A Polícia Civil ouviu na noite de sexta-feira um jovem que admite ser responsável pela divulgação, na internet, das imagens da adolescente que denunciou ter sido vítima de estupro coletivo no Rio. Identificado como Raí de Souza, o rapaz, de 22 anos, não estava entre os suspeitos identificados até então pela polícia como envolvidos no caso. As informações são do site G1.
– A versão dele aponta que ele filmou e que quando ele comenta que 'trinta passaram aqui', que estava fazendo referência a um funk – resumiu o delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), que investiga o caso.
Raí compareceu à Cidade da Polícia juntamente com Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, jogador de futebol que a adolescente disse à polícia ser seu namorado e com quem ela teria saído na noite anterior ao ocorrido. Segundo o delegado, Lucas negou namorar a garota e Raí foi quem assumiu ter tido relações sexuais com ela.
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Raí, que chegou na delegacia acenando para fotógrafos e cinegrafistas, ironizando a "fama" do amigo Lucas, não quis falar com a imprensa. Seu advogado, Claúdio Lúcio, confirmou que ele admitiu ser autor das imagens, mas negou que tenha ocorrido estupro.
– Ele falou o quê tá lá no depoimento dele, que ele realmente tinha filmado, que ele tava falando que 'é dos 30', tentando se vangloriar, mas que realmente não foi ele. Que não houve estupro, houve um ato sim, permitido pela suposta vítima – falou o advogado.
O advogado que representa Lucas, Eduardo Antunes, também negou que tenha ocorrido estupro. Questionado sobre a citação no vídeo divulgado com as imagens da vítima nua e desacordada de que 30 homens teriam praticado ato sexual com ela, ele também disse se tratar de uma menção a uma música conhecida na comunidade onde o caso ocorreu.
– A questão dos 30 foi que existe um rap conhecido na comunidade que exalta um dos personagens lá do local dizendo que 'o fulano é o cara, engravidou mais de 30'. Foi isso que me foi passado, eu não conheço o teor da música – disse Eduardo.
Além de Raí e Lucas, o delegado Alessandro Thiers ouviu nesta sexta-feira uma garota que disse ter se relacionado sexualmente com Lucas na mesma noite e no mesmo local onde a adolescente e Raí mantiveram relações sexuais. O imóvel, que segundo o delegado é denominado como "abatedouro" (lugar usado para sexo), localizado na comunidade do Morro do Barão, na Zona Oeste do Rio, foi periciado após operação policial na tarde desta sexta.
O crime
O crime ocorreu no sábado, 21 de maio. Em depoimento à polícia, a adolescente disse que foi até a casa de um rapaz com quem se relacionava há três anos. Ela disse aos policiais recordar que estava a sós na casa dele e, depois, só se lembra que acordou no domingo, em uma outra casa, na mesma comunidade, cercada por 33 homens armados com fuzis e pistolas. Ela destacou que estava dopada e nua.
A jovem contou aos investigadores que foi para casa de táxi na terça-feira. Ela admitiu que faz uso de drogas, mas afirmou que não utilizou nenhum entorpecente no sábado.
O delegado informa que mais três pessoas serão ouvidas na próxima semana para ajudar a polícia a esclarecer o caso. O policial, no entanto, não disse qual seria o envolvimento dessas três pessoas e enfatizou o empenho das investigações para elucidar o estupro coletivo. Em coletiva realizada sexta-feira o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, afirmou haver "indícios veementes" de que houve estupro.
– Há indícios, veementes, de que de fato houve. Mas a polícia pode afirmar e assinar um documento dizendo que houve? Ainda não. Precisa de um resultado de um laudo, precisa do confronto do laudo com outros depoimentos que ainda não aconteceram. A presunção da polícia não se baseia em 'ouvi dizer'.