Poucos anos após figurar na lista de maiores bilionários do planeta, Eike Batista agora está na relação dos mais procurados pela Interpol. Nesta quinta-feira, a Polícia Federal (PF) tentou cumprir mandado de prisão preventiva contra o empresário brasileiro, envolvido em suspeita de pagamento de propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), mas não o encontrou em seu endereço. Segundo a defesa, Eike está em Nova York – teria embarcado na terça-feira à noite usando passaporte alemão – e deve se apresentar "em breve".
O ex-bilionário é o principal alvo da Operação Eficiência, nova fase da Lava-Jato no Rio de Janeiro deflagrada nesta quinta-feira e que tem como objetivo apurar benefícios a Cabral – Eficiência é o nome de uma conta do político em Nova York. Eike teria depositado US$ 16,5 milhões em contas no Exterior vinculadas ao ex-governador. O dinheiro seria uma espécie de "seguro" para os filhos, como o próprio Cabral teria afirmado ao fazer o pedido ao empresário na época em que disputava a reeleição, em 2010. Seria um pagamento pelo "conjunto da obra" dos auxílios do governo aos negócios do conglomerado das empresas X – a letra marcava o nome dos empreendimentos do empresário, a qual creditava o poder da multiplicação.
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A PF ficou cerca de quatro horas na casa de Eike no Jardim Botânico, zona sul do Rio, onde também cumpriu mandado de busca e apreensão. Nesta fase, a operação investiga crimes de lavagem de dinheiro e ocultação no Exterior de cerca de US$ 100 milhões em remessas contínuas de 2002 a 2007, afirmou o Ministério Público Federal (MPF). O esquema de lavagem de dinheiro teria envolvido até a compra de ações de Petrobras, Vale e Ambev na Bolsa de Nova York.
– O patrimônio da organização criminosa comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral é um oceano ainda não completamente mapeado – afirmou o procurador Leonardo Freitas, coordenador da Lava-Jato no Rio.
Segundo os procuradores, Eike é o "autor intelectual do ato de corrupção" de Cabral. Para pagar US$ 16,5 milhões ao ex-governador, o empresário teria utilizado uma empresa de fachada, a Arcádia, e a conta Golden, no Panamá, afirma o MPF. O pagamento teria ocorrido no Uruguai.
O inquérito aponta a participação de Flávio Godinho, sócio de Eike e vice-presidente de futebol do Flamengo, preso ontem. "Já em 2015, (Eike) determinou a Flávio Godinho a prática de ato de obstrução da investigação indicando fortemente sua recalcitrância na prática de atos criminosos de corrupção e lavagem", diz trecho do pedido dos procuradores.
Doleiros desmentiram defesa de ex-bilionário
Essa não é a primeira vez que Eike é envolvido na Lava-Jato. Ele já havia sido citado na Operação Calicute, que prendeu Cabral em novembro do ano passado por ter repassado R$ 1 milhão ao escritório de advocacia da ex-primeira-dama do Rio Adriana Ancelmo – presa desde dezembro, sob acusação de usar o escritório para movimentar a propina. Em depoimento espontâneo aos procuradores, Eike disse que esse pagamento se referia a um investimento orientado pela Caixa. De acordo com a força-tarefa, o banco negou ter sugerido a operação financeira. O relato de Eike também foi desmentido pelos delatores da Operação Eficiência, os irmãos Renato e Marcelo Chebar, operadores do mercado financeiro. Para os procuradores, o empresário não disse a verdade e seu envolvimento com a "organização criminosa" chefiada pelo peemedebista é maior.
Renato disse que, em 2010, foi procurado por aliados próximos do então governador Cabral – Carlos Miranda e Wilson Carlos – "sendo informado que deveria viabilizar o recebimento de US$ 16,5 milhões devidos por Eike Batista a Sérgio Cabral". O delator contou que "se dirigiu, ainda no ano de 2010, ao escritório de Eike Batista, localizado na Praia do Flamengo, acompanhado por Wilson Carlos, e foram recebidos por Flávio Godinho, responsável por toda engenharia financeira para viabilizar o pagamento".
Em 2016, Eike também depôs espontaneamente à força tarefa da Lava-Jato em Curitiba e seu testemunho resultou no pedido de prisão do ex-ministro dos governos petistas Guido Mantega. Eike afirmou que lhe foram pedidos R$ 5 milhões para o PT, em novembro de 2012. Sob orientação do partido, ele teria firmado contrato fraudulento com uma empresa do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura para realizar as transferências.
Os pagamentos teriam sido feitos no Exterior, num total de US$ 2,35 milhões.
Os alvos da Operação Eficiência
Eike Batista
O empresário não foi encontrado em sua residência durante o cumprimento de mandado de prisão preventiva. É suspeito do pagamento de propina no valor de US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
Flávio Godinho
Ex-braço direito de Eike, foi preso de forma preventiva acusado de lavar dinheiro no esquema de pagamentos a Cabral. É vice-presidente de futebol do Flamengo e já havia sofrido condução coercitiva durante a 34ª fase da Lava-Jato, em setembro de 2016.
Carlos Emanuel Miranda e Luiz Carlos Bezerra
Ex-assessores de Cabral, já estão presos e foram alvo de novos mandados.
Sergio de Castro Oliveira, Francisco Assis Neto e Alvaro José Galliez Novis
Alvos de mandado de prisão, são apontados como operadores do suposto esquema criminoso em favor de Cabral.
Sérgio Cabral
Apontado como beneficiário do esquema criminoso, o ex-governador já está preso desde novembro passado e recebeu novo mandado de prisão.
Thiago Aragão
Ex-sócio de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, teve prisão decretada.
Wilson Carlos Cordeiro Carvalho
Ex-secretário dos dois governos, braço direito de Cabral e preso desde novembro de 2016, teve novo mandado de prisão decretado.
Maurício de Oliveira Cabral Santos
Alvo de condução coercitiva, é irmão de Cabral. Seria destinatário de dinheiro em espécie do esquema criminoso.
Suzana Neves Cabral
Ex-mulher de Cabral, foi alvo de condução coercitiva e seria destinatária de dinheiro em espécie do esquema.
Contrapontos
O que diz Eike Batista
O advogado Sérgio Bermudes, que defende o empresário nas causas cíveis, afirmou que Eike viajou aos EUA para cuidar de um processo relacionado ao bloqueio de US$ 63 milhões em bens pela Justiça das Ilhas Cayman e que deve se entregar à polícia. Disse ainda que o cliente viajou outras vezes, nos últimos meses, e nunca se furtou a se apresentar às autoridades quando solicitado. A defesa não se posicionou sobre as acusações.
O que diz Suzana Neves Cabral
O advogado Sérgio Riera afirmou que ela "não sabia a origem" dos valores a ela repassados, que seriam uma espécie de pensão.
O que dizem os demais citados
As defesas não foram localizadas ou não quiseram comentar.