Se na área urbana, a prioridade eleita pela maioria dos 41 bairros da cidade foi a infraestrutura viária, no interior do município não é diferente. Seja no distrito mais populoso, Boca do Monte, ou no maior em extensão territorial, Santa Flora, o desejo dos moradores é o mesmo: ter estradas em condições para trafegar e para escoar a produção pecuária e de grãos. Melhores serviços e iluminação pública também estão entre as reivindicações dos eleitores para que o próximo prefeito faça a diferença na área rural.
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Boca do Monte, com cerca de 5 mil habitantes, é maior que muitos municípios do Estado, como Dilermando de Aguiar, vizinho de Santa Maria, que tem 3,1 mil. O distrito tem escolas, posto de saúde, cartório, lojas de roupas e de materiais e insumos, fábricas (a maior delas, a KMW) e uma universidade, a Ulbra. As principais potencialidades são o cultivo de arroz e de soja e a pecuária (gado e ovelha). Mas as pessoas sofrem com a precariedade das estradas.
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Segundo o subprefeito, Élio de Oliveira Martins, 72 anos, são 200 quilômetros de acessos às pequenas propriedades. Na última terça-feira, duas máquinas da prefeitura trabalhavam recuperando estradas do distrito. A ação era reivindicada há meses.
Melhoria nas estradas também é a principal demanda de Santa Flora, maior distrito em extensão territorial da cidade (mais de 500 km²). A estrada principal tem 42 quilômetros e liga Santa Maria a São Gabriel. Somando os acessos, são mais de 220 quilômetros de vias de chão batido com tráfego pesado de bitrens e rodotrens o ano inteiro – colheita de grãos de fevereiro a maio, transporte de gado no inverno e de insumos como adubo e calcário na primavera. A carga de um caminhão pode chegar a 70 toneladas. A maior dificuldade, assim como em Boca do Monte, é conseguir empedrar os acessos, devido ao custo da compra de pedra.
– Quando chove é horrível. Quase caí de moto esses tempos no atoleiro – lamentou a dona de casa Patrícia Onório Carvalho, 29 anos, em Santa Flora.
Faltam prestadores de serviços
A proximidade de alguns distritos com a área urbana e a falta de serviços locais faz com que grande parte dos moradores desenvolvam as suas atividades e consumam na cidade. Arroio Grande, a Leste do município, é um exemplo. Além das plantações de arroz, é a produção de facas a principal fonte geradora de empregos no distrito.
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Quem mora por lá, como a dona Niura Del Fabro, 73, queria que houvesse pelo menos uma farmácia e uma padaria no lugar.Abrir um desses negócios é justamente o sonho do seu José Darcy Serdoti, 53. Todos os dias ele sai do bairro Tancredo Neves, onde mora, na região oeste de Santa Maria, às 5h, e vai até Arroio Grande, onde trabalha como gerente de produção em uma fábrica de facas. E o que falta para ele realizar o sonho?
– Estou pesquisando para ver quanto custa. Mas se tivesse um incentivo da prefeitura seria bom. Poderia mudar para cá (distrito), acordaria no mesmo horário para dar a largada à padaria, e teria um empregado para cuidar do estabelecimento no restante do dia enquanto estou na fábrica – disse Serdoti.
Os moradores de Santa Flora precisam percorrer distância ainda maior para chegar a um centro de compras. São quase 30 quilômetros – 19 deles de estrada de chão – da sede do distrito até o bairro Tomazetti.
Mesmo estando no campo da iniciativa privada, cabe ao prefeito desenvolver políticas de incentivo e fomentar negócios para promover o desenvolvimento econômico do município como um todo, parte urbana e rural.
O porta-voz das demandas do interior
Entre o desejo dos moradores e a execução das melhorias uma pessoa tem papel muito importante: o subprefeito. É ele o porta-voz da comunidade junto ao poder executivo. Mas, de forma geral, nas últimas administrações municipais, os subprefeitos têm enfrentado dificuldade para conseguir atender às reivindicações dos moradores.
Sem máquinas destinadas apenas para atuar no interior e sem orçamento próprio, as subprefeituras têm de contar com a disponibilidade do maquinário da prefeitura que atende também a área urbana. Por isso, a manutenção das estradas que, em um cenário ideal, deveria ser feita de dois em dois meses, acaba levando mais de um ano para acontecer em alguns locais. Além disso, muitos subprefeitos usam veículo próprio e pagam do bolso o combustível necessário para percorrer as vastas áreas rurais.
Eleitorado restrito
A representatividade em número de eleitores é relativamente pequena nos nove distritos da cidade. O Diário solicitou os dados oficiais junto ao Tribunal Regional Eleitoral, mas até o fechamento desta edição não recebeu retorno.
Neste ano, são estimados 7,5 mil votantes em oito distritos, pelos dados fornecidos pelas subprefeituras. Uma não soube informar. Os oito distritos que informaram detém 3,7% dos 203 mil eleitores do município. Em 2012, eram 10.033 eleitores nos nove distritos, 5,1% do total de Santa Maria.