No dia em que a população receava não ver policiais na rua em razão da mobilização de servidores estaduais contra o parcelamento de salários, quem circulou por cidades como Porto Alegre surpreendeu-se com a presença de tropas da Brigada Militar.
Para garantir o policiamento, o comando da corporação colocou em prática nesta quinta-feira uma estratégia que combinou a concentração de efetivos e viaturas fora dos quartéis, antecipação de horários, pagamento de horas-extras e reuniões para tentar sensibilizar os policiais. O temor de que serviços como bancos e transporte público não funcionariam não se confirmou, o comércio abriu e não foram registrados grandes transtornos ao longo do dia.
Os detalhes da operação para garantir PMs nas ruas foram fechados na véspera da mobilização, e um resumo das medidas foi apresentado em reunião com o governador e representantes da Secretaria da Segurança Pública e do Piratini na tarde de quarta-feira. Para garantir sigilo, os pormenores foram comunicados a Sartori pela cúpula da corporação em conversa reservada. O principal eixo do plano foi evitar que o efetivo fosse detido nos quartéis por bloqueios de familiares, a exemplo do que ocorreu em 2015.
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Na Capital, cerca de uma centena de policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOE) e da PMs operação Avante dormiram na Arena, para onde também foram deslocadas viaturas. O Estádio Beira-Rio foi outro local de concentração de veículos, entre outros pontos da cidade, de onde saíram para o policiamento ostensivo. No caso dos brigadianos que dormiram em suas casas, o local da troca de turno foi transferido dos quartéis para as áreas de patrulha.
Uma terceira providência foi antecipar o horário de trabalho do turno da manhã. Policiais que normalmente se apresentariam às 7h ou às 8h, por exemplo, foram puxados para as 4h. A principal razão para isso foi aumentar em 35% o efetivo desde cedo e criar um efeito psicológico de segurança – reforçado pelo sobrevoo de helicópteros da corporação em Porto Alegre, na Região Metropolitana e em Caxias do Sul.
– Antecipamos os turnos para que, ao acordar, o cidadão recebesse as primeiras notícias e se tranquilizasse. Nossa intenção foi dar segurança à população, não esvaziar as mobilizações – afirma o subcomandante da BM, coronel Andreis Dal'Lago.
Para não faltarem policiais à tarde, foi autorizado o pagamento de horas-extras. O esforço foi ironizado pelo presidente da Abamf, entidade que representa os PMs de nível médio, Leonel Lucas:
– Seria bom que o efetivo estivesse sempre com 35% a mais. Como é apenas em um dia, suspeitamos de que fizeram isso apenas para abafar a manifestação.
O comando da BM argumenta que antecipações de horário e pagamentos de horas-extras não são viáveis de forma permanente pelo custo e desgaste. Em reunião realizada na quarta-feira, a cúpula da BM ainda orientou os comandantes dos principais batalhões metropolitanos a sensibilizar os policiais sobre a importância de se apresentar para o trabalho.
A população percebeu a presença dos policiais, mas isso não evitou que algumas pessoas tenham evitado sair à rua.
– Vi mais (policiais) aqui no Centro e na Zona Sul. Já o ônibus, o Restinga Nova Rápida, estava vazio às 7h55min – contou a auxiliar de loja Daiany Pires, 31 anos, enquanto aguardava a abertura de uma agência bancária na Praça Montevidéu, na Capital. A abertura dos bancos foi liberada pela Justiça durante a madrugada, que concedeu a cada agência a decisão sobre funcionar ou não.
Muitas escolas públicas não tiveram aulas na Capital, mas a maior parte da rede particular abriu as portas. A circulação dos ônibus foi outro fator importante para ampliar o clima de normalidade em Porto Alegre no dia de mobilizações em que, curiosamente, a Brigada Militar esteve mais presente nas ruas do que o normal.