sobre suicídio ou estão mais à vontade para falar em função da divulgação da Baleia Azul – afirma Andressa.
Ela acredita que o jogo seja uma ferramenta que potencializa a vontade já existente em crianças e jovens sobre o suicídio. Os sinais que devem ser observados em possíveis vítimas ou pessoas com depressão, como isolamento e diminuição do convívio social, devem ser avaliados com bastante compreensão.
– É preciso permitir o desabafo de quem está mal. E sem julgamentos ou avaliação da dor do outro. A partir daí, é possível ver a necessidade de ajuda especializa – aconselha ela.
Onde buscar ajuda
Centro de Valorização da Vida*
– Oferece ajuda por telefone, chat, skype, e-mail e presencialmente
– Telefone 188 (gratuito, apenas para o RS)
– Site: www.cvv.org.br
– Facebook.com/cvv141
*O CVV está recrutando voluntários que desejam atuar na unidade de Caxias. É preciso ter disponibilidade de quatro horas semanais e passar por cursos qualificatórios. Os interessados devem ligar para (54) 3534.8408 e deixar o nome e os contatos.