Mal tirou do forno o pacote de medidas para tentar estancar a crise financeira no Rio Grande do Sul, o governador José Ivo Sartori já enxergava, dos janelões do Palácio Piratini, o início dos protestos na Praça da Matriz, localizada em frente à sede do governo estadual e ao lado da Assembleia Legislativa, onde as propostas serão apreciadas. Nos próximos dias e até a data da votação em plenário, o que deve ocorrer em um mês, a promessa dos servidores é de resistir e trabalhar para derrubar as matérias. Talvez não todas, mas parte delas. Para isso, a pressão deverá vir das ruas e atingir, inclusive, os gabinetes dos deputados.
A manifestação desta terça-feira começou com uma vigília, ainda na madrugada, por um grupo de funcionários ligados à Fundação Piratini. O ato ganhou corpo pela manhã, com barracas. Dezenas de pessoas ergueram cartazes e faixas com mensagens de afronta ao governador. Uma delas questionava: "Sartori, e se fosse teu emprego?".
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Aos poucos, deputados, vereadores e outras lideranças políticas da oposição se juntaram ao protesto para aguardar a entrega do pacote de medidas, que se deu no início da tarde, mas sem a presença dos servidores, que não tiveram a entrada autorizada no parlamento. Quando o número de pessoas aumentou na Rua Duque de Caxias, que estava bloqueada para o trânsito e com gradis, começaram os pedidos de "Fora, Sartori". Nesse momento, a segurança foi reforçada com oito viaturas da Brigada Militar.
– Não discutiu, em nenhum momento, o tal do pacote. E agora apresenta para botar goela abaixo do Legislativo. Mas aqui há deputadas e deputados que têm outro tipo de compromisso. Compromisso real com a sociedade gaúcha, com os servidores que fazem andar essa máquina estatal, contra os privilégios – bradava o deputado Pedro Ruas (PSOL) em um microfone, cercado por dezenas de manifestantes, que o aplaudiam.
Por volta das 15h30min, o vice-governador José Paulo Cairoli (PSD), acompanhado do secretário-geral de Governo, Carlos Búrigo, e do líder do Piratini na Assembleia, deputado Gabriel Souza (PMDB), entregou as 40 medidas, que estão divididas em 16 projetos de lei e seis propostas de emenda à Constituição.
– Nós não temos plano B. Nós temos um projeto, que é esse que está aí. Qual o balão de ensaio que estamos usando? Não. Todos os projetos que estamos encaminhando são para serem aprovados – afirmou Cairoli à imprensa.
Depois de toda cerimônia e formalidade envolvendo as mais severas atitudes contra a crise na história recente do Estado, a mobilização do lado de fora da Assembleia foi se esvaindo lentamente. Porém, se depender da CUT-RS e do Cpers-Sindicato, engana-se quem pensa que a resistência perdeu força. Agora, começa uma nova fase: a negociação com deputados nos gabinetes para pressioná-los e derrotar o governo no plenário.
– Vamos procurar as bancadas, fazer reuniões com deputados e direções partidárias e dar um recado bem direto: queremos que votem contra o pacote. Todos os parlamentares que votarem a favor estarão diretamente associados ao Sartori e certamente ficarão marcados para 2018 – afirma a presidente do Cpers, Helenir Schürer.
Além da pressão interna na Assembleia, as categorias prejudicadas estão se organizando para um ato unificado na sexta-feira, convocado pela CUT, que, além de pedir a retirada do pacote, também se manifestará contra as recentes medidas do governo federal. O protesto está marcado para as 18h, na Esquina Democrática, e deverá percorrer as ruas de Porto Alegre, passando pelo Palácio Piratini.
*Zero Hora